A sombra e seu poder em traçar destinos
A sombra e seu poder em traçar destinos>> A sombra esteve em pauta em todos os contos de fadas, assim como, nas histórias de um modo geral.
Ao recordarmos das histórias de nossa infância, somos instados a pensar sempre na existência da Bruxa e da madrasta má.
Branca de Neve foi levada a comer a maçã envenenada, enquanto que, Cinderela, é tratada como Borralheira pela invejosa madrasta e suas duas filhas.
fato é que, o herói, continuamente, é obrigado a se defrontar com algum poder maligno.
No entanto, em todas essas histórias vemos que é a sombra, o poder do mal, que incita os personagens principais a se transformarem de humanos sem contorno definido e inconscientes, em verdadeiros heróis.
Parece que também, em nossas vidas, somos levados sempre a acordar depois que a porta foi arrombada, o selo foi rompido, o vaso foi quebrado.
É raro acordarmos sozinhos
A sombra que nos contos de fadas aparece projetada na figura da bruxa ou madrasta má, na verdade está em nós, é a nossa fração negligenciada, castrada, atrofiada.
Diante de nossa preocupação em construirmos uma personalidade reluzente, comumente nos livramos de aspectos fundamentais de nossa personalidade.
Aspectos esses que teriam como função nos levar ao crescimento.
Não crescemos vivendo como anjinhos e buscando o não reconhecimento de nosso lado de sombra.
O crescimento muitas vezes é decorrente de algum ato de rebeldia.
É a nossa rebeldia que nos leva pela senda da consciência
Adão e Eva precisaram comer o fruto proibido para que saíssem de sua inconsciência ourobórica.
Da mesma forma, Prometeu precisou enganar os deuses roubando o fogo e entregando aos humanos, para que pudéssemos ousar almejar a consciência.
Nosso lado sombrio pode ser reprimido e fechado numa gaveta durante muitos anos, e podemos recusar-nos a vê-lo, por medo de cairmos em depressão.
Entretanto, isso significaria recusar-nos a dar à parte renegada da personalidade a atenção necessária a fim de escapar ao sofrimento que fatalmente virá.
A sombra deve sempre ser encarada e assimilada
É perigoso negligenciar o poder da sombra, empurrando-a para o inconsciente.
Se persistimos numa maneira de agir de maneira discordante dela, podemos experimentar o lado escuro do si-mesmo, e sermos nossas própria vítimas.
Existem ditados populares bastante conhecidos de todos e que consistem em afirmações do tipo: “quem cospe para cima, o cuspe acaba por cair na cara”, ou ainda “cuidado que o telhado é de vidro.
Esses ditados de um modo geral, buscam nos alertar sobre nossa sombra e sobre a possibilidade dela se manifestar, à revelia.
Me recordo da história de uma pessoa amiga, muito bem intencionada e, que buscava à duras penas manter seu casamento em total harmonia, conquanto, para isso se esforçava por ser uma mãe e mulher perfeita.
Certa vez, dois casais amigos, viveram uma situação dramática, ambos os casais se separaram, pois um dos homens havia se apaixonado pela mulher do outro e vice-versa.
Essa amiga ficou chocada a tal ponto, que a impressão que dava a todos era de que o drama maior acontecera em sua casa.
Ela não aceitava de nenhuma maneira a situação.
Uma amiga em comum, bem mais velha, citou esses dois ditados, que foram escutados parcialmente.
Muito anos se passaram, o casamento de minha amiga se transformou num verdadeiro tormento, e ela segue na firme disposição de mantê-lo em harmonia.
Vivia uma verdadeira castração emocional, mas seguia determinada a se sacrificar pelos filhos.
Acontece então o impensável em sua vida, ela se apaixona pelo marido de sua melhor amiga e ele também.
Creio que não é preciso descrever o desespero dessa mulher.
Bom, mas o que isso quer significar é que não podemos fazer pactos com a consciência, se o inconsciente não estiver em harmonia com a determinação consciente.
Temos que nos enxergar em nossa totalidade, ou então jamais seremos capazes de nos conhecer integralmente
O que minha amiga havia esquecido é que havia nela uma mulher viva, inteira, sexualmente em pleno vigor, e que ela buscava por todos os meios esquecer.
Estava determinada a ser “boa”, “clara”, “luminosa”.
Essa outra mulher à revelia, reivindicou a sua fatia de bolo, e exigiu sua participação na consciência.
É muito frequente durante trânsitos de Plutão, sermos convocados a enfrentar essa parte sombria de nossa natureza.
Plutão nos obriga um movimento para baixo para o interior e um processo de reconhecimento de nós mesmos, em nossa própria nudez.
Minha amiga vivia um trânsito plutão-Lua, Plutão-Vênus.
No mito, Inanna, a deusa alegre da Suméria, vai visitar Ereshkigal, a deusa do sub-mundo. Nessa descida, é obrigada a atravessar sete portões e deixar em cada um deles uma parte de suas vestes e adornos.
Aí então, a deusa é obrigada a se apresentar a Ereshkigal nua e na posição fetal, posição essa que era usada na Suméria para se enterrar os mortos.
Inanna, desce então ao Hades sumeriano, e enfrenta o lado sombrio do feminino na figura de Ereshkigal.
Volta transformada, tal qual cada um de nós é transformado após um trânsito de Plutão.
Temos acima de tudo, cada um de nós, que nos conscientizarmos de nossa própria humanidade, fugir a isso é um ato de arrogância e, um crime dessa natureza, os deuses punem com a morte.
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