O hunbe:

O hunbe:

A gestão dos terreiros é feita diretamente pelo(a) líder religioso(a): Bàbálórìṣà (Pai de Santo), ou pela Ìyálórìṣà (Mãe de Santo), ou ainda por pessoa(s) designada(s) por estes.

Mas, as regras são estabelecidas em um sistema teocrático. Ou seja: as leis divinas, são as leis dos Homens.

As condutas e protocolos são fixados por intermédio de tabus comportamentais, de alcance pessoal e também coletivo, que compõem o chamado hunbe. A partir deste conceito, se estabelece uma “educação de àṣẹ”, capaz de identificar a postura daquele que é, ou não iniciado.

O hunbe é transmitido ao neófito pelo(a) sacerdote(isa) e pelos(as) detentores(as) de cargos próprios dentro da estrutura hierárquica do terreiro.

Entretanto, este regramento comportamental é também pedagogicamente ensinado a cada gesto, a cada exemplo corriqueiro e despretensioso de todos os membros da comunidade.

O hunbe é compreendido como um código oral de procedimentos e protocolos de comportamento sócio religioso ensinado cotidianamente aos adeptos do Candomblé.

As normas do hunbe, servem para balizar os adeptos, dentro e fora do espaço do terreiro.

Existem algumas variações entre as regras de hunbe nas diversas casas de Candomblé, conforme suas origens e tradições.

Na Casa de Oxumarê, o hunbe elenca cerca de 120 mandamentos comportamentais, dentre aqueles de alcance pessoal; os de âmbito coletivo; os de prática no terreiro; os de cumprimento fora do terreiro; os religiosos; os profanos e os hierárquicos.

As regras de hunbe são mescladas entre questões antigas e modernas, bem como entre conceitos de ética e moral (temporais e atemporais) e ainda norteadoras de procedimentos profanos e religiosos.

As normas do hunbe abrangem, entre outras questões: “não deixar louça suja na pia à noite”; “não sentar de costas para a rua”; “não tatuar o corpo”; “não cuspir no chão”; “não consumir alimentos ou bebidas que sejam interditos do seu orixá”; “respeitar os mais velhos”; “dedicar-se e participar dos ritos ao seu orixá”; evitar quaisquer vícios; “não andar sujo, com roupas amassadas ou rasgadas”…

O hunbe é, assim, um compêndio de normas para disciplina do corpo e do espírito.

Este código é ensinado dentro do ambiente de terreiro, mas possui alcance também em ambientes externos. O propósito do hunbe é educar o adepto para a vida religiosa e profana. O hunbe educa o corpo para que este se comporte aonde ele transitar.

A origem do hunbe mescla orientações de cunho diretamente espiritual e também ordenamentos administrativos emanados do(a) sacerdote(isa)

O destino do corpo individual está, até certo ponto, entrelaçado ao destino do “corpo coletivo”. Razão pela qual, os regramentos do hunbe são individuais, com efeitos coletivos e vice versa.

Podemos compreender o hunbe como um sistema de regras sócio religiosas, calcado no princípio pedagógico da disciplinarização da vontade.

O hunbe identifica os adeptos do Candomblé. Agir com educação de axé orgulha a comunidade, a religião e ajuda a preservar princípios e tradições importantes. Em uma sociedade que já não valoriza os idosos, no Candomblé os mais velhos ainda possuem respeito e consideração.

Hunbe é a transmissão cotidiana da memória ancestral.




Trecho do livro “Ewé a Chave do Portal”
Márcio de Jagun
Professor universitário, escritor, advogado e babalorixá.
ori@ori.net.br

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Marcio Righetti

Márcio de Jagun, Babalorixá, professor de cultura e idioma ioruba na Uerj e na Uff, escritor e advogado. tel.: 99851-6304 (cel/wz) e-mail: ori@ori.net.br Facebook: Márcio de Jagun blog.ori.net.br

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