Homenagem à escrotice usual de Danilo Gentili
Homenagem à escrotice usual de Danilo Gentili
Em homenagem à escrotice usual de Danilo Gentili que traveste de humor subversivo seu fascismo cotidiano, reposto agora um artigo que publiquei na e-revista Língua de Trapo:
“Você é o que você ri”
Fazer humor é mais que uma profissão – é um exercício de vocação, que envolve basicamente compreender as raízes do riso alheio.
Entendo que há muitos tipos diferentes de humor, todavia a única estratificação importante é a que o divide em “humor de qualidade” e em “humor rasteiro”.
O humor de qualidade transcende o ato de fazer rir, pois seu objetivo primordial é provocar reflexões; o humor rasteiro caça a risada vazia, comercial e sem eco.
O humor de qualidade é elaborado e leva inexoravelmente seu público a pensar; o humor rasteiro é imediatista e despenca sua plateia no riso atávico, estúpido e infantilizado, assim como os alunos do “fundão” das salas de ensino fundamental gargalham quando o colega abobalhado grita um palavrão.
O humor de qualidade não tem limites, mas sua ilimitação está relacionada à criatividade; o humor rasteiro usa o pretexto da ausência de fronteiras apenas para destilar discriminações e legitimar ofensas.
O humor de qualidade é revolucionário, tem papel social e é arma letal contra agentes opressores; o humor rasteiro é fascista, de gosto duvidoso e mira covardemente em alvos como minorias, homossexuais, negros e mulheres violentadas.
O humor de qualidade agrada pessoas inteligentes e que gostam de concepções humorísticas bem elaboradas; o humor rasteiro atrai idiotas, preconceituosos e intolerantes acostumados a rir da desgraça alheia.
O humor de qualidade conta em seu arsenal com armas como a inteligência, a ironia, a metáfora e a linguagem subliminar; o humor rasteiro armazena em seu paiol o simplismo, a linguagem chula, as ridicularizações sectárias e as agressões gratuitas.
O humor de qualidade abraça figuras e grupos célebres como Monty Python, Pasquim e Charlie Chaplin; o humor rasteiro é representado pela escória intelectual que contempla Danilo Gentili, Pânico na TV e Rafinha Bastos.
Em última análise, o humor de qualidade é construído; o humor rasteiro é escarrado.
E diferenciar estes dois tipos de humor ganha importância à medida que uma das melhores maneiras de se conhecer alguém é observar do que se ri.
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