O mundo de interditos e a luta das mulheres
O mundo de interditos e a luta das mulheres.
Muito se tem falado de I.A. principalmente de seus benefícios para o futuro da humanidade. Mas eu gostaria de falar do outro lado dessas invenções,
daquilo que o avanço da I.A traz de negativo: o desemprego e o ataque às riquezas naturais;
baseei-me na leitura da resenha crítica de Alexandre Quaresma do livro Superinteligência de Nick Bostrom para essas considerações. Então o que me chama a atenção quando vou ao mercado é o encontro, em alguns, de robot. Ou seja, escolho o caixa, no qual eu mesma peso e pago minhas compras, da mesma forma que esse robot também está presente na construção civil. Ou mesmo na condução que embarco para ir a qualquer área da cidade. Em cada uma dessas máquinas maravilhosas há um sem número de pessoas que sumiram, pois ficaram desempregadas. Além desse problema social, visto que o descarte de pessoas do campo profissional atinge as famílias e espraia suas consequências nefastas na própria sociedade,
ainda precisamos tomar consciência de que a I.A necessita de muito investimento para se desenvolver,
por isso assistimos impassíveis à busca de dinheiro através do ataque às nossas riquezas naturais. Em outras palavras, à floresta amazônica, onde queimam ou derrubam as árvores, até as mais raras e antigas. Tudo isso em nome de um suposto progresso ou mudança de pensamento ( isso é o que eles dizem). Mas quem se importa com quem ficou desempregado ou mora e precisa da floresta? É necessária a resistência, um substantivo feminino, porque a resistência vem em forma de mulher, de uma pequena sueca, a Greta Thunberg, que hoje é a porta-voz em defesa do meio ambiente, ela é nova geração que chega (Plutão em Aquário) trazendo a consciência de que é preciso enxergar a consequência de nossas ações;
mas devo lembrar-lhes de que a resistência sempre esteve em forma de mulher na Amazônia, a Matinta Perera
uma lenda amazônica, que retrata essa resistência, essa quebra de valores, a quebra do interdito. Matinta foi na juventude, segundo a pesquisa de Angélica Maués, uma bela mulher. Mas por diversas razões: alguns dizem que ela traiu o marido, outros dizem que ela não cuidou de seus filhos.
Recebeu um fado, ou seja, uma punição, a qual ocorre na menopausa
dessa forma essa mulher torna-se uma bruxa agourenta. Que na companhia de uma ave sai nas pequenas ruelas dos interiores da Amazônia, ameaçando as famílias, pois o canto da ave atrai má sorte e morte. O que deixa a todos apavorados ante a possibilidade de sofrerem qualquer tipo de mal. Mas a Matinta se afasta e não lança maldição se as pessoas gritarem uma promessa: No outro dia, que a Matinta venha receber fumo, deixado aos pés de uma árvore. Então ela se recolhe com sua ave, no outro dia vem buscar sua encomenda;
essa lenda nos mostra que a mulher na Amazônia é uma resistência
pois as mulheres recebem pena por não obedecerem ao seu destino ( os homens desobedecem mas não recebem punição). Essa quebra do interdito é punida, claro que isso revela o papel da mulher, aquela que deve sempre se submeter aos padrões, na verdade, segundo o estudo da prof. Angélica Maués,
a Matinta é uma feiticeira, uma xamã, mas esse é um cargo somente atribuído aos homens
pois eles não tem impedimento: menstruação, parto, daí sempre estarão aptos a fazer a magia necessária ao povoado. Enquanto que as mulheres que nascem com esse dom são reprimidas, cuidadas para que o espírito de fundo, o caruana, não aconteça nela, mas sempre temos a resistência, claro! A matinta é a mulher que não aceitou se reprimir, rebelou-se ao fazer magia como um xamã, daí recebeu seu fado,
nesse mundo de interditos que é a Amazônia
a mulher está presente no nascimento, pois é a parteira; na morte, pois é a rezadeira, mas é impedida de participar da cura. Pois é cargo exclusivo de homens, mas a mulher na Amazônia ou na Suécia, é quem vem com força contrária. Capaz de derrubar essa ideia de que a máquina vai vencer a humanidade, de que se desmatarmos a floresta. Ou se expulsarmos nossos indígenas, nos transformaremos numa sociedade de primeiro mundo. Essa ideia é tão bizarra! A Amazônia é nossa, a Matinta Perera é nossa! Vamos encarar nossa realidade ou vamos esperar que a geração de Greta nos ensine a ser melhores?
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