Zé Pelintra e a Linha dos Malandros I

Zé Pelintra e a Linha dos Malandros I

José Phelintra nasceu filho de uma Negra e de um Português no sertão de Pernambuco.

Logo após, ainda muito jovem, migrou para Recife fugido da seca.

Se tornou um mulato forte e ágil, assim como um grande jogador e bebedor, mulherengo e brigão.

Manejava uma faca como ninguém, e por certo, enfrentá-lo numa briga era o mesmo que assinar o atestado de óbito.

Os policiais já sabiam do perigo que ele representava.

Desde muito jovem Zé Pelintra aprendeu a se virar nas ruas da então zona Portuária do Recife.

O respeitado Zé Pelintra

Dificilmente encaravam-no sozinhos.

Sempre em grupo, e mesmo assim, não tinham a certeza de não saírem bastante prejudicados das pendengas em que se envolviam.

Decerto, não era mau de coração, muito pelo contrário, era bondoso, principalmente com as mulheres, as quais tratava como rainhas.

Sua vida era à noite.

Sua alegria, as cartas, tanto quanto os dadinhos e a bebida, a farra.

Não dispensava as mulheres e por que não, as brigas.

Jogava para ganhar, porém, não gostava de enganar os incautos.
Desse modo, sempre lhes dispensava, mandava embora, mesmo que precisasse dar uns cascudos neles.

Pelo contrário, aos falsos espertos, os que se achavam mais capazes no manuseio das cartas e dos dados, a estes enganava o quanto podia

Considerava-lhes os verdadeiros otários, e lhes incentivava ao jogo.

Perdia de propósito quando as apostas ainda eram baixas, porém, limpando-lhes completamente ao final das partidas.

Porém, a certa época , Zé simplesmente deixou de ser visto nos lugares em que sempre frequentou.

E aí existem duas possibilidades para tal desaparecimento.

A primeira diz que Zé foi assassinado, pelas costas.

Por certo, fora apunhalado por uma de suas mulheres possuída pelo ciúme e por isso nunca mais foi visto.

O detalhe é que o túmulo de Zé Phelintra, em Alhandra , cidade ao Sul do Recife , vazio, é algo simbólico.

Nunca houve um corpo para ser enterrado lá.

A segunda, na qual prefiro acreditar, diz-se que se cansou da cidade e da vida boêmia e se retirou para o sertão.

Portanto, partiu em busca de suas raízes e de respostas para questões internas.

Zé Pelintra tinha cerca de 40 anos nesta época.

Lá conheceu o culto do Catimbó ( culto de feitiçaria que combina a magia branca europeia com elementos ameríndios e católicos, é chefiado por um ‘mestre’ que defuma os assistentes com seu cachimbo, e a quem se recorre para resolver problemas diversos.

Por metáfora também significa “cachimbo” principal instrumento usado durante esse Ritual).

Por conseguinte, após anos de dedicação é “Juremado” ou seja , se torna um dos mestres do Catimbó.

<h4<Suas mãos curavam os enfermos

Em decorrência disso, até hoje muitos se referem a Zé Pelintra ( adaptado de seu sobrenome Phelintra e que nenhuma conotação tem com Pilantra ) a outorga de “ Seu Doutor”.

No nordeste , no culto do Catimbó a figura de Zé , do Doutor dos pobres tinha conotação bem diferente da que o popularizou.

Era bem diversa da que conhecemos hoje.

Pelo contrário, lá , nada de terno de linho e gravata alinhada.

Outrossim, camisa branca , surrada , calça com as pernas dobradas e chapéu de palha.

Seus elementos de trabalho eram o cachimbo da Jurema e as ervas.

A figura do Malandro Carioca que vem como arquétipo na Umbanda só surge muitos anos depois.

Surge, depois que Zé Pelintra já não existia mais no plano físico.

Logo depois do Mestre, do Padrinho do Doutor já ter passado por sua ascensão ao Reino da Jurema, o local sagrado onde vivem os Mestres do Catimbó, religião forte do Nordeste.
Entretanto, algumas fontes sugerem que Zé acenciona à Jurema com 114 anos já vividos na terra.

Grande parte deles trabalhando em prol dos menos favorecidos.

E é sobre esta figura, a do bom Malandro, que aparece nos terreiros cariocas.

Figura tanto controversa quanto mal compreendida, e por essa razão, trataremos dela no próximo texto.




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Marcio Henriques

Márcio Henriques, Professor, Sacerdote de Umbanda em Formação, Teólogo de Umbanda Sagrada Formado pelo colégio Pena Branca. @uma_banda_ead @machenriques contatoumabanda@gmail.com nosso canal no youtube : https://www.youtube.com/channel/UCGDMO_-kpi8iaPBOjxTQoFQ

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