O Hino da Pérola III – Raul Branco
O Hino da Pérola III – Raul Branco
I – A Jornada interior:
Nosso herói retorna pelo caminho pelo qual viera. A direção do oriente simboliza a direção de onde vem a luz. Portanto, a alma dirige-se para as alturas espirituais, o que também significa, voltar-se para o seu interior.
Ocorre agora uma aparente contradição. O herói encontra, no caminho diante de si, a mensagem que o havia despertado. É como se houvesse um segundo encontro com a mensagem.
Como o herói está liberto das limitações do corpo físico. Então agora pode perceber o que se encontra no recôndito de seu ser.
A expansão de consciência, que inicialmente despertou a sua audição sutil, agora desperta também a sua visão espiritual.
Essa parece ser a tendência da maior parte dos aspirantes na Senda. Primeiramente a audição espiritual é desperta e só mais tarde a visão.
Segue adiante, portanto, reconfortado pela voz amorosa do mestre interior e por visões diáfanas das vestes reais do mundo celestial.
A Voz é o aspecto feminino do poder. E a Luz, o masculino, que guia, controla e ordena. A Voz e a Luz também podem ser interpretadas como sendo a Verdade Eterna, como nas Odes de Salomão.
Ele vê as vestes mas ainda não pode vesti-las, pois não entrou no mundo da luz. A crescente expansão de consciência que nosso nobre experimenta é descrita como uma viagem. Assim, é dito que ele deixa para trás o Labirinto e a Terra de Babel, chegando a Maishan.
O lugar de intercâmbio entre os mundos espiritual e material. Uma vez transposto esse limite, expresso como ‘a costa’ onde se localiza a Maishan simbólica, aparecem os distribuidores do tesouro. Portanto a Veste de Glória que havia sido deixada na casa do Pai.
II – O reencontro consigo mesmo:
Mais uma surpresa: a veste se parece como a imagem dele mesmo. O reencontro consigo mesmo. O reconhecimento de sua imagem primordial e a união com ela significam o verdadeiro momento da salvação.
O fato de a veste parecer-se com seu dono é de grande importância em todas as tradições esotéricas. O conhecimento de nossa verdadeira natureza só pode ser realmente obtido através da gnosis. Quando então percebemos todas as implicações de sermos a centelha divina interior, unos com o Pai. E, portanto, com todos os seres.
Os tesoureiros apresentam-se como dois seres com uma única forma. Inegavelmente representando a verdade oculta de que, no mundo da manifestação, toda unidade apresenta-se de forma dual. Cada ser de luz é completo trazendo em si os dois aspectos da totalidade, masculino e feminino, força e forma.
Os dois tesoureiros também representam o Mestre instrutor, que até então havia guiado ocultamente o jovem nobre. E o Grande Hierofante que concede a Iniciação, ou seja, a Veste de Luz que simboliza a iluminação suprema.
Os fiéis depositários dos tesouros do Rei finalmente entregam a recompensa prometida ao herói, a veste gloriosa.
A veste cravejada de jóias, os tesouros espirituais, tem estampada a Imagem do Rei dos Reis. Ou seja, é uma expressão do Supremo.
Ele, então, percebe que ‘movimentos de gnosis abundavam em toda a extensão (da veste) que estava se preparando como que para falar.’
A consciência da unidade faz com que a gnosis suprema seja concedida. Desvelando, outrossim, a verdade sobre todas as coisas diretamente à mente.
III – A iniciação final:
Pelas palavras da veste fica claro que o conquistador recebeu a iniciação final que o torna um super-homem. Um Mestre de Compaixão e Sabedoria.
Isso é confirmado pelo Nobre que diz:
‘E percebi em mim como minha estatura aumentava com sua atividade.’
Decerto o próximo passo é a cerimônia de posse da veste. Que simboliza o grande esplendor que deve ser a cerimônia de iniciação de um Mestre.
A beleza colorida da veste e o manto de cores resplandecentes expressam o fato de que ao tornar-se Uno com o Todo, o Adepto tem a seu alcance os poderes dos sete raios. Posto que simbolizados pela profusão de cores.
Finalmente o vencedor coloca a veste de luz e o manto de poder. Então ascende ao ‘Portal das Boas Vindas e da Reverência’. Onde inclina-se e presta homenagem à glória do Pai.
Esse o recebe com alegria, da mesma forma como o Pai agiu na parábola do filho pródigo. E todos os súditos do Reino participam das comemorações. Pois mais um Filho de Deus, ou um raio do Sol Espiritual, retornou à fonte depois de cumprida sua missão.
[3] H.P. Blavatsky, A Voz do Silêncio, ( Editora Pensamento)
[4] “Ascendi à luz como se na carruagem da Verdade, a Verdade guiava e me levava. Ela me carregou sobre golfos e abismos e me agüentou na subida de gargantas e vales. Ela tornou-se para mim um porto de salvação e colocou-me nos braços da vida eterna.” (Ode 38, 1-3)
[5] A idéia de que a Veste é sua imagem também foi expressa por Paulo: “E nós todos que, com a face descoberta, refletimos como num espelho a glória do Senhor, somos transfigurados nessa mesma imagem, cada vez mais resplandecente, pela ação do Senhor, que é Espírito.” (II Cor 3,18)
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