A Caixa de Pandora – parte I

A Caixa de Pandora – parte I

Por Sérgio Pereira Alves

Eu sempre achei interessante falar sobre este tema: Mitologia. Isto para mim inegavelmente tem uma relação estreita com outros assuntos da Psicologia Analítica. Principalmente com os conceitos ligados às imagens arquetípicas.

I – Mitologia e os símbolos:

Decerto é este ponto em comum com os símbolos, embora eles em si representarem algo extremamente vasto. Um símbolo possui infinitos significados.

E, portanto, nisso diferindo de um signo, porquanto ser um sinal que possui apenas um significado.

Contudo, mesmo que não reconheçamos o significado de um determinado símbolo em uma narrativa mitológica, Inegavelmente, a estória ainda nos fascina.

Isso se dá, porque de alguma forma, reconhecemos nela algo que está intimamente relacionado com a nossa própria história.

Ou ainda, com algo que vem do fundo de nosso ser.

Entretanto, um mito pode tanto ser um relato do que se compreendia como sendo a história da humanidade, quanto como a história de nossa humanidade, enquanto indivíduos.

II – A análise do mito:

Ademais, em todo mito seus personagens estão intimamente interligados da mesma forma que nossos conteúdos inconscientes.

O difícil mesmo é conseguirmos compreender uma pequena parte de uma estória.

Incontáveis vezes possui tanto múltiplas conexões, quanto desdobramentos.

Como acontece internamente, é difícil conseguirmos separar o significado de um fato isolado de um contexto geral em nossas vidas.

Aliás, a estória de Pandora, “aquela que possui todos os dons”, não foge à esta regra.

E para que vocês possam ter uma visão mais global deste mito eu vou lhes dar um breve relato daquele momento histórico.

Porém,  a história de Pandora começa bem antes da própria Pandora.

III – A gênese mitológica:

Antes que o Céu e a Terra fossem criados, tudo era Um. Isso era chamado de Caos. Um grande Vazio sem forma onde potencialmente continha a semente de todas as coisas.

A terra, a água e o ar eram um só.

A terra não era sólida, nem a água líquida e o ar não era transparente.

Mas aí os Deuses e a Natureza começaram a interferir. A terra foi separada da água e, sendo mais pesada, ficou em baixo.

A água tomou os lugares mais baixos da terra e a molhou.

E o ar, quando tornou-se mais puro, ficou no alto. Formando o céu onde as estrelas começaram a brilhar.

Foi dada então aos peixes e a alguns outros seres a possessão do mar.

Aos pássaros, o ar.

E aos outros seres, a terra.

IV – A criação do homem:

Porém, um animal mais nobre, onde um espírito pudesse ser alojado, tinha que ser feito.

E aí surgiu a idéia de se criar o Homem.

Esta tarefa coube a Prometeu (“aquele que prevê”) e a seu irmão Epimeteu (“aquele que pensa depois” ou “o que reflete tardiamente”).

Estes eram filhos de Jápeto, que por sua vez era filho de Urano (Céu) e de Geia (Terra). Portanto, descendiam da primeira geração dos gigantes destronados por Zeus, os Titãs.

No entanto, eles haviam sido poupados da prisão por não terem lutado contra os Deuses na disputa para dividir os territórios.

V – Prometeu cumpre a tarefa:

Para executar sua tarefa, Prometeu sabia que nas entranhas da terra dormiam algumas sementes dos céus.

Então, pegando em suas mãos um pouco de terra, molhou-a com a água de um rio e obteve argila.

Moldou-a, cuidadosamente, carinhosamente, até obter uma imagem que fosse semelhante a dos deuses. Mas ainda faltava dar vida àquele boneco.

Epimeteu havia criado todos os animais, dotando cada um deles. Com características tais como a coragem, a força, os dentes afiados, as garras, etc.

Como o homem foi criado por último, o estoque das qualidades estava reduzido.

E então, Prometeu procurou por características boas e más nas almas dos animais. E colocou-as, uma a uma, dentro do peito do homem. E o homem adquiriu vida.

No entanto, ainda faltava alguma coisa, algo mais forte, o Sopro Divino. Prometeu tinha uma amiga entre os deuses, Atená, deusa da Sabedoria. Esta admirou a obra do filho dos Titãs e insuflou naquela imagem semi-animada um espírito.

E os primeiros seres humanos passaram a caminhar sobre a terra, povoando-a.

Bibliografia:
BRANDÃO, Junito Souza – Mitologia Grega , vol. I, ed. Vozes.
HAMILTON, E. – A Mitologia [ trad. M.L. Pinheiro ] – Lisboa: Dom Quixote, 1983.
Ésquilo, Prometeu acorrentado. Editora vozes.
GRIMAL, P. – Dicionário da Mitologia Grega e Romana [ trad. V. Jabouille ] – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2ª ed., 1993.
Hesíodo. Os trabalhos e os dias. Tradução de Mário da Gama Khuri
Hesíodo, Teogonia. Tradução de Mário da Gama Khuri.
VERNANT, J.-P – O universo, os deuses, os homens – São Paulo: Cia. das Letras,
MÉNARD, René. – Mitologia Greco-Romana, vol. I, Fittipaldi Editores Ltda, São Paulo, 1985.
MEUNIER, Mário. Nova Mitologia Clássica. -: Ibrasa,1976., 2000.
KERÉNYI, K. – Os deuses gregos [ trad. O.M. Cajado ] – São Paulo: Cultrix, 1993.
KERÉNYI, K. – Os heróis gregos [ trad. O.M. Cajado ] – São Paulo: Cultrix, 1993.
KHURY, Mário da G. Dicionário de Mitologia Grega e Romana. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.




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