A PROSTITUIÇÃO SAGRADA NO EGITO

PROSTITUIÇÃO SAGRADA NO EGITO – EM BUSCA DO PHALLUS PERDIDO>> As informações sobre a prostituição ritual no Egito são escassas.

Mas, obtivemos muitas informações através dos testemunhos de geógrafos e historiadores da antiguidade.

Esses historiadores, relatam, invariavelmente, os vestígios de sua incontestável existência nesse país cortado em toda sua extensão pelo famoso rio Nilo.

Especialmente uma deusa do panteão egípcio estava indissoluvelmente associada à prostituição cultual, prostituição sagrada, que difere, entretanto, da prostituição tal como a conhecemos.

Ísis-Háthor e suas sacerdotisas

Ísis-Háthor, assim como as suas sacerdotisas, encarnavam em seu templo a prática erótica celestial, recebendo qualquer homem que lhes procurassem.

Plutarco nos relata aspectos do mito de Ísis e Osíris. Osíris, no passado fora rei dos vivos, entretanto, seu irmão Seth o matou cortando seu corpo em pedaços bem pequenos e os espalhando por todo o Egito.

Entretanto, Ísis, sua mulher, pacientemente recolheu parte por parte do corpo esquartejado, porém,  não encontrando o pênis do marido.

Seu pênis, então, foi substituído por uma cópia e, imediatamente, entronizado como phallus ritual.

A partir daí, anualmente, os egípcios celebravam este momento com grandes festivais.

A prostituição e o incesto divino

Contudo, Osiris não era apenas o marido de Ísis, mas, também, o seu próprio filho.

O tema do “incesto divino” está presente em quase todas as religiões.

Portanto, na Suméria, temos Inanna e Dummuzi, enquanto que na Babilônia, haviam Ishtar e Tammuz; na Lídia, Cibele e Átis; assim como, na Grécia, Afrodite e Eros.

No Egito faraônico, a família real, também nos fornece alguns exemplos.

Ramsés II casou-se com sua filha.

O faraó Seneferu do Antigo Império também teve filhos com sua filha, e o mesmo aconteceu com Akhnaton.

Falava-se, também, dos desejos do faraó Miquerinos pela própria filha.

Essas uniões são chamadas de hierogamos, isto é, casamento sagrado,  a culminância da fertilidade divina encarnada sob a forma erótica terrena.

Assim, as sacerdotisas de Ísis, em meio a festejos, danças e regozijos, se uniam sexualmente a homens e, através desse ato, propiciavam a fertilidade da terra.

Através desta cópula sagrada, estava garantido o bem estar de todo o povo.

É o rito sexual vivido como sacramento da continuidade da vida.

O LADO SOMBRIO DE ÍSIS

Ísis, como aquela que protege a fertilidade, assim como, a maternidade e o prazer sexual, pode ser considerada uma entidade arquetípica de um aspecto sombrio

Certa feita,  busca abrigo em sua fiéis e é recusada.

O seguinte relato revela o aspecto noturno da deusa.

Como forasteira, chega à casa de uma prostituta e pede hospedagem para aquela noite.

A dona da casa lhe fecha a porta, mas os sete escorpiões que eram seus companheiros se aborrecem com a indiferença da rameira, e decidem transferir todo o seu veneno para um único escorpião, Tefenet.

Uma outra rameira que observava tudo decide abrir a porta para Ísis desconhecendo completamente sua verdadeira identidade.

Mas, Tefenet, já havia se arrastado por dentro da casa e picado o filho da prostituta que lhe havia negado acomodação.

Naquele mesmo instante um clarão de fogo tomou toda a casa e por mais que os céus mandassem chuva para aplacar o incêndio nada o extinguia.

A MULHER GATO

Contudo, fala-se também, de uma deusa-gato chamada Bastet. Ela tinha seu santuário mais importante na cidade de Bubastis.

Seu ritual reunia grande quantidade de homens e mulheres. Em barcaças desciam o rio e festejavam a grande deusa.

Elas tocavam chocalhos e apitos e formavam uma grande confusão. Era uma espécie de carnaval.

Nesse trajeto, antes de chegar ao santuário da deusa-gato, e sempre que se aproximavam de alguma cidade ribeirinha, conduziam suas embarcações até a margem.

Algumas mulheres gritavam, zombando daquelas que viviam ali,  enquanto que outras dançavam, e as restantes se exibiam.

Finalmente, quando chegavam ao templo de Bastet, realizavam grandes sacrifícios e bebiam mais vinho na festa do que durante todo o ano.

Em um mundo como o nosso, onde a sexualidade tornou-se negativamente demoníaca, é interessante registrar, que a concepção religiosa egípcia, incluía necessidades sexuais não só para os homens mas, também, para os deuses.

Encontramos na cosmogonia egípcia, práticas essencialmente humanas eram emprestadas às divindades.

A distância entre homens e deuses era mínima para este povo de atitude bastante liberal frente à esta delicada questão.

Uma de suas lendas conta, como o deus da criação engendra o mundo a partir de suas próprias mãos, masturbando-se.

Em outro papiro descoberto pela arqueologia, é possível encontrar uma variação desta narrativa. Aqui, o deus masturba-se com sua própria boca.

AS HIERÓDULAS: AS ESCRAVAS SAGRADAS

Escavações feitas na cidade de Deir el-Medina encontraram documentos falando de mulheres que não eram nem esposas, nem mães, mas pertenciam “aos outros”.

Esta cidade era basicamente formada por pedreiros e artistas que decoravam os túmulos do Vales dos Reis.

Heródoto descreve diferentes graus hierárquicos para as sacerdotisas do templo.

Algumas recebiam o título de “esposas-do-deus”, outras eram chamadas de “mãe-do-deus”.

Mas, é o geógrafo Estrabão que, em 25 a.C., visitando o Egito, obteve informações precisas sobre a natureza cultual da prostituição sacerdotal.

Porquanto, ele conta que a mais bela moça de família mais ilustre era consagrada ao grande deus Amon.

Ela se tornava prostituta, e mantinha relação sexual com qualquer pessoa que a desejasse.

Quando, finalmente, menstruava, encontrava-se preparada para o casamento e abandonava o rito.

Conta-se também, que o faraó Rhampsinitus, considerado como encarnação do deus, oferecia sua filha num dos quartos de seu palácio a qualquer um que chegasse.

Mas antes de manter relações sexuais com o estrangeiro, ela teria que induzir-lhe a contar qual teria sido seu maior crime, assim como, o mais inteligente truque já aplicado.

As pedras que construíram a pirâmide de Quéops, têm igualmente a sua origem na prostituição de sua própria filha.

Este grande faraó pôs sua filha à disposição dos homens que para demonstrarem gratidão ao pai, deveriam dar-lhe uma pedra de presente.

Assim foi construída a maior de todas as pirâmides!!

Ápis o touro sagrado

Diodoro, um outro historiador que visitou o Egito em 60-70 a.C., descreve a atitude habitual das mulheres frente à entronização do touro sagrado Ápis.

Diz ele, que elas colocavam o deus numa barcaça e o levavam até o santuário de Hefaístos, em Mênfis e, durante quarenta dias, somente as mulheres poderiam vê-lo.

Elas se punham de pé frente a ele, e levantam suas roupas mostrando-lhes suas genitálias.

Este gesto era considerado revigorador da potência sexual do deus.

Por esta época, parece ter sido um tanto usual a prática sexual com animais.

Na província de Mendes, uma mulher mantinha relações sexuais publicamente com um bode.

Era uma união sagrada, uma vez que, nesta localidade, o bode (Dioniso) era tido como animal sagrado.
O livro de sonhos dos Egípcios fala de várias combinações de animais com homens.

O universo erótico dos egípcios era de tal forma vivo, que havia entre eles uma crença geral, de que uma pessoa mesmo depois de falecida, mantinha a sua potência sexual.

Esta ideia se associava ao deus Osiris que, após sua morte, ainda foi capaz de gerar um herdeiro.

A potência sexual do morto poderia reencarnar, por exemplo, num pássaro, e assim realizar seus desejos.

Já a homossexualidade era considerada uma prática reprovável, mas, o mesmo não ocorria com a fidelidade masculina ou feminina.

Era permitido ao homem ter concubinas, e no reinado de Amenófis III, a poligamia foi largamente praticada.

A INFIDELIDADE DA MULHER EGÍPCIA

Uma história particularmente engraçada fala da atitude um tanto liberal dos Egípcios frente à infidelidade feminina.

O filho de Ramsés II se encontrava cego há 10 anos, e decidiu consultar o oráculo de Buto para saber quando teria fim aquela desgraça que se abatera sobre ele.

O oráculo lhe respondeu que recobraria novamente a visão logo que lavasse os seus olhos no fluxo menstrual de uma mulher que nunca tivera relação sexual com outro homem a não ser com seu próprio marido.

Pheros, pensando que facilmente recobraria a visão, mandou chamar imediatamente sua esposa e lavou os olhos com seu sangue menstrual. Esperou… nada. Continuava cego.

Ordenou aos seus guardas que trouxessem à sua presença, todo e qualquer tipo de mulher.
Centenas de mulheres são recrutadas e, depois de tanto lavar seus olhos com os fluxos menstruais, por fim, encontrou uma que lhe devolveu a visão.

A PROSTITUIÇÃO SAGRADA E O NOVO ROSTO DO CRISTIANISMO

Creio que para o homem cristianizado, estas imagens se apresentam extremamente provocantes e perturbadoras.

O Deus que impera no Ocidente foi apresentado pela ortodoxia como assexuado.

Era semelhante a nós em tudo, menos, no pecado.

E pecado aqui tem um endereço, uma direção. Trata-se da sexualidade e de todo universo simbólico que produz em nossas vidas.

Jesus, homem-Deus, como qualquer outra narrativa mítica tem pai divino, mãe humana, porém virgem, realiza vários feitos sobrenaturais, sofre, é morto e finalmente ressuscita.

Este ciclo é tipicamente heroico, mas a tradição excluiu o elemento sensual de sua trajetória.

Este dado, entretanto, não ficou de todo perdido. Uma outra fonte, hoje cada vez mais respeitada, se levanta e ganha força.

A leitura dos textos canônicos neo-testamentário e dessa rica literatura apócrifa descoberta, formam um conjunto de proporções extraordinárias porque exibem uma nova fisionomia para Jesus.

A biografia daí resultante aproxima os elementos humanos comuns entre nós e o Deus.

crédito de imagem destacada: www.stohler-art.ch



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José Raimundo Gomes

J. R.GOMES é psicólogo clínico no Rio de Janeiro. Tem consultório na Tijuca e na Barra. Contato: jrgomespsi@yahoo.com.br / WhatsApp: 21.98753.0356

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