O CANSAÇO DO CIDADÃO COMUM
O CANSAÇO DO CIDADÃO COMUM>> Um pequeno descontentamento causado por uma má resposta de um filho, mas que ficou guardado dentro do peito daquele homem comum.
Era sábado havia chegado da rua depois de um dia exaustivo de trabalho, em que bateu em dezenas de portas e destas tantas, algumas poucas lhe foram abertas.
Ademais, nenhum comprador para o produto de primeira linha, bem de necessidade e de preço barato que ele está representando há apenas dois meses.
Quando atendeu o anúncio, e assistiu a tão bem elaborada palestra sobre o produto, ficou tão empolgado; era a oportunidade de negócio com qual estava sonhando há anos.
Agora cada dia que amanhece, sente um soco no estômago, quando ao abrir olhos lembra de sua atividade profissional.
Também por isso, hoje, a simples forma como seu filho se falara, lhe causou esse sentimento de impotência.
O CANSAÇO DO CIDADÃO COMUM – Mas a vida é assim mesmo
Pensava que a vida é dura e a felicidade é distante.
Sentando-se à mesa para a refeição de domingo ouviu tantas queixas de sua esposa que não conseguiu comer direito, o estomago lhe ardia, como se os alimentos fossem feitos de fogo.
Havia em sua nuca uma leve dor, que ele não comentou porque não havia tempo, as bocas de todos falavam e falavam, e por alguns segundos ele nada ouviu.
Enfim descansaria à tarde, e dormiria mais cedo para não acordar tão indisposto como lhe acontecera a semana toda.
Mas não era possível descansar deitado na rede de sua varanda como ele tanto gostava, porque os vizinhos novos eram tão diferentes dos anteriores e pareciam ser surdos.
Ouviam músicas sem qualidade o tempo todo, e em volume que perturbava até quem moco estivesse.
A vida estava ficando muito dura nestes tempos modernos. (Pensava).
Como não podia dormir saiu e foi encontrar os amigos no bar da esquina.
E passou da hora de voltar para casa, mesmo não tendo bebido nenhuma gota de álcool.
Enfim, nem era afeito a esse prazer, mas sentia-se meio embriagado, o que considerou fosse resultado do calor excessivo que estava fazendo.
O CANSAÇO DO CIDADÃO COMUM – O Fracasso por companhia
Sentia-se fracassado; e ao olhar em volta notava que todas as pessoas que conhecia, até os parentes e amigos estavam na mesma situação que ele, senão pior.
Poucos eram os que tinham vencido.
Mas vencido o que; se os que estavam melhores de vida, claro financeiramente falando, apresentavam comportamento egoísta e as vezes cruel?
Assim dormiu esse homem, que trabalha há nove anos sem tirar férias.
Mas a vida é assim mesmo. (Pensava).
Seus filhos adolescentes não lhe conheciam; viam apenas um pai que não conseguia cumprir com todos os deveres e ficava sempre devendo para alguém, o que para eles era motivo de vergonha.
A esposa uma mulher forte e robusta vivia para as conversas com as amigas, que eram outras mulheres, que geralmente falavam mal dos homens que eram pobres, feios ou velhos.
O CANSAÇO DO CIDADÃO COMUM – Acordou e sua cabeça doía
Levantou-se mais cedo que de costume, uma incômoda dor de cabeça lhe despertara.
Banhou-se em água fria porque o calor continuava noite adentro.
Vestia-se quando a mulher virando na cama não lhe sentiu por perto e levantando a cabeça, mostrava os cabelos desgrenhados o que lhe dava aparência horrível.
-Aonde vai a esta hora homem?
Não ouviu a resposta, pois, ato contínuo virou e dormiu pesado.
Ele olhou a mulher esparramada na cama, e sentiu novamente a sensação de fracasso, pois sequer uma condição de vida mais digna à companheira de tantos anos ele podia oferecer.
Balançou a cabeça para tirar aquela visão e respirou para desanuviar os pensamentos.
Já fazia alguns dias que esses pensamentos de tristeza lhe vinham, e a sensação de dor na nuca junto.
O CANSAÇO DO CIDADÃO COMUM – Difícil segunda feira
Estava sentindo agora a dor em sua nuca, e, imaginou como seria difícil sua segunda feira.
Pegou a pasta, com os catálogos, que hoje pesava mais que os outros dias.
Saiu para a rua, e encontrou as pessoas de sempre, andando ligeiras para o ponto de ônibus, pois passar na frente de alguém poderia significar acomodar-se em um banco, ao invés de seguir em pé sacolejando pelo caminho.
Geralmente ele cedia o lugar às pessoas de mais idade ou às mulheres.
Não percebera que seu passo estava acelerado e chegou ao ponto em tempo de se sentar bem na frente.
Sua mente lhe cobrou um roteiro e ele não tinha.
Como pode ficar o domingo inteiro sem fazer nada e não programar um roteiro.
Era mesmo um homem sem responsabilidade. (Pensava).
Começou assim, as tantas cobranças; o telefone estava com mais de quarenta dias sem pagar a conta vencida.
Mas a água e a luz estavam em dia, pois, corriam risco de cortarem.
A televisão a cabo que suas crianças gostavam tanto, estava prestes a ter que cancelar se não vendesse nessa semana pelo menos três produtos.
A esposa lhe pedira um micro-ondas fazia mais de quatro meses e ele não tinha sequer pesquisado o preço, para saber se podia financiar.
Mas como financiaria se seu nome estava sujo?
O CANSAÇO DO CIDADÃO COMUM – O tempo passou sem que notasse
Não viu que o ônibus avançava para o ponto final e de repente alguém lhe bate no ombro dizendo:
-Chegamos parceiro.
Ele se levanta atordoado, deixa a pasta no banco e desce.
Anda pela avenida movimentada.
As pessoas olham para ele com raiva porque esbarra neles sem prestar atenção.
Sente sede e ao buscar no bolso a carteira lembra que tinha colocado dentro da pasta de catálogos e que não está sem seu braço.
Para repentinamente e olha para os lados, não reconhece o lugar onde está.
A cabeça lhe dói ainda mais, os olhos queimam.
Sente a nuca como se uma dormência estivesse tentando lhe abrir o crânio, e seus ombros pesam toneladas.
Procura o celular, precisa ligar para casa porque está com uma sensação ruim em relação à sua família, mas não está com o celular e lembra-se de pronto que esqueceu em cima do criado mudo.
O CANSAÇO DO CIDADÃO COMUM – O colapso nervoso
Um nervoso toma seus sentidos.
Um tremor percorre seu corpo.
Um medo profundo da vida.
Um rancor que lhe amarga a boca.
Uma ira de tudo que se move.
Essa vida vai mudar agora.
Vai mudar nem que seja a última coisa que faça, nem que morra tentando.
E assim o homem comum, pai de família e trabalhador malsucedido, é acometido por um torpor incontrolável e abre a janela de sua alma para receber um ser vingador.
Vinga-se em todos quantos passem diante de seus nervos de aço. Vocifera impropérios e maldiçoes.
Enfim desequilibra-se e é contido por paramédicos que foram chamados pelos transeuntes que viram o descontrole daquele ser.
Agora está em um hospital, medicado, dopado para ficar calmo, sua família em volta, chorando, e prometendo o que ele nem sabe o que é.
Procura recordar; o que aconteceu e só se lembra de ter deitado mais tarde do que pretendia para tentar a sorte na segunda feira.
Por mais que pense, não se lembra de nada.
Quem de longe assiste, o que se passa com estes homens e mulheres que são massacrados pelo sistema, fica a pensar o que se pode fazer para evitar que tantas pessoas entrem pela via do descompasso entre a harmonia e o caos.
O CANSAÇO DO CIDADÃO COMUM – Refletindo…
E talvez as exigências da vida moderna sejam a resposta; porque o ser humano progrediu materialmente e se compraz tanto neste progresso que se torna consumista, do que não precisa, não sente falta e assim perde contato com sua essência.
Sua intimidade perde-se.
Sua identidade fica abafada com muitas máscaras que veste ao longo de um único dia; e em dado instante se sente sufocado e não consegue se libertar do peso das atitudes mascaradas, para respirar aliviado.
O auto respeito, é a ferramenta que precisa ser recuperada e usada urgentemente; pois quando sabemos de nossa limitação precisamos deixar claro aos outros à nossa volta, para que não nos considerem fracos ou covardes, pois não somos.
Assim nesta mensagem de hoje, o importante é a reflexão que iremos fazer.
Do quanto estamos parecidos com a nossa personagem, o quanto estamos aceitando que os outros determinem nosso comportamento, o quanto estamos forçando que outros aceitem nosso comportamento.
Estamos sendo fiéis aos nossos sentimentos, nossos propósitos ou estamos deliberadamente nos enganando e fazendo de conta que tudo está certo porque a vida é assim mesmo.
O CANSAÇO DO CIDADÃO COMUM – O fim da jornada inglória
O homem comum após olhar sua família se despedir, sem sentir vontade de nada falar, e permitir que os enfermeiros lhe furem os braços com remédios que ele sabe não vão lhe curar, desiste.
Fecha os olhos, está cansado e sabe que não mudará nada, além de ter raiva do mundo e de todos como aconteceu.
Se existir mesmo, vida depois desta vida miserável que vivi, estou pronto para ela. (Pensava).
Sentiu sono, e seu corpo começou a ficar distante, não entendia o que estava acontecendo, quis estar no lugar de sempre e entendeu que estava fora do corpo, existia como uma sombra, movia-se pelo quarto, e alguém entrou.
Era um homem bem vestido que lhe sorrindo disse:
-Venha irmão, mesmo que não entenda direito, chegou sua hora de voltar para casa; seja bem-vindo novamente entre nós, seus amigos, parentes e protetores.
Considerou estivesse sonhando, mas aceitou o convite e seguiu aquele cavalheiro, que lhe falava com intimidade, embora jamais o tivesse visto antes.
Finda sua vida medíocre para iniciar outro caminho com outras possibilidades.
Que tenha sucesso da próxima vez, mas que antes entenda o que é sucesso, e como alcançar bem-estar mesmo em modesta situação, sem querer acompanhar as modas, pois não somos iguais.
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