Uma carta de Amor
Uma carta de Amor
Toda carta de Amor tem uma história, e essa se reporta à uma história que durou oito felizes anos.
Não é apenas uma carta de amor, é o símbolo de um rito de passagem na vida dos envolvidos.
Talvez ficasse relegada ao esquecimento caso não fossem dois amigos queridos que em momentos distintos lhe resgataram.
O primeiro deles, o Ricardo Oliveira, o querido Mago BR que logo no início da NET postou em sua Revista Virtual.
Nesse momento, outro amigo, o Mario Pietro que faxinou o material dos meus velhos CDs e a encontrou. A seu pedido ela está sendo publicada no site. Ele insiste que ela fala muito de mim. Me define, e que teria que estar no meu site.
Ambos conscientes da importância que ela teve em minha história de vida, aquiesci.
Estamos na semana dos Namorados e em perfeita sincronia, ela surgiu depois de décadas esquecida.
O termo Viajante se refere à maneira como foi declarado esse amor. A partir da música Viajante da Teresa Tinoco e na voz do Ney Matogrosso.
Amar é belo e essas delicadezas e sutilezas da vida mais lindas ainda.
De fato é uma carta de amor, e causou uma reviravolta na vida que nos proporcionou mais alguns anos de extrema felicidade.
Que seja bem vinda no outono da minha vida!!!
Rio, 2 de Setembro de 1993
Meu querido,
Me deparei com a necessidade de dizer adeus a um grande amor.
Por respeito a mim, às minhas filhas, e ao curso da vida.
A sensação que tive nesses últimos dias é de que fui testada.
As situações se atropelaram de tal forma, que o momento
pelo qual tanto ansiara, não me coube ser vivido.
Ainda não consegui fincar os pés inteiramente na realidade dos fatos, mas sei que estou
disposta a tentar ser feliz e de outra maneira agora.
Com você vivi o sonho, e nesse sonho, fui efetivamente feliz.
Chegou no entanto a minha hora de encarar a realidade e as coisas práticas da vida.
Resta-me ainda além do afeto por você, um grande respeito e admiração
pelo homem forte, honrado, íntegro e que sempre sai das situações de cabeça erguida.
Vejo-o como uma rocha. O meu rochedo que na travessia
do temporal da vida com sua segurança sempre me sustentou.
Busquei saber até que ponto toquei em seus sentimentos e pude concluir de nosso
relacionamento que fui feliz e fiz feliz, amei e fui amada.
Por amor me transformei e acredito ter-me tornado melhor.
Por mais de dois anos vivi em função de você e do meu afeto. Isso me fez bem.
Aprendi a esperá-lo e a curti-lo e isso me bastou.
Até me parece que a nossa felicidade ficou presa às quatro paredes do apartamento
do Flamengo, e não consigo imaginar que alguém possa nele penetrar
sem sentir a presença de nossos fantasmas.
A energia de um grande amor é poderosa e não se dissipa.
Os novos moradores terão que conviver com ela.
Foi naquele apartamento que experimentei a emoção de brincar de ser a mulher do homem amado.
E assim fui feliz, tão feliz, que cheguei a baixar o decreto criando o dia do homem amado: VOCÊ.
Brinquei ainda de mulherzinha no seu último aniversário,
quando fui a anfitriã de um momento que por direito era seu e dos seus. Mas me iludi.
E na ilusão fui feliz.
Aqui, nesse novo lugar, voltei ao convívio com os humanos e sabia,
precisava buscar um papel humano também para mim.
Não poderia mais brincar de representar um papel mítico, um conto de fadas.
Tinha que crescer. Exatamente aqui, começava o mundo da realidade
e em resposta a isso, busquei nossa separação.
Ainda assim, tive que digeri-la, engoli-la e continuar a viver.
Busquei ser forte e não cair.
Vivi percalços que tiveram consequências.
Abandonei projetos, fechei a loja, a fábrica, matei alguns sonhos e novamente me transformei.
Ainda havia em meu inconsciente o “sonho”, e evidentemente, nesse sonho morava você.
A prática da vida no entanto, me levou a concretizar ligações que de esporádicas
foram se transformando em rotineiras, e com isso, a cobrança de uma postura coerente.
Cedi às normas da vida e hoje tento escapar do sonho.
Busco encará-lo como a um amigo, mas sem jamais renegar nosso sonho, mesmo fora dele.
Pois foi ele quem me serviu de ponte para dois momentos cruciais em minha vida.
Passei da amargura e da frustração das ligações fracassadas
para o período de paz de quem ainda é capaz de acreditar no amor.
Fiz a travessia, e você “meu viajante”, foi o barqueiro que
com perícia soube segurar o leme.
Por amor me transformei,
Pela primeira vez soube o que era ser feliz com um homem,
e esse homem, escrevia-se com “H” maiúsculo.
Por tudo isso, desejo tudo de bom nesse seu aniversário.
E, cabe-me ainda dizer, que jamais lhe apagarei da minha vida.
Até porque não o quero. Não poderia retirar o alicerce dessa minha construção.
À você devo o que de sólido me restou.
Foi “o sonho” que me serviu de base e me libertou.
A dor da perda teve um objetivo. Nada foi em vão. Abandono o sonho e vou em busca da vida.
“Existe uma lenda acerca de um pássaro que só canta uma vez na vida.
Desde o nascer, logo ao sair do ninho, sai a procura de um espinheiro-alvear.
E quando o encontra, empala-se no acúleo mais delgado e mais comprido e aí então,
entoa um canto mais sonoro que o da cotovia ou do rouxinol.
Um canto superlativo, cujo preço é a própria existência. E até Deus pára para ouvi-lo.
Pois o melhor, assim como a liberdade, só se adquire às custas de um grande sofrimento”
Feliz aniversário, amigo
Feliz aniversário, amor (ainda viveremos o sonho por completo em alguma existência)
O corpo morre, mas a alma é eterna.
Adeus viajante,
Bem vindo amigo.
Claudia