Apopocuvas-guaranis em Busca da Felicidade

Apopocuvas-guaranis em Busca da Felicidade>> Foi o entnólogo brasileiro Kurt Nimuendaju que em 1912, numa expedição,  encontrou um grupo de índios guaranis ali parados.

Durante semanas, eles dançaram incansavelmente na esperança de que seus corpos se tornassem cada vez mais leves.

Suas expectativas eram de que em dado momento, fossem capazes de voar até o céu, para a casa da “Nossa Avó”.

Ela esperava pelos seus filhos no Oriente.

Nimuendaju presenciou esses rituais e, portanto, ficou muito impressionado com o mundo mítico espiritual dos apopocuvas-guaranis.

Apopocuvas-guaranis e seu desapontamento

Desapontados, porque seus corpos não levitavam em direção aos céus, mas com a fé inabalável, regressaram para o ponto de onde partiram em busca da “Terra-sem-Mal”.

Seguramente, estavam convencidos das causas do fracasso de seu ritual.

Concluíram  que o ritual de libertação total das misérias humanas falhou tanto pelas roupas européias que vestiam, quanto pela qualidade do alimento que ingeriam.

Seus corpos estavam pesados demais para ascensão.

Apopocuvas-guaranis e a busca que durou séculos

Entretanto, esta busca do “Paraíso Perdido”, se estendeu por séculos na tradição deste grupo.

Etnólogos registraram que a primeira tentativa dos índios de encontrarem o que eles chamavam de “País Amado” data do século XVI.

Porém, foi entre 1539 e 1549 que ocorreu uma grande migração do grupo Tupinambá em direção a terra do “Grande Antepassado”.

Apopocuvas-guaranis e sua saída de Pernambuco

Conquanto saíram de Pernambuco, atravessaram todo o continente sul-americano no seu ponto mais distante. Finalmente, chegaram ao Peru onde encontraram alguns conquistadores espanhóis.

Então, narraram aos europeus histórias maravilhosas de cidades cheias de ouro.

Decerto, os espanhóis não perderam tempo.

Liderados por um homem chamado Pedro Ursua, o conquistador do Eldorado, eles também empreenderam uma infortunada jornada em busca da mesma quimera que os unia aos índios.

A diferença consistia no fato de que enquanto os índios aspiravam a felicidade eterna também chamava de “Terra da Imortalidade e do Repouso Eterno”.

Enquanto os espanhóis procuravam adquirir os meios para uma felicidade transitória.

De fato, O ouro material era no que consistia a felicidade e o bem estar do europeu.

Apopocuvas-guaranis e O FIM DO MUNDO

Todavia, na mitologia das tribos Guaranis existe a tradição de que um fogo ou um dilúvio destruiu por completo o mundo anterior e que catástrofes futuras se abaterão sobre ele.

Ainda assim, essa expectativa de um fim cataclismático não é constante nas diversas tribos guaranis. Ademais, a gramática das respectivas línguas não faz distinção entre passado e futuro.

Um mito Tukuna afirma, por exemplo, que a destruição final do mundo será um feito do próprio herói civilizador, ofendido com as mudanças das tradições tribais.

Enquanto que oss Mbuas esperam um dilúvio iminente, um incêndio de proporções cósmicas ou ainda, temem que as trevas se abatam sobre a terra por tempo indefinido.

Por outro lado, os Nandevas acreditam que o mundo se extinguirá por uma explosão da terra que, para eles, tem a forma de disco.

Já os Kaivós imaginam que o fim do mundo será provocado por monstros de proporções descomunais.

Apopocuvas-guaranis e a busca do homem por felicidade eterna

Todos estes exemplos evidenciam a busca do homem por sua felicidade eterna.

O próprio sentido das migrações relaciona-se diretamente com a esperança de encontrar a Terra-sem-Mal antes do grande apocalipse.

Alí, não haverá medo e seus habitantes não conhecerão a fome, a doença nem a morte.

É importante notar, que o Fim do Mundo anunciado pelos Guaranis tanto se distingue das noções do judaísmo, quanto das do cristianismo sobre o mesmo fenômeno.

O mundo não perecerá por causa dos pecados da humanidade. Ele simplesmente está cansado de viver e aspira pela morte, pelo repouso absoluto, por um novo começo.

Em síntese, o mundo está em degeneração pelo simples fato de existir, e precisa ser regenerado periodicamente, isto é, criado de novo.

É a ideia da exaustão universal, da fadiga cósmica

Um xamã, em êxtase, ouviu a Terra pedir a Nanderuvuvu, Deus supremo, que pusesse fim às suas criações: “estou exausta”, dizia a Terra, “deixa-me repousar, Pai”.

A TERRA-SEM-MAL E A FELICIDADE SUPREMA

O Paraíso procurado por eles é um mundo restituído de beleza e glória primevas.

Portanto, a Terra-sem Mal existe aqui mesmo na Terra.

É muito difícil alcançar, porém, ela está localizada neste mundo.

Aparentemente sobrenatural ela não pertence ao Além.

Para os Guaranis, chega-se lá não só em alma ou espírito, mas em carne e osso.

Pertence a este mundo, a um mundo real, transformado pela fé.

Neste sentido, o Paraíso dos Guaranis é simultaneamente um mundo real e transfigurado.

O fascinante é que lá, neste maravilhosos lugar, não há miséria nem doença, nem pecados nem injustiças, e o tempo não envelhece. Se é jovem eternamente.

O Paraíso Guarani é profundamente paradoxal

Por um lado, ele é oposto a este mundo que é cheio de impureza, limites, pecado e mortalidade.

Por outro, ele não está localizado numa dimensão transmundana. Ele é neste mundo concreto. Precisamente na Terra.

A certeza de se poder atingir o paraíso concretamente, já que ele é uma geografia, é o que a religião dos Guaranis tem de mais fundamental.

Esta certeza está resumida no termo aguydjé cuja tradução traz de volta a nossa reflexão central.

Aguydjé significa “FELICIDADE SUPREMA”

Para os Guaranis a Felicidade Suprema se constitui no único objetivo de toda a existência humana.



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José Raimundo Gomes

J. R.GOMES é psicólogo clínico no Rio de Janeiro. Tem consultório na Tijuca e na Barra. Contato: jrgomespsi@yahoo.com.br / WhatsApp: 21.98753.0356

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