O IORUBA E O TEMPO:

O IORUBA E O TEMPO:

I – O tempo ioruba não é linear:

Decerto o tempo para o ioruba não é linear, com início, meio e fim. Para eles, o tempo é sincrônico, onde passado, presente e futuro coexistem.

A reversibilidade do tempo, na concepção ioruba, é inegavelmente revelada no mito de Exu, cujo verso diz que “Exu matou um pássaro amanhã com a pedra que atirou ontem”.

Os acontecimentos, as decisões, as vivências não são desenroladas com início, meio e fim. Estas estão sempre sujeitas às oscilações resultantes dos efeitos do etéreo-sagrado no material-profano e vice-versa.

Assim, para os iorubas, a contagem da semana tem quatro dias. A noção de dia é ligada a tarefa a ser desempenhada em determinado período de tempo. E o dia é assimilado não pela medição cronológica, mas pelo espaço entre o nascente e o poente.

II – O princípio da ancestralidade:

Aliás, o princípio da ancestralidade nesta cultura é basilar. Ela dá ao iorubano a noção de que este carrega anteriormente consigo seus ancestrais, tanto na genética, como na espiritualidade. De modo que a religiosidade iorubana gira em torno do culto aos ancestrais: Orixás, Eguns, Esás, Iyá Mi.

Os ancestrais mortos podem se tornar deuses e assim agirem e interagirem com os vivos. E assim a morte não os afasta, mas os põe em outra dimensão. Pelo contrário, os une em um aspecto outro: agora como divindades e adeptos.

Na Cultura ioruba, os Homens são descendentes diretos de seus Orixás.

III – Presente é passado se fundem:

A ancestralidade é um elo que ata o Homem que vive hoje no presente, aos seus ascendentes mais remotos no passado. E estes conseguem conviver juntos, unidos e solidários durante os Cultos e rituais, onde dançam e celebram no mesmo espaço e no mesmo momento.

O transe é um momento mágico onde passado e presente, ocupam um único campo físico: o corpo do Homem; e ali, unidos, enredam as condições para o futuro.

Mais uma vez a noção peculiar de tempo na cultura ioruba permite esta composição poética entre os seres e os seus antepassados divinizados.

Márcio de Jagun
ori@ori.net.br




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Marcio Righetti

Márcio de Jagun, Babalorixá, professor de cultura e idioma ioruba na Uerj e na Uff, escritor e advogado. tel.: 99851-6304 (cel/wz) e-mail: ori@ori.net.br Facebook: Márcio de Jagun blog.ori.net.br

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