Aquário – as duas regências

Aquário – as duas regências

O signo de Aquário é assim chamado pelo fato de ser o Aguadeiro Celeste. Inicialmente, na Mesopotâmia, esse período do ano coincidia com uma estação de chuvas, benéfica para a agricultura. Assim sendo, criaram nas estrelas a figura de um homem vertendo seu cântaro despejando água sobre a Terra.

Pode parecer estranho Aquário ser um signo do elemento Ar quando ele despeja água, mas devemos lembrar que este elemento tem as qualidades primitivas “quente” e “úmido”. Se a umidade da água é um fator de ligação, de conexão, de apego, no caso do Ar isto funciona no plano das ideias.

Tradicionalmente Aquário foi regido pelo planeta Saturno, sendo a sua segunda casa, visto que a primeira é Capricórnio, onde ele mantém seus domínios.

Aquarius, Alexander Jamieson’s Celestial Atlas, 1822

Fica contraditório a regência de Saturno sobre este signo pelo fato de ser um planeta com um arquétipo circunspecto, inibido, fechado, e o signo reger as amizades. O signo de Capricórnio representa o ápice da evolução profissional e se materializa no signo seguinte, Aquário, como sendo o resultado desta conquista.

E este resultado traz o círculo de pessoas que convivem com o profissional bem sucedido, ou seja, poucos amigos, mas inúmeros conhecidos. Saturno traz dificuldades de se manter amizades a um nível superficial, preferindo laços profundos em torno de um ideal comum. Neste caso, o mais importante é a qualidade, não a quantidade.

O fato do ser humano ser um animal gregário e necessitar do contato com os seus semelhantes não é um conflito para a regência de Saturno, pois ele vai desejar que este convívio traga resultados concretos, ou seja, que as amizades sirvam a um propósito definido por suas crenças pessoais. Amizade aqui é uma coisa séria, um compromisso.

Por vários séculos esta regência se manifestou, até que em 13 de março de 1781, Sir William Hershel observou o planeta com o auxílio de um telescópio. Inicialmente confundido com um cometa, depois se verificou que era um planeta com orbita quase regular em torno do Sol.

Diversas nomenclaturas foram sugeridas, mas ao fim prevaleceu o fato de que se Saturno era o pai de Júpiter, então este novo planeta deveria receber o nome de seu pai, Urano, o céu na mitologia grega.

No momento de seu descobrimento, Urano transitava o signo de Gêmeos, signo do elemento Ar, o mesmo elemento do signo que ele viria a reger. Curiosamente no dia de sua visualização ele estava em oposição a Saturno que se encontrava em Sagitário.

Mapa astral da descoberta do planeta Urano

Sua descoberta foi uma grande novidade no meio científico, pois a fronteira do sistema solar havia dobrado de tamanho, pelo fato de que a distância do Sol a Saturno era a mesma de que a de Saturno até Urano.

Nesta época grandes acontecimentos estavam ocorrendo, como a guerra pela libertação das Treze Colônias da América do Norte em relação ao reino da Grã-Bretanha, iniciada em 1776 e que terminaria em 1782, resultando no país que hoje conhecemos por Estados Unidos da América.

Pouco depois, em 1789 aconteceria em Paris a Revolução Francesa, um levante popular contra a monarquia absolutista, com ênfase para o dia 14 de julho deste ano, quando ocorreu a queda da Bastilha, um marco daquele movimento e que se tornou a data nacional da França.

La liberté guidant le peuple, Eugène Delacroix, 1830

Aqui no Brasil, neste mesmo ano foi desbaratada a Conjuração Mineira, com a prisão de inúmeros rebeldes e que terminou no degredo da maioria deles, com exceção de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que foi enforcado e esquartejado três anos depois.

O sentimento de liberdade contra regimes absolutistas pairava no ar, e esta palavra – Liberdade – tornou-se um dos arquétipos deste novo planeta.

Curiosamente, o lema da Revolução Francesa era Liberdade, Igualdade e Fraternidade, ideias que estão relacionadas aos três signos do elemento Ar, ou seja, Fraternidade para o signo de Gêmeos, Igualdade para o signo de Libra e Liberdade para Aquário.

Na Astrologia foi também uma revolução pois desde a antiguidade os dois luminares mais os cinco planetas visíveis regiam os doze signos do zodíaco e de repente aparece um intruso.

Passado o impacto inicial, foram feitas observações sobre os efeitos dos trânsitos deste planeta e os astrólogos chegaram à conclusão de que sua regência deveria ser o signo de Aquário, afinal, nada mais coerente do que colocar o Céu regendo o signo do Aguadeiro Celeste.

Modelo clássico de regências do Zodíaco com Urano

Porém, Saturno continuou a ser o co-regente ou regente noturno, dividindo com Urano a regência de Aquário. Na Astrologia Tradicional, ele continua a ser o regente único do signo.

Isto gera uma contradição para os nativos: como receber a influência de um planeta extremamente conservador como Saturno e ao mesmo tempo de um planeta radicalmente revolucionário como Urano?

Como já dissemos, Urano era o pai de Cronos / Saturno, um titã. Gaia, a Terra, sua mãe, recebia todas as noites a visita do Céu que a fecundava e gerava inúmeros filhos. Porém, devido a sua aparência, ele os escondia nas profundezas de Gaia.

Logicamente ela estava descontente e conclamou os filhos a se revoltarem contra o pai. O único que se ofereceu foi Cronos, o mais jovem dos Titãs. Ele apanhou uma foice de sílex e decepou o membro do pai que vinha copular com sua mãe.

A partir daí Cronos implanta seu reinado, conhecido como a Idade de Ouro na Terra. Ele também seria destronado por seu filho Zeus / Júpiter, depois de uma guerra de dez anos.

Como vemos, mitologicamente a relação entre os dois regentes não era nada amistosa. Após a castração de Urano, o céu nunca mais desceu até a superfície terrestre, ficando suspenso no firmamento com as constelações e os astros errantes, ou seja, os luminares e os planetas visíveis.

Prosseguindo no tema Mitologia, o mito relativo ao signo de Aquário é o de Prometeu, filho do Titã Japeto e da Oceânida Climene. Seu nome significa “o que vê à frente” ou o “pré-vidente” e então ele toma partido de Zeus, seu primo, na guerra contra Cronos, seu tio.

Após a vitória, Zeus se torna o Senhor dos Deuses e Prometeu lhe pede que entregue o domínio do fogo para os homens, pedido que não é atendido. Então Prometeu, protetor da raça humana, roubou uma tocha da carruagem que Hélio transportava o Sol, escondeu-a num talo de funcho para depois entregá-la aos homens.

Zeus ficou extremamente irritado com esta atitude e acorrentou Prometeu numa montanha do Cáucaso, onde uma águia vinha comer seu fígado durante o dia. De noite o fígado se refazia, mas no dia seguinte a águia voltava para comê-lo e assim sucessivamente.

Prometheus, Cornelis Cort, 1566

Sua libertação deve-se a Hércules, que pediu a Zeus para trocá-lo por Quíron, o centauro imortal que possuía uma ferida incurável, padecendo de dores horríveis. Zeus liberta Prometeu e através do catasterismo, transforma Quíron na constelação de Sagitário.

Prometeu é tido como exemplo de rebeldia contra o estabelecido, pois foi a favor de Zeus contra o então Senhor dos Deuses Cronos e depois a favor da humanidade contra as vontades de Zeus, mesmo sabendo que isto lhe causaria um castigo terrível.

Etimologicamente, a palavra mito descende do grego mythos, que significa “palavra”, “aquilo que se diz”, “narrativa”. Mito, portanto, se refere a uma das formas de discurso humano. Mas não é uma narrativa qualquer, trata-se de uma narrativa sagrada, de caráter oral.

Nestas narrativas, estabelecem-se algumas verdades que pretendem explicar parte dos fenômenos naturais, bem como a construção cultural que confere orientação à ação humana. O mito nasce do esforço do homem na tentativa de atribuição de sentido a um mundo que se apresenta misterioso.

Cumpre aqui recordar que as casas do mapa astral representam os campos de experiência na vida humana terrena, determinadas a partir da posição do signo Ascendente. Neste caso, a casa XI, análoga ao signo de Aquário, nos traz informações sobre a sociabilidade.

Ela representa os amigos e o grupo social que a pessoa frequenta. Disserta sobre os trabalhos executados em equipe, interesse sobre atividades voltadas para a sociedade de caráter altruísta e filantrópicos, projetos para a atuação em prol de causas filosófico-sociais.

Desta forma, ela está presente em clubes, sindicatos, partidos políticos, associações filosóficas e benemerentes, organizações não governamentais, entre outras. Aqui as pessoas estão preocupadas com o futuro, com os valores e procedimentos que esperam que a sociedade adote.

Quarto Stato, Giuseppe Pellizza da Volpedo, 1901

O sociólogo francês Émile Durkheim fala sobre o conceito da Consciência Coletiva, que ele define como o “conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade que forma um sistema determinado com vida própria”.

Em sua teoria ele pretende demonstrar que os fatos sociais têm existência própria e independente daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular. Embora todos possuam sua “consciência individual”, seu modo próprio de se comportar e interpretar a vida, no interior de qualquer grupo ou sociedade podem-se notar formas padronizadas de conduta e pensamento.

O indivíduo se submete à sociedade e é nessa submissão que ele encontra abrigo. A sociedade que o induz a seguir determinados padrões, é a mesma que o protege e o faz sentir-se como parte de um todo estruturado e coeso. Essa dependência da sociedade traz consigo o conforto de pertencer a um grupo, um povo, um país.

Nesta teoria nós percebemos a presença dos influxos de Saturno no signo de Aquário, ou seja, a criação de normas e a submissão do indivíduo a estas normas. Por outro lado, Urano nos revela o grau de contestação do sujeito contra estas mesmas normas sociais e sua ação no sentido de transformá-las.

Urano simboliza a força que provoca mudanças súbitas e radicais de padrão de vida e consciência psicológica, à germinação de novas ideias e concepções originais, à independência, a revolta, à excentricidade, ao não convencional, ao original, ao inesperado, tudo que se abre ao novo.

O curioso é que Aquário é um signo do elemento Ar e modalidade Fixa, o que parece contraditório, porque o Ar está sempre em movimento e não pode ser imobilizado. Mas aqui podemos entender que, neste caso, o Ar representa as ideias, a ideologia que a pessoa possui e como ela defende esta sua crença.

Geralmente as pessoas apegam-se a padrões de comportamento fundamentados por normas sociais que as imobilizam, a não ser que surja o fator de contestação e as faça mudar de visão social. Porém, aí elas se imobilizam neste novo conjunto de ideias e começam a as defender com denodo e paixão.

Assim, o que é revolucionário hoje torna-se normatizador e repressor amanhã. Basta recordarmos o que aconteceu na própria Revolução Francesa, ou seja, após o povo implantar uma Assembleia Nacional Constituinte, elaborar a Declaração dos Direitos do Homem e derrubar a Monarquia instalou-se o período do Terror, com inúmeras execuções de cidadãos na guilhotina visando obter o poder absoluto.

Declaration des Droits de l’Homme et du Citoyen, 1789

Valdenir Benedetti dizia que o eixo Leão / Aquário é o eixo do Poder, centralizado em Leão e coletivizado em Aquário. Todo movimento revolucionário tem um líder, alguém que direciona as ações para alcançar a transformação, mas que depois sofre a tentação de se tornar um outro regime opressor, talvez pior que o anterior.

Na Astrologia Mundial a casa XI pertence ao Poder Legislativo, a casa dos representantes do povo, o local onde se discutem as leis que deveriam beneficiar este mesmo povo que os elegeu. Ali se reúnem grupos com diferentes ideologias que querem fazer valer a sua proposta, muitas vezes sem pensar no beneficiário final.

Os legisladores pertencentes a uma determinada expressão ideológica tendem a se manter fiéis às ideias e propostas apresentadas como projetos de Lei. Assim sendo, aquele grupo tende a se colocar perante o todo como um bloco monolítico, com um só pensamento ao qual todos os componentes são leais.

Aqui no Brasil foi instituída a fidelidade partidária, sendo que os infiéis são expulsos do Partido. Traçando um paralelo com as execuções na guilhotina, todas as cabeças que pensam diferente dos dogmas partidários são cortadas, não se permitindo ideias antagônicas dentro daquele organismo.

Atenas, na Grécia antiga, é considerada como o berço da democracia, etimologicamente o “poder do Povo”. Na realidade, apenas uma oligarquia de senhores abastados nascidos em Atenas tinha direito a voto, direito este negado a estrangeiros, mulheres e cidadãos comuns. Então podemos dizer que a democracia grega era uma oligocracia, onde somente uma pequena parcela da população detinha o poder.

A democracia perfeita nunca existiu, a não ser em obras literárias como “Utopia” de Thomas Morus, na qual o povo podia escolher suas crenças, os vários cultos coexistiam em harmonia ecumênica e o parlamento zelava pelo bem do povo, pois sabiam que a propriedade individual e o dinheiro eram incompatíveis com a felicidade.

Urano é considerado a oitava superior de Mercúrio, o Senhor da Comunicação. No século passado, a eletricidade foi implantada em quase todo o planeta, tivemos a utilização do telefone, do rádio, da televisão e finalmente da Internet, a Grande Besta do Apocalipse cujo número era 666 – VI VI VI em algarismos romanos muito semelhante ao WWW – da qual nos tornamos absolutamente dependentes.

Em fevereiro de 1997 tivemos a conjunção dos planetas Júpiter e Urano aos 4 graus do signo de Aquário, o que provocou um acréscimo exponencial do uso de aparelhos eletrônicos e uma escalada de inovação nunca vista antes, com imensas filas se formando antes da loja abrir para comprar o modelo mais novo do aparelho celular, que acabou se tornando uma extensão do corpo humano.

Mitologicamente, o grande inventor é Hefesto / Vulcano, filho de Zeus e Hera, que nasceu feio e foi rejeitado pela mãe, tendo sido atirado do Olimpo para a Terra. Ficou coxo, foi criado por anões em um vulcão, mas se tornou um grande artífice. Um dia ele criou um belo trono e o mandou de presente para sua mãe, mas quando ela se sentou ficou presa, sem poder levantar-se.

O preço para libertá-la seria ser aceito no Olimpo, preço que Zeus pagou a contragosto. Ele ainda exigiu casar-se com Afrodite / Vênus, mas o casamento não foi feliz, pois era traído por ela que tinha Ares / Marte como amante.

Até que um dia foi alertado por Hélio, o condutor os Sol, aquele que tudo vê e então preparou uma armadilha para o casal, aprisionando-os com uma fina rede em seu leito, e aí chamou todos os outros deuses para testemunharem o adultério.

Mars and Venus Surprised by Vulcan, Alexandre Charles Guillemot, 1827

Hefesto criava artefatos para todos os deuses indistintamente. Na guerra de Troia, fez armas para gregos e troianos, para Aquiles e para Enéas, sem tomar partido. Assim é a tecnologia, entrega encomendas para quem puder pagá-las, independente da ideologia e geralmente não é acessível a maioria da população.

Em 21 de dezembro de 2020 teremos outra grande conjunção no signo de Aquário, desta vez entre os planetas Júpiter e Saturno, na cúspide do signo. O planeta Urano estará em movimento retrogrado aos 6 graus do signo de Touro em aspecto de quadratura a esta conjunção e também àquela outra de 1997.

Baseado em tudo o que aqui foi dito, podemos esperar mais um conflito entre o estabelecimento de regras rígidas para a sociedade e a ânsia de liberdade. Desta vez, quem estará com mais força é Saturno, domiciliado e com os efeitos amplificados por Júpiter, ao passo que Urano está em queda no signo de Touro.

Há de se observar a casa onde temos o signo de Aquário em nosso mapa, se naquela área de experiencia somos arrojados ou cautelosos. Além disto, teremos ali a grande conjunção no final deste ano e poderemos prever o que isto provocará em nossas vidas.

Entretanto, Urano é o primeiro planeta trans-saturnino, e eles são chamados de Deuses da Mudança, isto porque provocam crises quando em seus trânsitos tocam pontos específicos do mapa. A palavra crise etimologicamente significa “ação ou faculdade de distinguir”, “momento de decisão”, ou seja, é preciso tomar uma decisão para sair da zona de conforto.

As crises provocadas por trânsitos de Urano são repentinas, inesperadas, sem aviso prévio, podendo vir através de acidentes. Normalmente elas acontecem para que a pessoa possa ter um pouco mais de liberdade, saindo de uma situação opressiva.

Fritjof Capra em seu livro “Ponto de Mutação” de 1982, relata como as mudanças intensas e crises que o planeta e a humanidade estão passando são mutações energéticas de efeitos universais.

Chegando neste ponto crítico as mudanças energéticas saem da energia masculina yang – o patriarcado, o capitalismo, a opressão – e vão para a energia feminina yin – o feminismo, a ecologia e a cooperação.

Ele fala também dos sistemas que compõe o planeta. São sistemas vivos que se relacionam entre si, interdependentes, numa intrincada teia onde todo o planeta está interligado. É necessário ter consciência da sincronia dos acontecimentos, numa visão holística que desmonta os paradigmas cartesianos e cientificistas.

E cada um de nós é parte deste todo. Para que eu consiga mudar o mundo, tenho primeiro que efetuar mudanças internas, deixar de lado algo que parece bom, mas não me faz bem, aquilo que não favorece meu crescimento pessoal, aquilo que me paralisa. Só assim seremos um ser proativo para beneficiar a Humanidade.

Aquarius, Johfra Bosschart, 1975

Uma qualidade aquariana que todos deveriam utilizar para efetuar estas transformações é a intuição, algo superior ao raciocínio, seja ele lógico ou dialético. Afinal, o Aguadeiro é o que despeja a Sabedoria celeste sobre a superfície da Terra.

Utilizando a intuição poderemos encontrar um sentido para direcionarmos nossas energias em prol de um objetivo não só pessoal, mas também coletivo, com o qual possamos transformar a realidade e ter uma qualidade de vida melhor nesta dimensão!

Douglas Marnei




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