JUNG E A FELICIDADE

JUNG E A FELICIDADE>> DO LADO OPOSTO a Freud está um de seus mais importantes colaboradores: Carl Gustav Jung.

Enquanto filho de um pastor protestante e de mãe espírita, o início de sua vida é marcado por fascinantes experiências religiosas.

Certamente, estas experiências, ao contrário das observações de Freud, davam a Jung um pleno sentido de felicidade.

Nunca lhe ocorreu que fossem nem ilusões, nem farsas que visavam encobrir a dureza da realidade do homem no mundo.

Jung e a Felicidade – experiências de um menino

Garoto ainda, quando voltava da escola, tem uma visão que o paralisa completamente.

Vê Deus sentado em seu triunfal trono dourado.

Inegavelmente, essa visão produziu nele um grandioso sentimento de cumplicidade com o Numinoso.

Decerto pensava que a graça de Deus estava sobre ele e que entre eles havia um segredo.

Sabia que nem mesmo seu pai e, tampouco seus tios, todos pastores, poderiam imaginar.

Porquanto, ele conhecia Deus de uma maneira pessoal e isso o distanciava daqueles que apenas tinham fé.

Jung e a Felicidade – o inevitável afastamento de Freud

Formado em psiquiatria e com clínica psicológica particular, gradualmente foi se afastando de seu mestre inicial, Sigmund Freud.

Inegavelmente, não podia concordar com várias de suas opiniões, inclusive com suas observações acerca da natureza da religião.

Otimista, ele entendia as neuroses como sofisticados substitutos da incapacidade do indivíduo se relacionar criativamente com sua própria natureza original e, por extensão, com os seus semelhantes.

Por outro lado, também insistia neste ponto de vista: dificuldade reais não geram conflitos entre tendências opostas. Condição obrigatoriamente necessária para a formação de uma doença psicógena.

A vida empurra o indivíduo para sua independência, e se ele negligencia este chamado, quer por comodidade ou por temor infantil, abre caminho para a infelicidade emocional.

E, o mais perigoso: se a neurose se instala na vida de um indivíduo, ela se torna cada vez mais o motivo para fugir da luta com a vida e permanecer para sempre na atmosfera infantil da qual nunca se libertou completamente.

Jung e a Felicidade – reflexões de Jung e de Freud

As reflexões de Jung, assim como as de Freud, não se limitaram ao indivíduo isolado.

A construção de sociedades organizadas, com leis, hierarquização de poderes e papéis, punições e interditos, mereceram suas atenções.

Otimista em relação ao progresso humano, ele acreditava que a civilização é o resultado bem sucedido da gesta heróica do homem sobre a adversidade.

O domínio irmanal dos quatro elementos da natureza e suas infinitas aplicações promoveram um extraordinário desenvolvimento na saga da humanidade.

Acreditava também, que o nascimento da consciência é fruto da luta incessante entre natureza e cultura.

Decerto, a melhor prova para ilustrar de forma decisiva que não se adoece afetivamente por enfrentar problemas cotidianos.

Outrossim, a capacidade de resolver conflitos, enfrentar crises e criar novas e dinâmicas possibilidades de desenvolvimento pessoal, profissional e afetivo, é que evidencia a maturidade da personalidade.
Frágil, recua. Forte, confronta, transforma e estabelece uma nova ordem.

Jung e a Felicidade – problemas como forças propulsoras de transformação

Para Carl Jung, os problemas devem ser encarados como forças propulsoras a serviço da transformação do mundo e do indivíduo.

A neurose, portanto, teria que ser vista como estado de infelicidade transitório. Considerava que era o resultado da incapacidade pessoal de livrar-se do narcisismo.

Este, ensimesma o sujeito em seu pequeno mundo, distanciado-o da realidade que se estende para além dele.

Igualmente, o homem não pode obdecer apenas aos seus impulsos egóicos, pelo simples fato de existirem realidades que não podem se captadas e nem mesmo compreendidas em sua globalidade por ele.

Sua percepção é de que o verdadeiro equilíbrio interior depende da exata compreensão que o indivíduo tem de sua unidade psíquica

Não apenas naqueles aspectos que é capaz de reconhecer como particulares, razão de sua identidade única, mas, fundamentalmente, na admissão de uma realidade de vida que se revela nele como total mistério.

Essa atitude é profundamente benéfica porque abre o canal necessário para que o “eu”, essa realidade que é o centro de nossa consciência, reconheça experiências para além de suas fronteiras.

Manifestações paranormais da existência e, o que é mais decisivo, abre o necessário espaço para que o inefável, a realidade divina, se manifeste em sua própria vida através de um mundo pleno de símbolos de eternidade.

Essa abertura do Eu para a dimensão infinita que ele não abarca, produz uma dualidade de sentimento:

– por um lado, uma fraterna humildade diante de um mundo tremendamente grande e cheio de vida;

– de outro, ele se reconhece em seu verdadeiro papel que é vislumbrar traduzir na escassez de seus recursos o que, ainda nesta vida, pode entrever como futuro que lhe aguarda.

Jung e a Felicidade – O SELF

A personalidade total não é centrada no eu

Ela é centrada no que Jung chamou de Si-mesmo (Selsbest ou Self).

O Si-mesmo é a totalidade da existência egóica e transegóica.

Assim como também é a realidade física e metafísica.

Num esforço de combinar estas duas realidades, Jung utilizou várias metáforas.

Uma das mais importantes é o que ele chamou de psicóide, isto é, uma realidade que não se deixa mais aprisionar por conceitos dualistas de mente e corpo, matéria e espírito.

Psicóide é a realidade global, única, transfigurada.

Portanto, há neste conceito a idéia de unidade, de algo indivizível, como o próprio indivíduo.

Lembra a intuição alquimista do unus mundus

Na busca da felicidade os homens precisam entrar em contato com o Self.

Esse contato de modo geral é realizado através dos símbolos.

São eles que fazem a ligação entre o eu e o inconsciente.

O resultado deste encontro gera o que Jung chamou de Processo de Individuação.

Individuar-se não é egocentrar-se

Individuar-se é levar à frente a realidade plena que habita em todos nós.

Não seria excessivo considerar o processo de indiviuação como um processo de tornar-se-feliz

Pois se a felicidade consiste em harmonizar-se com a natureza original, transformando-a através do trabalho. A individuação consiste em acolher os símbolos como menssageiros de uma realidade de desenvolvimento pessoal e cultural.

Jung e a Felicidade – Finalmente, as palavras do velho mago de Zurique

“…é a incapacidade de amar que priva o homem de suas possibilidades.

Esse mundo é vazio somente para aquele que não sabe dirigir sua libido para coisas e pessoas e torná-las vivas e belas para si.”

Profundo, desvenda mais ainda o mistério da doença:

“ o que nos obriga a criar um substitutivo a partir de nós mesmo não é a falta externa de objetos, e sim nossa incapacidade de envolver afetivamente alguma coisa além de nós mesmos”

Dificilmente encontrei na minha vida palavras tão profundamente incandescentes como estas.

Freud sabia disso.

Porquanto, ele disse certa vez a esse mesmo Jung que as neuroses são histórias de amor reprimidas e que só poderiam ser curadas com uma ação amorosa.

A neurose é uma malograda substituição do desejo de amar.

Mas há o lado bom de tudo isso. Só alguém fortemente inclinado ao amor é capaz de adoecer emocionalmente.

E o que lhe faz adoecer é justamente o que poderia lhe salvar…

Essa situação é mais comum do que se imagina. Mas não é tão difícil transformá-la. Se se quiser, é claro!

Crédito de imagem destacada: “Carl Jung” by Jerry Bacik: Portrait of Carl Jung




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José Raimundo Gomes

J. R.GOMES é psicólogo clínico no Rio de Janeiro. Tem consultório na Tijuca e na Barra. Contato: jrgomespsi@yahoo.com.br / WhatsApp: 21.98753.0356

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