As Amazonas III

As Amazonas III>> A existência destas duas ilhas no oceano Índico encontra-se ainda mencionada noutros textos.

Contudo, textos muito diferentes uns dos outros, pelo que é difícil por em dúvida a sua realidade.

Uma geografia alemã do oceano Índico, redigida em verso apesar de bastante fantasista e sem grande valor científico, menciona, no século XIII, esta ilha das Mulheres em pleno oceano.

Por outro lado, há também a narrativa surpreendente que acompanha a carta de Frei Mauro (1457 ou 1458).

Nessa cara ele faz referência a uma expedição de viajantes árabes em 1420.

Em princípio, esta expedição atingiu o cabo da Boa Esperança e prosseguiu muito além, pelo Atlântico sul fora.

As duas ilhas são ali mencionadas, embora de passagem:

“Um barco que serve normalmente para as ligações com a Índia partiu no ano do Senhor de 1420, a fim de efetuar uma viagem pelo mar Índico.  Tendo ultrapassado a ilha dos Homens e das Mulheres, bem como o cabo Diab (Boa Esperança), etc.”

Tratar-se-ia de Socotorá e dos ilhéus vizinhos próximo de Ádem?

Julgou-se muitas vezes que assim era.

Porém, o explorador italiano Nicolo Conti, que viajou sem interrupção desde 1419 até 1444 e que visitou pessoalmente todas as regiões então conhecidas do oceano Índico, diferencia expressamente Socotorá e as duas ilhas já mencionadas:

“Passei”, diz ele, “dois meses na ilha de Sechutera (Socotorá), situada a cem milhas a oeste do continente…

Não longe dela, a menos de cinco milhas, encontram-se duas outras ilhas, distantes entre si umas cem milhas, uma delas habitada apenas por homens e a outra só por mulheres.”

As Amazonas III na ilha de Sechutera (Socotorá)

Estas precisão inequívoca permite afastar a hipótese de Socotorá.

Mas as ilhas Kurian e Murian, onde Pauthier pensava ter localizado as ilhas das amazonas, também não devem ser consideradas.

Por fim, estão situadas muito mais para além de Socotorá do que o texto de Conti indica.

Em contra partida, a interpretação do atlas veneziano de Coronolli (1696) parece muito mais verosímil:

a ilha dos Homens e a das Mulheres seriam duas pequenas ilhas nas paragens do cabo Guardafui, possivelmente as Abdul-Kuri

Todavia, não interessa muito fazer uma identificação precisa.

Por outro lado, à luz das citações anteriores, não se deve duvidar da existência, entre os séculos XIII e XV, das duas ilhas, dos homens e das Mulheres, nas paragens de Socotorá.

As Amazonas III no Oceano Atlântico

Finalmente, segundo a tradição, também teriam existido ilhas de amazonas noutra região do Mundo, ou seja, no oceano Atlântico, e até perto das costas americanas.

É significativo o fato de, no decorrer da sua primeira viagem de regresso da América, Cristóvão Colombo ter mencionado por duas vezes no seu diário de bordo – precisamente nos dias 13 e 15 de janeiro de 1493 – a existência provável de ilhas de amazonas nas proximidades do novo Mundo.

Quando da sua segunda viagem, os índios falaram-lhe duma ilha chamada Matutino, onde só habitariam mulheres, e que é praticamente certo poder identificar-se com a Martinica ou com Santa Lúcia.

A existência de uma ilha puellarun no Atlântico tem uma história complexa.

Numa das minhas anteriores obras demonstrei – e ver-se-á igualmente o assunto num capítulo ulterior deste livro, dedicado às ilhas fantasmas – que as ilhas fantasistas assinaladas pelas antigas cartas marítimas tiveram por base uma velha lenda celta de origem irlandesa.

As Amazonas III no Oceano Atlântico e a Ilha Brasil

Segundo esta tradição, existiria em pleno oceano uma grande ilha exclusivamente habitada por mulheres jovens e belas, a que os irlandeses ora chamavam Tir-na-m-Ingen (ilha das Virgens), ora Tir-na-m-Ban (ilha das Mulheres), ou ainda Brasil (ilha dos Bem-Aventurados).

Esta lenda induziu em erro o catalão Dulcert, que fez figurar uma “ilha das Virgens” na sua carta de 1339.

Outras cartas seguiram-lhe o exemplo, e Colombo viu-as possivelmente, pois fala duma “ilha das onze mil virgens”, o que é uma reminiscência de hagiografia dos princípios do cristianismo.

Numa carta, que data de 1500 e que está guardada na biblioteca de Munique, menciona-se esta “ilha das onze mil virgens”, situada no mar das Antilhas.

As ilhas Virgens, que atualmente fazem parte das Antilhas, devem com certeza o seu nome a esta velha lenda irlandesa, sendo também muito provável que a ilha denominada das Mulheres-Diabos, mencionada em 1150 pelo geógrafo árabe Edrisi, seja assim chamada por idêntico motivo.

O que se pode verificar é o fato de as origens desta crença nas amazonas serem muito diversas e por vezes independentes umas das outras.

A tradição irlandesa da ilha Brasil, puramente imaginária, parece levar a crer que se tratou sempre duma ficção, duma lenda popular, nascida de miragens que por vezes faziam surgir ilhas fantasmas ao largo da Irlanda.

De resto, a Irlanda não é a única região do Mundo onde as miragens são moeda corrente, pois ilhas fantasmas existiram sempre por toda a parte.

Com efeito, quando se verificam determinadas condições atmosféricas nas costas alemãs, vislumbram-se ao longe essas aparições de terras irreais.

Assim, entre 17 a 20 de Setembro de 1939, os habitantes da ilha Nordstrand puderam ver com nitidez terras que se recortavam admiravelmente sobre o mar.

É natural que a literatura popular e a superposição tenha contribuído muito para a difusão da lenda, dotando estas ilhas com todas as belezas do paraíso e reservando-as para utilização exclusiva dos “bem-aventurados”.

Os Celtas da Irlanda, muito propensos para os prazeres dos sentidos, povoaram estas ilhas fabulosas, na sua imaginação, com inumeráveis mulheres jovens, sempre prontas para o amor: a sua “ilha das Virgens”, análoga ao Venusberg wagner, reservava a todo e qualquer ser humano que ali conseguisse chegar uma existência feita de prazeres perpétuos.
Flavio Lins  seu novo canal no Youtube https://www.youtube.com/marciamattos




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