Profissionalismo x amadorismo: uma mera questão de profissão

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Poucas coisas me irritam mais no universo fotográfico que assistir fabricantes de equipamentos fotográficos classificarem suas câmeras como “amadoras”, “semi-profissionais” e “profissionais”.
Profissionalismo x amadorismo,
Profissionalismo x amadorismo,
Primeiro motivo: qualquer câmera DSLR de hoje é, sem exagero algum, cem vezes melhor do que todas as câmeras usadas por mestres como Fan Ho, Capa, Brassai e Cartier-Bresson, cujos trabalhos fizeram história.
Segundo motivo: a classificação de equipamentos em “amadores” e “profissionais” torna o uso desta terminologia ainda mais distorcido do que já é; associar a qualidade da produção de um fotógrafo com o fato deste ser amador ou profissional é erro grave. Amador é aquele que fotografa por prazer e profissional é aquele que fotografa para ganhar a vida, não há conotação qualitativa no uso destas palavras. É mera questão de profissão. Conheço amadores muito melhores que diversos profissionais.
Terceiro e último motivo: o uso desta terminologia como argumento de venda de equipamentos cada vez mais caros e cada vez com menos novidades tecnológicas efetivas. A cada ano que passa os equipamentos “profissionais” apresentam mais e mais novidades supérfluas que não mudam em praticamente nada o resultado fotográfico final. É mera enganação travestida de inovação – como aliás acontece em quase toda a indústria de eletrônicos do planeta.
Quem tem obsessão por equipamentos parece se esquecer que fotografar é uma expressão inequívoca do olhar; câmeras, lentes, flashes e demais acessórios são meras ferramentas de captação da sensibilidade humana.
E apenas isso.
Se você pretende fotografar, invista no estudo da filosofia da fotografia, da história da fotografia, dos trabalhos dos grandes mestres e da técnica fotográfica. Guarde sua menor verba para equipamentos. Assim você balanceará seu investimento de acordo com a importância para sua produção fotográfica – seja amadora, seja profissional. Avente comprar equipamentos caros somente depois de muita estrada percorrida.
Comprei minha primeira câmera full frame “profissional” (argh!) com quarenta e sete anos de idade e mais de vinte e cinco de fotografia. E isso, ainda que aumente relativamente minhas possibilidades técnicas, não melhorou nem piorou minha produção fotográfica.
Não existem talento e dedicação amadores ou talento e dedicação profissionais. Apenas talento e dedicação.
Será que o leitor conseguiria distinguir qual das duas fotos abaixo foi feita com uma câmera que custa um carro zero, acompanhada de uma lente que custa uma motocicleta e qual foi feita com uma câmera e uma lente que somadas não custam mil reais?
E então? Qual será a foto “coxinha” e a foto “proletária”??
Nesse aspecto a fotografia e outras ações sociais humanas – como a política – se parecem muito: para a maioria é mais importante parecer ser consistente do que ser efetivamente consistente.
(em tempo: a foto “coxinha” é a do homem caminhando em São João del Rei e a foto “proletária” é a do ocaso em Porto de Galinhas, o que não deixa de representar uma inversão entre forma e conteúdo!)




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Alexandre Périgo

Mais um em meio à multidão. alexandreperigo@uol.com.br

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