Sala de Aula, Palco da Vida I

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Dedicado aos meus verdadeiros professores.

Os antigos e os que continuam a me ensinar.

Gente cheio de alma. Gente com fogo sagrado.

Minha gratidão eterna.

Sala de Aula, Palco da Vida I e O PROFESSOR COMO
ATOR APAIXONADO

Sala de aula é um palco. Enquanto que o ator criativo é aquele que se deixa fusionar de tal forma com o personagem, que é impossível distinguir um do outro.

Afinal, faz isso por amor à arte. Enquanto que, outras vidas ganham nele, vida.

Vislumbra-se no ator, tantas histórias!

Tanto nos fazem rir, como chorar. Todavia, podem nos encher de temor, assim como admiração e/ou medo.

Certamente, livre em seu mundo emocional, faz de sua dramaturgia a catarse de si e dos outros, ao avistá-lo.

Ninguém é mais aberto ao subterrâneo arquepsiquíco do que o ator.

Os gregos diziam que ele é um hipócrita. Assustou-se?

Contudo, é isso mesmo que você ouviu. Hipócrita. Talvez essa palavra não seja lá essas coisas e ninguém se sinta feliz por ela…

Sala de Aula, Palco da Vida … a não ser o ator verdadeiro

Hypocrités (Hipócrita) para os helenos era alguém que se aventurava em direção a um reino restrito aos deuses.

Essa comunicação com o mundo transpessoal gera um estado alterado de consciência.

S. Groff, psicólogo theco-americano, contudo, chama esse sentir de estado holotrópico de consciência.

Conquanto tomado por entusiasmo, o ator se põe a falar.

Ou melhor: a ceder sua língua, a emprestar o sopro de seus pulmões que criam as palavras, aos personagens que eclodem das profundezas de seu ser, cheios de sabedoria e com todas as qualidades possíveis de se revelar na experiência humana.

Pareceu complicado? Mas não é

Tenho certeza de que você mesmo já foi hipócrita. Pelo menos algumas vezes. Não se ofenda.

Hipócrita no sentido grego, é claro. E como já foi dito, significa estar sob forte entusiasmo interior. Sob inspiração divina.

Próximo a uma palavra que os fundamentalistas cristãos gostam de usar em seu marketing eclesial: possuído!

Você já se sentiu tomado por uma força maior do que seu controle pessoal?

Algo que o arrastou na direção indesejada ou pelo menos na direção que sua consciência moral gritava para não ceder?

Se já esteve assim, admita: há forças dentro de nós que falam mais alto do que a vontade consciente, e é isso que é ser possuído, no sentido estrito teopsicológico.

Fora desse contexto é fanatismo, e deve ser evitado.

Sala de Aula, Palco da Vida e essa força misteriosa que nos move

Pois bem, estar sob o efeito de uma força misteriosa e incontida, deixar-se falar segundo essa energia é para a concepção antiga o mesmo que estar sob o abraço de Deus.

Essa experiência envolve algo que podemos chamar de TRANSFIGURAÇÃO.

No fundo, uma ambiguidade: como ator, você é você sem ser você, sem perder sua identidade pessoal.

O entusiasmo, cuja etimologia reafirma nosso ponto de vista, “Deus dentro de nós”, o projeta para além das banalidades da vida cotidiana com as inevitáveis formalidades.

Note bem essa palavra: TRANS-FIGURAR, TRANS-FIGURA, além da figura, da imagem, de sua imagem.

Por extensão, além de você.

Além de nós.

Além do restrito mundo egóico, do que se convencionou chamar em psicomítica de narcisismo.

Além daí está o insondável, o misterioso, o segredal, a athanasia, isto é, a imortalidade. Copyright exclusivo dos deuses, a quem invejamos por isso.

Na arena do teatro e só lá, ator é imagem e semelhança dos Deuses.

Ou de todos os Deuses sonhados, reunidos em um só.

Podemos paquerá-Los através do ator.
Recitando a história da vida e do mundo, sua solidão e seu desejo de felicidade ele se torna ali e só ali, um ser imortal.
Nem sexo, nem dinheiro. A imortalidade é a centromítica da vida.

Sala de Aula, Palco da Vida e O PROFESSOR

IMORTAL

Assim deve ser o professor. Um imortal. Não de academias com endereço e CEP.

O que lhe dá imortalidade é a relação de namoro que estabelece com o conhecimento.

Sem ser ele e sendo ele, ama professar (professor tem mesma raiz etimológica de profeta). Seu correto significado está menos em predizer o futuro e mais em falar em nome de alguém.

Privilegiando-se os professores, temos: falar em nome da alegria do conhecimento.

As lições de sabedoria que brotam de sua boca, seriam melhor apreendidas se chegassem até os ouvidos da turma com a vibração própria da alegria que guardam.

Portanto, com a energia de quem acredita e ama o que está transmitindo.

Possesso pelo conhecimento sagrado gerado no coração, o professor deverá livrar-se de sua inibições pessoais e permitir que a energia da vida se revele através dele sob a forma de suas lições.

A desobstrução do eixo pessoal (a vida do indivíduo marcado por sua história nem sempre feliz) X coletivo (o reino dos Deuses em perene entusiasmo) é de extrema importância para locução da sabedoria que se expressa por insights e através da comunicação mística com a turma, todos agrupados como unidade.

Continua no próximo artigo




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José Raimundo Gomes

J. R.GOMES é psicólogo clínico no Rio de Janeiro. Tem consultório na Tijuca e na Barra. Contato: jrgomespsi@yahoo.com.br / WhatsApp: 21.98753.0356

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