LILITH e MARIA

LILITH e MARIA – A TENSÃO DO ARQUÉTIPO

A melhor exibição de Lilith é como feminino ctônico, ligado às profundezas, especialmente à sexualidade e suas infinitas variações.

Ela se opõe a um outro feminino idealizado na figura de Maria, a Virgem, Puríssima , Imaculada, Santíssima.

Lilith é seu inverso.
Seus epítetos são outros, conquanto é tida como a Grande Prostituta, a Lua Negra.
De tal forma que como íncubo, pode fecundar as bruxas e multiplicar os demônios.
Enquanto que como súcubo, aproveita-se das poluções noturnas de homens solteiros que dormem sozinhos.

Lilith e Maria – luz e sombra do mesmo arquétipo feminino

Lilith é demônio sedutor, de tal sorte que é capaz de metamorfosear-se na imagem da mulher amada.
Assim como da mulher desejada, com o único intuito de levar o homem à perdição.
Vista no céu, é um mau pressagio.
Ela é constituída do segundo buraco negro da órbita astronômica lunar.
Em contraste com a benignidade de Maria, a theotókos, isto é, a Mãe de Deus, Lilith é a Mãe de todas as malignidades.

Na imaginação delirante dos homens, ela é o negro vampirismo que ataca “por baixo”.

Lilith e suas sucessoras medievais são a donas do sexo.

Ela pode reprimir a ereção do membro na hora da fecundação, pode amputá-lo.
Pode inclusive, fazer com que o enamorado veja a sua amada como um ser abominável.
Pode deter a ejaculação e, ao inverso de tudo isso, dar ao homem e/ou mulher prazer carnal impensável, promovendo escravidão eterna a ela/ele.

Capturar-lhe a alma pelo prazer sexual: eis o que os padres da Igreja temiam.
Foi essa obsessão sexual que os levaram a perseguir, prender, torturar e matar na fogueira – e aqui não se deve desprezar o simbolismo do fogo como elemento erótico, como metamorfose perversa da libido sexual – milhares de mulheres inocentes.

Lilith e Maria – a renegada e a exemplar

Para proteger-se dos sortilégios de Lilith as mulheres deveriam se mirar e imitar Maria, aquela que foi concebida sem mácula.
Entretanto, ainda assim, mesmo que se devotassem completamente à imitação da Theotokos; elas , as mulheres, não conseguiriam escapar da maldição de serem mulheres.

Amaldiçoadas desde a concepção como se pode ler neste texto iníquo escrito pelo papas da inquisição, os dominicanos Heinrich Kramer e Jacob Sprenger:

“Porque, sem dúvida, se não existisse as iniquidades das mulheres, mesmo não falando de bruxaria, atualmente o mundo permaneceria livre de inumeráveis perigos”.

Todavia, o que esses homens perversos negavam, era o desejo sexual pelas mulheres.

Faziam-no de maneira tão severa, que esqueciam completamente que a mulher, como tudo que existe no mundo, é criação de Deus.

Enlouquecidos de tesão reprimido por debaixo da batina, eles ofendem a obra do Criador destituindo a mulher de dignidade humana.
Idealizam portanto,que o mundo seria melhor se as mulheres não existissem!

PREFERIRIAM um mundo habitado apenas por homens!

O desejo sexual reprimido alcança aqui o paroxismo do pavor que exerce sobre estes homens castos.

Há algo ali, no corpo desejoso das mulheres, que os ameaçam profundamente.
E de tal forma, que um dispositivo de controle precisa ser rapidamente inventado.
Dispositivo esse, para conter o risco de um explosão que destruiria completamente a tão frágil quanto ilusória construção de um mundo espiritual que nada mais era do que um aglomerado de projeções patológicas sexuais masculinas sobre a inefável realidade divina.




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José Raimundo Gomes

J. R.GOMES é psicólogo clínico no Rio de Janeiro. Tem consultório na Tijuca e na Barra. Contato: jrgomespsi@yahoo.com.br / WhatsApp: 21.98753.0356

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