Conto sufi – As cidades parte III
Conto sufi – As cidades parte III
“Se alguma vez, algum de nós penetrar na cidade do Amor e da Inspiração, não retornaremos à nossa cidade,
pois qualquer um que vai até lá, se converte em alguém igual ao resto da população daquela cidade – totalmente unido à esse Primeiro Ministro.”
Se enamora dele, e está disposto a dar qualquer coisa – tudo o que tem, suas posses, sua família e filhos, ainda sua vida em favor desse primeiro Ministro chamado Amor.
Nosso Sultão, sua Alteza a Habilidade,
encontra esse atributo absolutamente inaceitável.
Ele se reserva da influência daqueles que possuem esta qualidade,
porque tanto sua lealdade, como suas ações parecem ser ilógicas,
e não são compreensíveis ao sentido comum.
“Nós escutamos que as pessoas dessa cidade, invocam à Alá com hinos e canções, ainda com acompanhamento da flauta de lingüeta, tamborins e tambores;
e ao fazê-lo, perdem o sentido e ascendem ao êxtase.
Nossos líderes religiosos e teólogos, acham isso inaceitável de acordo com nossas regras de ortodoxia.
Porém, nenhum deles sequer sonha em por um pé na cidade do Amor e da Inspiração”
Quando ouvi isto, senti um terrível desagrado pela cidade da Auto-reprovação, e corri até as portas da abençoada cidade do Amor e da Inspiração.
Li sobre a porta:
bab ul – jannati maktub: ilaha illa llah
Recitei em voz alta a sagrada frase:
“la illaha illa lah.”
Não existe Deus que não seja Alá, me prostrei e ofereci meus sinceros agradecimentos.
Ante isto, as portas se abriram e eu entrei.
Pronto encontrei um alojamento de dervixes, onde vivia o elevado e o humilde, o rico e o pobre, juntos como um só ser.
Os vi se amando e respeitando uns aos outros, servindo-se entre si com consideração, referência e deferência, num contínuo estado de pura alegria.
Estavam conversando, cantando suas canções e suas conversações eram cativantes, charmosas, e sempre sobre Alá e mais Alá, espirituais, longe de toda ansiedade ou pesar,
como se morassem no paraíso.
Não escutei ou vi nada que mostrasse disputa ou demanda, nada prejudicial ou danoso.
Não tinha intriga ou malícia.
Inveja ou tagarelice.
Senti imediatamente paz, consolação e alegria entre eles.
Vi um charmoso ancião, a consciência e a sabedoria brilhando através dele.
Fui atraído até ele, fiquei perto e me dirigi dizendo:
“Oh meu apreciado, eu sou um pobre viajante, e ainda enfermo, procurando remédio para minha doença de obscuridade e inconsciência.
Há um médico nessa cidade do Amor e da Inspiração para me curar? ”
Ele permaneceu em silêncio por um momento.
Perguntei seu nome.
Me disse que se chamava Hidaya Guia.
E logo disse: Meu nome é verdade.
Desde tempos imemoriais nenhuma inexatidão atravessou meus lábios.
Meu mandato e meu dever se constituem em demonstrar àqueles que sinceramente buscam a união com o amado.
E a você lhe digo:
Serve a teu senhor até que chegue aquele que é o correto. (Sura Hijr, 99)
E recorda o nome do teu Senhor e eleva em oferenda o teu ser, com inteira devoção a Ele.(Sura Muzammil, 8)
“Também você é um sincero amante;
escuta-me com o ouvido do teu coração.
Existem quatro distritos na cidade do amor e da inspiração, para a qual tu viestes.
Estes quatro distritos estão um dentro do outro.”
O distrito que se encontra mais ao exterior, é chamado Muqallid, o distrito dos imitadores.
O preparado médico que você busca para curar seus males não está dentro deste distrito.
Tão pouco está a farmácia que tenha medicamentos para a doença da desatenção, escuridão do coração e do politeísmo oculto.
Apesar de que você encontrará muitos que se farão conhecer como médicos do coração
– Assumem a aparência deles, usam vestimentas e colocam grandes turbantes;
declarando-se a si mesmos como homens sábios enquanto procuram esconder sua ignorância, sua depravação, sua falta de caráter;
incapazes de provar aquilo que afirmam ser; buscam a fama, e ambiciosos por esse mundo — eles próprios estão enfermos com a doença de si mesmos.
Eles se dizem sócios de Alá e são mestres somente da imitação.
“Eles escondem completamente as suas intrigas, as suas duplicidades, e suas malícias.
São inteligentes, perceptivos, alegres e amantes da boa vida.
Apesar de suas línguas aparentarem estar pronunciando as rezas e os nomes Alá,
e do fato de que você poderá encontrá-los usualmente nos círculos dos dervixes,
as mentes que lhes guiam não lhes assinala para que vejam a influência e os benefícios de suas rezas.
Assim, você jamais encontrará neles o bálsamo que suavize
as dores da inconsciência e da falta de memória.
Você pode abandonar esse distrito dos imitadores e se refugiar no distrito de MUJAHID, o distrito dos guerreiros.
Outros artigos interessantes deste mesmo autor:
- Ser Sufi ou ser dervixe
- Sufismo – um estado de ser
- Conto sufi – As cidades parte I
- Conto sufi – As cidades parte II
- Conto sufi – As cidades parte IV
- Conto sufi – As cidades parte V