“As Danças Circulares têm o poder de fazer a reconexão do homem com ele mesmo, a sociedade e o cosmos”
“As Danças Circulares têm o poder de fazer a reconexão do homem com ele mesmo, a sociedade e o cosmos”
Em nova tournée pelo Brasil, Gwyn Peterdi faz uma reflexão sobre
a expansão mundial das Danças Circulares
e a necessidade urgente da humanidade viver em harmonia
as danças circulares,
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No centro do círculo, conduzindo a roda com suavidade e firmeza ao mesmo tempo, ela saltita como uma menina. Às vezes, porém, lembra mais um beija-flor, pequeno, colorido, esvoaçante, ágil, inspirando uma alegria tranquila, como seu sorriso constante. As danças e coreografias que ela focaliza, tradicionais, contemporâneas ou de sua autoria são múltiplas e variadas. Músicas de todo o planeta. Mas há uma, fora do repertório das Danças Circulares, que insiste em me vir à mente quando a vejo dançar…
as danças circulares,
“Leve, como leve pluma
Muito leve leve pousa
Muito leve leve pousa…”
as danças circulares,
Assim é Gwyn Peterdi, leve. Muito leve, como diz a canção dos Secos & Molhados. E de uma simplicidade e absoluta coerência entre o discurso e a prática, que nos levam a repensar todo nosso modo de vida. Gwyn é uma das figuras de maior destaque mundial no universo das Danças Circulares Sagradas. Mas quando não está rodopiando mundo afora, desfruta com prazer do despojamento quase monástico de sua casa em Massachusetts (EUA). Sabe aquela história de casa no campo? É por aí. Antes de conhecer as Danças Circulares, há 31 anos, se dedicava à ecologia e aplica regiamente seus conhecimentos.
as danças circulares,
Focalizadora de Danças Circulares Sagradas há 25 anos, Gwyn Peterdi é fundadora do New Egland Circle Dance Camp, do Festival de Danzas Circulares de México e foi também dela a ideia da criação do Dia Mundial das Danças Circulares Sagradas. Normalmente em julho, a data é celebrada em diversos países. Sincronizados, em círculos, de mãos dadas, os participantes procuram uma conexão com o coração da Terra e dançam pela paz, a alegria e a evolução do planeta.
Americana de nascimento, mas mexicana de coração, Gwyn fala espanhol fluentemente. Daí para o portunhol foi um pulo, até porque o Brasil já faz parte de seu roteiro anual há vários anos e nós também já conquistamos território em seu coração. Este ano, a tournée de Gwyn Peterdi pelo Brasil começou por Goiânia, onde conseguimos roubar alguns momentos da agenda apertada.
Vamos começar com uma pergunta básica: qual o seu signo?
Sou canceriana, ascendente Câncer, Lua em Áries.
(risos)
Água e fogo… Como a Dança Circular entrou na sua vida?
Pois estava eu estudando Ecologia, na Faculdade do Atlântico, em Maine, no Nordeste dos Estados Unidos. Em pouco tempo, me dei conta de que o problema ecológico não tem que ver com o mundo natural, tem a ver com os humanos. Então não fiquei muito contente estudando somente pesquisas científicas. Elas não têm as respostas. Já temos muitas informações científicas mas eu sentia que faltava algo. Então comecei a estudar terapias holísticas. Um monte! Zen Budismo, massagens, acupuntura, fitoterapia, medicina chinesa….
E a dança?
No final dos anos 80 estive em um Festival de Artes Curativas e ali me encontrei com as Danças Circulares. Imediatamente, reconheci que esta é a maneira mais efetiva para fazermos mudanças ecológicas, transformar as pessoas, reconhecer a união que existe entre todos os seres e deixar os conceitos de você e eu. Isso é básico para a Ecologia. Porque primeiro temos que mudar o ser humano e, então, vamos deixar de gerar toxinas, fazer guerras, e essas coisas que são muito más para a Ecologia.
Você já dançava antes?
Sim, eu dancei um pouco de tudo. Na comunidade onde morei tive oportunidade de praticar um pouco de dança moderna, dança africana, danças folclóricas e um estilo muito popular no Norte dos Estados Unidos, a contradança.
“A Dança Circular abre o coração”
Como você disse, nessa sua primeira experiência com a Dança Circular, você sentiu de cara o potencial que ela tem para uma transformação pessoal e coletiva, e quais os outros benefícios você percebe?
Eu sempre digo que é preciso experimentar. Não tem que ficar analisando muito. São muitos os benefícios que podemos listar. Vejo facilmente como que uns 100. Te dá força, consciência de si mesmo, promove a integração mente/corpo, ajuda a desenvolver o equilíbrio entre a atenção e a espontaneidade e traz um montão de benefícios físicos. Além disso, faz você se sentir mais integrado à comunidade, o que é muito importante, porque hoje muita gente vive isolada, sem tocar as mãos de outras pessoas, sem saber que estamos todos juntos. A Dança Circular abre o coração e é divertida. Nos leva a conhecer outras culturas e a aprender o respeito por elas, pelas diferenças.
O que contribui para a paz mundial.
Isso. Acho que é a única coisa que nos vai salvar. Porque já temos muita informação de como estamos destruindo o nosso meio ambiente. Já temos muitas informações sobre porque ficamos tão doentes de estresse, de sedentarismo, de solidão. Já sabemos tudo isso. Sabemos que, quando produzimos agrotóxicos, aplicamos em uma fruta e a comemos adoecemos. Sabemos como eles afetam os pássaros, os insetos, toda a natureza. No entanto, seguimos cometendo os mesmos erros. Então eu creio que a única coisa que nos vai salvar é esta experiência comunitária que nos leva a compreender que somos todos um e, em um sentido muito real, não existe separação. Quando entendermos, vamos mudar nossas prioridades, deixar de fazer guerra, deixar de contaminar o meio ambiente.
Seu encontro com as Danças Circulares foi mesmo definitivo, né? Logo você passou a se dedicar inteiramente a elas?
Sim. Eu tive sorte de estar presente quando vários mestres do Reino Unido, inclusive de Findhorn, começaram a voar para os EUA e fazer workshops. Eu participava da organização dos eventos e, quando eles foram embora, eu falei: – E agora, como vou fazer? Alguém disse: – Você pode ser focalizadora. Eu não estava pensando nisso, mas não havia grupos de Danças Circulares onde eu vivia. Então não tive outra opção, precisei me tornar focalizadora para seguir. E estudei muito, com todos os mestres que pude. Nos Estados Unidos temos constantemente a visita de focalizadores de muitos países, e pude ter a experiência de estudar com mestres boníssimos de toda a Região dos Balcãs (lugar que me fascina). Nomes reconhecidos mundialmente. E também fui várias vezes dançar em Fidhorn, na Bulgária e na Grécia, Hungria. Vou sempre. Sou uma eterna aprendiz.
Nesses lugares você aprendeu com mestres das Danças Circulares ou das Danças Tradicionais?
Bom, eu estudei com ambos. E são muitos anos, são muitos mestres, muitas oportunidades, muitos workshops, muitíssimos mestres das duas, de Danças Circulares e de Danças Folclóricas. Elas têm a mesma base. Atualmente, o movimento das Danças Circulares está mais enfocado em coreografias modernas, mas eu sempre incluo danças tradicionais no meu repertório. É preciso manter essa tradição de tantos milhares de anos. Essas danças ancestrais têm muito valor. Por favor, não vamos esquecê-las!
Pois é, as danças tradicionais têm todo um significado histórico, têm como que uma egrégora. E as modernas? Quando a gente faz uma coreografia de Dança Circular para uma música contemporânea, você acha que tem o mesmo efeito?
Algumas têm mais efeito que outras. É um pouco misterioso o processo de coreografar músicas modernas, São diferentes músicas para diferentes culturas. Por exemplo, quando fui ao México pela primeira vez, as pessoas não tinham ouvido para as danças dos Balcãs. Não entrou. Então eu combinei algumas danças tradicionais com músicas latinas para que as pessoas pudessem sentir mais profundamente a experiência. Às vezes, as danças regionais são mais efetivas, porque as pessoas já conhecem o ritmo, a música, o estilo e isso move algo no coração. No México, as danças com músicas latinas ajudam a criar essa sensação de familiaridade que faz o dançante pensar: – “Sim, posso entrar nessa dança, nessa música”. Uma vez que as pessoas tenham as primeiras experiências podemos introduzir novos ritmos, danças de todas as culturas.
Hoje o repertório de Danças Circulares é imenso, mas nem todas as coreografias têm um simbolismo, ou um significado especial, né?
Não tem que ter. A gente sempre quer saber o máximo possível da música, do movimento, mas acredito muito em sentir e ter uma experiência interna, que é diferente para cada pessoa. Quando se tem uma coreografia com um significado próprio, você explicar o que ela quer dizer pode ajudar o dançante a entrar no clima. Mas há muitos mitos na Danças Circulares que não têm nada a ver. Outro dia, alguém falou sobre uma coreografia que fiz recentemente: – Ah, a dança tal, quer dizer tal coisa, por isso, por aquilo”. Eu disse: – Não sabia disso! (risos). O significado da dança é importante sim, mas o principal é estarmos juntos e cada um ter suas próprias experiências.
“A Dança Circular é a mais efetiva de todas as curas porque trabalha corpo, mente e espírito ao mesmo tempo”
O movimento das Danças Circulares nasceu na década de 70 do século passado, já há mais de 40 anos, mas ultimamente cresceu muito. No Brasil parece estar havendo um boom. A que você atribui isso.
Sim, sim, está crescendo muito. Acho que acontece em momentos em que a humanidade tem um pouco mais de consciência da gravidade da situação que estamos vivendo. Nessas horas as pessoas tendem a buscar diferentes práticas de cura. E a Dança Circular é a mais efetiva de todas as curas porque trabalha corpo, mente e espírito ao mesmo tempo. E na Dança Circular você ainda trabalha a harmonia coletiva, cooperando com o outro em cada passo.
Ela traz um sentimento de identidade cultural também.
Tem esse aspecto cultural também. As Danças Circulares são muito antigas e comuns a todo o planeta. Cada cultura sempre teve sua forma de Dança Circular. Acho que isto está no nosso DNA. Ele reconhece as Danças Circulares. Então, quando o ser humano sente que está em perigo ele quer reconhecer sua tribo, estar conectado, e as danças em círculo tem o poder de fazer a reconexão do homem com ele mesmo, a sociedade e o cosmos. Em algum nível, mesmo que tenha medo de falar sobre isso, o ser humano sabe que estamos a ponto de nos destruir e todos nós, que temos um pouco de consciência, procuramos melhorar nossas vidas e buscamos uma integração. No círculo eu me integro, me conecto com todas as pessoas que também estão tentando se curar para formarmos um campo magnético maior capaz de influenciar todo o planeta.
Que a semente se espalhe.
Oxalá o ser humano siga vivo muitos anos mais, porque há muito potencial. Quem sabe este momento seja apenas uma estação de Inverno antes de uma Primavera. Precisamos ter essa esperança. Ela abre outra perspectiva, outro paradigma de cooperação, de como a humanidade pode viver em harmonia. A Terra é tão abundante! Uma abóbora dá sementes para 5 famílias. Não falta ar, não falta comida, não falta nada. O ser humano está enfermo e temos que curar isso. E acho que a urgência dessa cura tem atraído as pessoas para as Danças Circulares.
Você tem um estilo de vida bastante ecológico, não?
Sim. Minha casa é ecológica, feita com materiais locais, madeira. Eu tenho energia solar e uma bomba de água manual. Reciclo tudo e compostagem é básico para mim. Também planto, colho e preparo minha comida. É muito comum em minha região. Quase todos temos horta. Gostaria muito de ver minhas amigas do Brasil semeando sua comida. Não é tão difícil! E também dá muita satisfação quando você pode entender o que são os ciclos e como cuidar das plantas. Como canceriana gosto muito disso. É preciso começar com compostagem, ela não exige muito espaço. Você coloca todos os restos de comida em uma caixa de madeira, e você pode introduzir minhocas. Eu sei que tem gente que tem medo de bichos, mas não é preciso se preocupar porque existem diferentes tipos de compostagem e há como fazê-la sem que o cheiro incomode.
Então você não tem água encanada em casa?
Eu não tenho. Sempre quis um sistema que não dependesse da energia elétrica, porque eu não confio muito na rede de energia. Não me sinto segura se minha vida depende de uma rede elétrica.
E o mundo está muito dependente disso…
Muito! E isso é muito perigoso, muito perigoso. A rede de energia vai cair em algum momento. Isso é óbvio. Então é preciso estar preparada.
E para tomar banho, de caneca?!
De caneca (risos). Eu bombeio a água e esquento com gás, mas se pode esquentar com o sol também, que vocês no Brasil têm muito.
E como você tem tempo, com tantas atividades? Hoje você é um dos nomes de maior destaque internacional nas Danças Circulares, como consegue conciliar com seu modo de vida?
Pois no verão estou muito mais na horta. Sim, toma tempo, mas procuro viver o máximo a cada dia. Na verdade, às vezes me sinto muito pressionada, e não tenho tempo para cumprir todas as minhas atividades. Faço o melhor que posso e sempre sinto uma urgência em fazer mais, mais e mais. Mas trabalhar na horta me parece tão importante que, pra mim, é uma prioridade. Sim, toma tempo, porém quando você está mexendo a terra também faz um tipo de terapia, relaxa a mente. O cheiro da terra é curativo. Então é uma das coisas que acho importante, Danças Circulares, a horta, estar com amigos, família. Não tiro muitas férias.
Vamos falar um pouco sobre sua experiência com o Brasil. Quando você esteve aqui pela primeira vez?
Ah, foi em 2004. Fui a Florianópolis, porque Lia Simões e Maggie Oplinger convidaram Pablo Scornik e a mim para dar um workshop. Depois estive no Encontro Brasileiro de Danças Circulares Sagradas e muitos lugares, como São Paulo, Belém, Recife, Brasília, Alto Paraíso. .. Acho que já vim ao Brasil umas dez vezes. Amo, adoro! Me sinto em casa, porque gosto de dançar e cantar o tempo todo, desfrutar a natureza, boa comida, estar junto com essa gente muito querida.
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Adorei conhecer mais sobre dança circular. Já gostava e fiquei ainda mais interessada. Parabéns pela entrevista.
Que bom que gostou, Tânia! Como diz a Gwyn, experimente a Dança Circular! Depois me conte. 😘
Maravilhosa entrevista,comentários e importantes informações sobre matéria tão interessante e valiosa!!!
Vamos entrar na roda e dançar e amar!!!
Gostei muito!
Viva a Dança Circular!!!
Parabéns mana!!!
Dancemos!!!
Muito legal!
Você já conhecia as Danças Circulares, Rodrigo? Se não, entre na roda!
Andiara q matéria linda!!!
Ler sua descrição da Gwyn é como se ela estivesse em nissa frente novamente!
Me emocionei ao lê -la.
Parabéns pela excelente matéria, e pelo trabalho q vc faz!
Obrigada, Rosane, mas o mérito é todo da Gwyn, que é esta pessoa linda. Beijão