Sombra – suas manhas e artimanhas II

Sombra – suas manhas e artimanhas II

Seguindo nosso tema sombra, eu gostaria de apontar para exemplos típicos de sombra. Porém, em primeiro lugar, vou falar sobre o fato de não nos conhecermos integralmente.

Vale uma reflexão sobre aonde está nossa sombra quando caminhamos. Sempre atrás de nós, nas nossas costas.

Quando eu caminho e deixo uma imagem de sombra em consequência da luz, ela decerto caminha nas minhas costas. Quanto maior a luz, maior será essa sombra. Entretanto, eu mesma não consigo vê-la.

Não obstante, indubitavelmente ela é minha.

Da mesma maneira funciona nossa sombra interior, ou seja, aspectos nossos internos que não reconhecemos em nós, mas partes nossas que são ilustres desconhecidas e que pela falta de reconhecimento tendem à regressão. Assim sendo, podem nos levar à frustração sem que saibamos localizar a causa.

De fato, somos retalhos soltos que necessitam ser costurados e unidos. Nossa totalidade pede e nos impulsiona para a confecção de uma colcha harmônica com esses retalhos.

Nossa vida é um eterno aprendizado de busca de conhecimento de quem somos efetivamente, e não de quem gostaríamos de ser. E o reconhecimento e união desses retalhos, decerto algo imprescindível.

Isso sem dúvida é uma busca durante toda nossa vida pois jamais nos reconheceremos em nossa integralidade. Jung deu um nome a esse processo de reconhecimento e integração dessas nossas partes: processo de individuação.

Vale atentar para o fato de que ele não chamou de individuação, outrossim, de processo de individuação.

Isso se dá exatamente pelo fato de ser uma busca por toda nossa vida. Ora avançando, ora regredindo, mas se descobrindo aos poucos e integrando essas partes à nossa consciência.

Nos momentos de falta de controle emocional, de pavor, de dor, momentos enfim, nos quais nosso ego não consegue manter o controle absoluto, ela se manifesta.

Quantos de nós com raiva já não dissemos coisas que não diríamos se estivéssemos de posse de nosso controle emocional? Da mesma forma, quantos de nós ao bebermos, também já não fizemos coisas que se estivéssemos sóbrios não faríamos?

Existe um fato bem dentro de casa que nunca me esqueço. Minha mãe sempre foi conhecida por sua fragilidade, sua docilidade e por ser medrosa.

Entretanto, há pouco mais de 40 anos atrás ela foi ao casamento de uma amiga minha e com jóias de alto valor que possuía na época. Na volta, foi seguida por um carro com três homens dentro, mas achou que tratava-se de coincidência de trajeto.

Ao abrir o portão de casa, entrou com o carro e ao fechar o portão, o motorista saltou com uma arma e empurrou minha mãe para dentro do jardim. Ela chegou a observar que os outros estavam com armas para fora do carro.

Pois bem, ele pediu que ela passasse as jóias para ele e não desse um pio senão seria morta. A arma encostada no peito dela e na outra mão um saco. A ¨frágil mulher¨ começou a narrar aos berros e em detalhes, tudo que estava acontecendo. Isso fez com que os vizinhos saíssem de suas casas e fossem olhar o que ocorria.

Os assaltantes levaram muito menos do que pretendiam. Se antes do fato alguém lhe perguntasse qual seria sua reação numa situação dessas, ela diria que desmaiaria ou morreria de susto.

Ela mesma passou muito tempo repetindo para nós: não fui eu que fiz isso. Não é possível. Eu nunca teria coragem para isso. Realmente, jamais vi minha mãe gritar seja em que situação for. Ela se encolhia nas situações e as engolia. Contudo, naquele momento, ela conheceu uma faceta que lhe era inteiramente desconhecida.

Só não poderia dizer que não era ela. Porque era.

Em decorrência de uma de uma deformidade física que lhe causava muitas dores, desde menina foi convencida de sua fragilidade.

No entanto, se observasse bem, mesmo antes disso, já havia demonstrado força e determinação em outras circunstâncias mas que foi tudo encarado como normal diante da situação.

Ficou viúva aos 38 anos com duas filhas adolescentes e vivia até então como um verdadeiro bibelot. Jamais havia viajado sozinha ou mesmo se preocupado com contas de casa.

Com a perda do meu pai e querendo garantir que o padrão de vida das filhas não cairia demasiado, fez seis meses de cursinho preparatório e passou em primeiro lugar para Pedagogia. Mais tarde, ia do Rio à São Paulo sozinha e de ônibus para economizar, no intuito de fazer uma pós graduação na USP.

Depois de terminada a pós, foi dar aulas em faculdade e ainda cursou Direito.

Ainda assim, só via a fragilidade da qual foi convencida. Sua força na superação das barreiras, jamais reconhecida pelos demais e nem por ela mesma.

Hoje eu insisto sempre em fazê-la ver a força que sempre teve e que não se permitia reconhecer por pressão familiar. Foi forte até em enfrentar suas dores físicas que nunca foram poucas até hoje.  Para a família ¨era frágil¨ e foi convencida disso.

Frágil pela doença fragilizadora, mas nem tanto quanto lhe fizeram acreditar.

O tema sombra segue num próximo artigo. Até lá.

Sombra – Suas manhas e artimanhas I

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Claudia Araujo

Aquário com Gêmeos, sou muitas e uma só. Por amar criar com as mãos, sou designer de biojóias e mantenho o site terrabrasillis.com, assim como pinto aquarelas e outras ¨manualidades¨. Por não me entender sem a busca do mundo interno do outro, sou astróloga com 4 anos e meio de formação em psicologia analítica sob a supervisão de José Raimundo Gomes no CBPJ – ISER e já mantive por anos o site Meio do Céu. Nessa nova etapa mantenho o site grupomeiodoceu.com. Dou consultas astrológicas e promovo grupos de estudo de Jung e Astrologia, presenciais e online. São várias vidas vividas numa única existência, mas minha verdadeira história começa aos 36 anos, e o que vivi antes ou minha formação acadêmica anterior, já nem lembro, foi de outra Claudia que se encerrou em 1988. Só sei que uso cotidianamente aquilo em que me tornei, e busco sempre não passar de raspão pelo mapa astrológico do outro. Mergulhar é preciso, e ajudar o outro a se transformar, algo imprescindível. Só o verdadeiro autoconhecimento pode gerar transformação. Não existe mágica, e essa autotransformação não ocorre via profissional, mas apenas através do real interesse do cliente em buscar reconhecer como se manifesta em sua vida cotidiana e qual seu potencial para a transformação. Todos somos mais do que aquilo que vivenciamos. A busca deve passar sempre pelo reconhecimento daquele eu desconhecido que em nós mesmos habita. A Astrologia é um facilitador nessa busca porque nela estão contidos tanto nossos aspectos luz quanto sombra. Ela resolve nossos problemas? A resposta é não. Ela apenas orienta no sentido do reconhecimento de nossa totalidade. A busca é do cliente. A leitura é do astrólogo, mas só o cliente poderá encontrar o caminho de sua totalidade e crescimento responsável. websites : www.terrabrasillis.com e www.grupomeiodoceu.com Fale com Claudia direto no Whatsapp

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