O maior poeta negro da historia do Brasil: CARLOS DE ASSUMPÇÃO

O maior poeta negro da historia do Brasil:
CARLOS DE ASSUMPÇÃO

Hino Nacional da luta da Consciência Negra Afro-brasileira, em celebração completou 87 anos de vida.

CARLOS DE ASSUMPÇÃO nasceu 23 de maio de 1927

Ao tentar perceber a que se prende a obra Quilombo, de Carlos de Assumpção, deve-se ter em mente que o autor encarrega-se de um universo poético o qual perpassa o âmbito da literatura marcada por uma forte militância, pela crítica ao preconceito enraizado na cultura brasileira e ainda pela afirmação ou recuperação da identidade negra perdida. Outros aspectos caracterizadores da obra aqui analisada, e que funcionam como formas de se reconhecer a literatura negra – a partir dos pressupostos definidos por Zilá Bernd para esta linhagem – são: “conscientização, comunicação em particular com o sentimento negro, reencontro da verdadeira imagem, visão do negro livre de estereótipos e evidência de uma intencional atitude de resistência” (BERND, 1987, p. 81).

Este último ponto talvez possa ser considerado um dos mais definidores da produção poética de Carlos de Assumpção, uma vez que se encontram em sua obra vários momentos que tratam deste assunto em especial.

Sua poesia está indelevelmente marcada pelo engajamento militante com a afro descendência, como em “Canto dos Ancestrais”: “minhas irmãs, meus irmãos / Os ancestrais fazem de mim seu instrumento”. Essa herança é invocada para emoldurar o comprometimento do poeta com a causa de todos os oprimidos: “Saibam que minha luta / Está enraizada nas lutas dos meus avós / e também saibam que minha luta / Não é só minha / É luta de todos nós.” (1984, p. 18-9). Assim, passado e presente são invocados e o eu poético se coletiviza num nós que clama pelo resgate do papel histórico exercido pela diáspora africana no Brasil. Em “Complexo”, Assumpção denuncia a “nação que tem vergonha de si mesma” e que deseja apagar a presença da cultura afro-brasileira pela via da discriminação racial: “Eu era livre na África / Não vim aqui porque quis / De repente precisaram de braços que construíssem este país / E me arrebataram para cá preso em correntes / […] Fui eu (repito e repetirei sempre) fui eu quem construiu o que esta nação tem / Não quero saber de coisa alguma / Só sei que esta nação é minha também” (1984, p. 19).

É este tom militante que caracteriza a maior parte de sua produção.

Como uma outra exemplificação desta poesia de resistência, atentaremos para o poema de maior expressão do autor, importante referência para aqueles que se identificam com a causa da negritude:

O mestre Milton Santos dizia os versos do Protesto e o discurso de Martin Luther King, Jr. em Washington, D.C., a capital dos Estados Unidos da América, em 28 de Agosto de 1963, após a Marcha para Washington. «I have a Dream» (Eu tenho um sonho) foram os dois maiores clamores pela liberdade, direitos, paz e justiça dos afros americanos.

São centenas de jornalistas, críticos e intelectuais do Brasil e de todo mundo que elogia a (O Protesto) (Manifestação que é negra essência poderosa na transformação dos ideais do povo) obra enaltece com eloquência o divisor de águas inquestionável do racismo e cordialidade vigente do Brasil Mas a ditadura e o monopólio da mídia e manipulação das elites que dominam o Brasil censuram o poema Protesto de Carlos de Assunpção que é nosso protesto histórico e renasce e manifesta e congregam os negros e todos os oprimidos, injustiçados desta nação que faz a Copa do Mundo gastando bilhões para uma ilusão de um mês que poderá ser triste ou alegre para o povo brasileiro este mesmo que às vezes não tem ou economiza centavos para as necessidades básicas e até para sua sobrevivência e dos seus. No Brasil.

No poema intitulado “Protesto”

, carrega em suas palavras um símbolo de força e reconta a história do negro a partir de seu próprio ponto de vista, superando dessa maneira, a ótica do branco, muitas vezes deformadora do verdadeiro passado dos escravos no Brasil. Esta elite branca que no período escravocrata declarou livre o contingente negro do país “sob ovações e rosas de alegria”, para usar as palavras do poeta, não escapou de ser ironizada nos versos de Carlos de Assumpção. A Lei Áurea é constantemente discutida pelo autor, de tal forma que encontramos referência a ela em quatro poemas no interior de Quilombo.

No poema “Lei Áurea”

, o caráter irônico evolui para o sarcasmo rebaixador:

Poema. Protesto de Carlos de Assunpção

Mesmo que voltem as costas
Às minhas palavras de fogo
Não pararei de gritar
Não pararei
Não pararei de gritar

Senhores
Eu fui enviado ao mundo
Para protestar
Mentiras ouropéis nada
Nada me fará calar

Senhores
Atrás do muro da noite
Sem que ninguém o perceba
Muitos dos meus ancestrais
Já mortos há muito tempo
Reúnem-se em minha casa
E nos pomos a conversar
Sobre coisas amargas
Sobre grilhões e correntes
Que no passado eram visíveis
Sobre grilhões e correntes
Que no presente são invisíveis
Invisíveis mas existentes
Nos braços no pensamento
Nos passos nos sonhos na vida
De cada um dos que vivem
Juntos comigo enjeitados da Pátria

Senhores
O sangue dos meus avós
Que corre nas minhas veias
São gritos de rebeldia

Um dia talvez alguém perguntará
Comovido ante meu sofrimento
Quem é que esta gritando
Quem é que lamenta assim
Quem é

E eu responderei
Sou eu irmão
Irmão tu me desconheces
Sou eu aquele que se tornara
Vitima dos homens
Sou eu aquele que sendo homem
Foi vendido pelos homens
Em leilões em praça pública
Que foi vendido ou trocado
Como instrumento qualquer
Sou eu aquele que plantara
Os canaviais e cafezais
E os regou com suor e sangue
Aquele que sustentou
Sobre os ombros negros e fortes
O progresso do País
O que sofrera mil torturas
O que chorara inutilmente
O que dera tudo o que tinha
E hoje em dia não tem nada
Mas hoje grito não é
Pelo que já se passou
Que se passou é passado
Meu coração já perdoou
Hoje grito meu irmão
É porque depois de tudo
A justiça não chegou

Sou eu quem grita sou eu
O enganado no passado
Preterido no presente
Sou eu quem grita sou eu
Sou eu meu irmão aquele
Que viveu na prisão
Que trabalhou na prisão
Que sofreu na prisão
Para que fosse construído
O alicerce da nação
O alicerce da nação
Tem as pedras dos meus braços
Tem a cal das minhas lágrima
Por isso a nação é triste
É muito grande mas triste
É entre tanta gente triste
Irmão sou eu o mais triste

A minha história é contada
Com tintas de amargura
Um dia sob ovações e rosas de alegria
Jogaram-me de repente
Da prisão em que me achava
Para uma prisão mais ampla
Foi um cavalo de Tróia
A liberdade que me deram
Havia serpentes futuras
Sob o manto do entusiasmo
Um dia jogaram-me de repente
Como bagaços de cana
Como palhas de café
Como coisa imprestável
Que não servia mais pra nada
Um dia jogaram-me de repente
Nas sarjetas da rua do desamparo
Sob ovações e rosas de alegria

Sempre sonhara com a liberdade
Mas a liberdade que me deram
Foi mais ilusão que liberdade

Irmão sou eu quem grita
Eu tenho fortes razões
Irmão sou eu quem grita
Tenho mais necessidade
De gritar que de respirar
Mas irmão fica sabendo
Piedade não é o que eu quero
Piedade não me interessa
Os fracos pedem piedade
Eu quero coisa melhor
Eu não quero mais viver
No porão da sociedade
Não quero ser marginal
Quero entrar em toda parte
Quero ser bem recebido
Basta de humilhações
Minh’alma já está cansada
Eu quero o sol que é de todos
Ou alcanço tudo o que eu quero
Ou gritarei a noite inteira
Como gritam os vulcões
Como gritam os vendavais
Como grita o mar
E nem a morte terá força
Para me fazer calar.

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
Historiadora-Pesquisadora

fonte: BERND, Zilá. Negritude e literatura na América Latina. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987.HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guaracira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.




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Claudia vitalino

UNEGRO-União de Negras e Negros Pela Igualdade -Pesquisadora-historiadora CEVENB RJ- Comissão estadual da Verdade da Escravidão Negra do Estado do Rio de Janeiro Comissão Estadual Pequena Africa. Email: claudiamzvittalino@hotmail.com / vitalinoclaudia59@gmail.com

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