Uma resposta óbvia e incisiva
Uma resposta óbvia à uma pergunta
Essa semana recebi uma pergunta pelo whatsapp via site sobre qual a opção religiosa do site Grupo Meio do Céu
Portanto, vamos à ela a fim de dirimirmos quaisquer dúvidas com relação ao tema.
Em princípio, desde que o homem surgiu sobre a terra, ele busca de alguma forma traduzir através tanto de ritos, quanto de danças, etc… algo que para ele era o óbvio.
Essa sua percepção era da existência de algo maior do que ele mesmo e que o transcendia. Sobretudo, algo sobre o qual não tinha controle.
Inicialmente, isso não precisava ser buscado nos céus, pois estava inserido no contexto do todo ao qual tinha pertencimento.
O homem assim como essa força maior, eram uma continuação um do outro; e assim sendo, essa força maior era uma extensão de si mesmo.
Era tempo de unidade, e o homem não se sentia como uma personalidade autônoma e independente da fonte da qual proveio e tampouco, como sendo algo separado de sua própria comunidade.
Com o passar do tempo, deixando de viver em sintonia ourobórica com a natureza, tanto vivendo em pólis como em agrupamentos maiores, o cenário muda.
Ele passa a entender-se como uma personalidade individual, e é aí que surge a noção do eu e do outro. Essa percepção de um certo isolamento, lhe leva a efetuar mais e mais projeções.
Passo a passo, assim como dia a dia, ele começa a separar-se de sua fonte original, que não só lhe dava segurança como a sensação de pertencimento do todo.
Ao mesmo tempo, ele sente-se mais isolado e menos protegido.
Assim que, em busca de uma maior segurança, e também, para que possa acercar-se dessa fonte, busca nas diversas religiões, formas alternativas que lhe sustentem.
Uma delas, a de sair do tempo profano, cronológico, no qual ora vive, para por instantes, voltar às origens.
Com seus ritos, o homem reintegra-se àquele tempo que sente perdido. Sai portanto em busca nas diversas religiões, do suporte necessário para se conectar a Deus.
Lamentavelmente, nem sempre como algo que por si só também transcenda às máscaras adotadas por essa ou aquela linha religiosa.
“Deus pode estar simultaneamente em dois ou mais lugares – como uma melodia e sob a forma de uma máscara tradicional. E onde quer que ele surja, o impacto de sua presença é o mesmo: ele não é reduzido pela multiplicação.” 1
O site Grupo Meio do Céu, entende o fator religiosidade como algo inerente a todo ser humano.
Ele decerto consiste numa busca de centralização. É um arquétipo de organização espiritual.
Essa busca procura nos retirar do caos lançado pela separação entre consciente e inconsciente, para nos conectar com algo maior.
Esse algo maior se traduz como a transcendência de nossa humanidade.
O ser humano então, necessita para isso, tanto de nosso corpo material como de nosso fator religioso interno.
Entendemos portanto, que a tomada de consciência passaria por vivenciarmos também internamente cada um dos estágios vivenciados por nossos antepassados. Aqueles que nos antecederam e que viviam em comunhão com o todo.
Os verdeiros e primevos ecologistas.
“No curso de seu desenvolvimento ontogenético, a consciência individual do ego tem que passar pelos mesmos estágios arquetípicos que determinaram a evolução da consciência na vida da humanidade.
Na sua própria vida, o indivíduo tem que seguir a estrada percorrida antes dele pela própria humanidade, estrada na qual essa deixou marcas impressas da sua jornada”2.
Jung sustenta que o telos maturacional da psique humana existe no sentido de um estado de consciência no qual o indivíduo tende a aproximar-se progressivamente de uma fonte interior. Fonte essa ao mesmo tempo de toda a consciência e, assim, de qualquer significado presente no universo.
“Creio, pois, que, no geral, a energia psíquica ou libido cria a imagem de Deus, valendo-se dos modelos arquetípicos, e que o homem, por consequência, venera a força psíquica do seu interior como algo divino” 3
Partindo desse pressuposto, o símbolo revela certos aspectos da realidade, os mais profundos, que desafiam outro meio de conhecimento.
As religiões, seriam por conseguinte. manifestações espontâneas ou projeções geradas por esses mesmos símbolos.
O caminhar do homem em suas marchas e contra-marchas rumo à Deus, ou ao que seu estado interior, reconheceu-se num dado momento como o retrato da divindade.
Antes de mais nada, abrimos esse espaço, onde as diversas religiões se apresentam, no sentido de facilitar que nossas realidades interiores se manifestem à nós.
Não no sentido de privilegiar quaisquer uma dessas manifestações e realidades interiores.
Outrossim, entendendo que cada um deles serve à mesma fonte interior que cultuamos. E dessa forma, cada uma delas é representativa do estado interno de cada um de nós.
Em resposta à isso, nossa atitude para com cada uma delas é de profundo respeito.
Restando-nos ainda, desejar que cada vez mais, em sua própria vida, interior e exterior se configurem num continuum absoluto.
Que a vida de cada um de nossos leitores seja norteada pelo sagrado, receba esse a denominação que for. Indo mais além, que ele se utilize da máscara que lhe convier como facilitadora da conexão, do diálogo, do religare.
Um forte abraço
Claudia Araujo
P/ Grupo Meio do Céu
1. Joseph Campbell, As Máscaras de Deus, Editora Palas Athena
2. Erich Neumann, História da origem da Consciência – Ed. Cultrix
3. C.G.Jung / Aniella jaffé, Memórias, Sonhos e Reflexões
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