Peixes – as duas regências

Peixes – as duas regências

Características Gerais

Peixes é o signo de Água Mutável, aquela que dispõe a adaptabilidade, ao ritmo, a oscilação, a flexibilidade, a versatilidade, ao ecletismo.

Ele indica o arquétipo da dissolução e da integração universal, a devoção, a fé, o misticismo, a mediunidade, a compaixão, a bondade e a caridade.

Tem analogia com o desejo de escapar das limitações do cotidiano através da imaginação, da meditação ou do uso de substâncias alucinógenas.

Indica o desapego dos bens materiais, a generosidade, os sonhos, a música e as artes, a inspiração, as bebidas, as drogas, o asilo, os hospitais.

Seu destino é uma existência instável que começa com o rebaixamento do Ego, quando o auto sacrifício o conduz a uma vida plena e fecunda.

Simboliza a religiosidade, a espiritualidade, o ocultismo, o amor universal, a fantasia, a contemplação, fotografia e cinema, o velar e o revelar.

Peixes é um signo duplo, como se pode notar em suas ilustrações, nas quais os dois peixes nadam em direções opostas.

Porém existe um fio de ouro que conecta suas bocas, que está ali como solução interna à contradição externa dos dois peixes.

Corresponde ao período final do intervalo entre o Solstício de Inverno e o Equinócio da Primavera no Hemisfério Norte.

Na Natureza, é o momento em que a neve começa a derreter proporcionando as últimas chuvas do Inverno.

As planícies cultiváveis ficam inundadas com esta água e as sementes adquirem vigor para desabrochar logo em seguida.

Pisces, Alexander Jamieson’s Celestial Atlas, 1822

Denominação

O signo de Peixes é assim chamado em homenagem a dois delfins que salvaram a vida de Afrodite e seu filho Eros.

Eles estavam sendo perseguidos por Tífon, um ser monstruoso que havia derrotado Zeus e arrancando-lhe os tendões.

No desespero eles se atiraram no mar e Poseidon enviou estes delfins que os levaram para longe, fora do alcance do monstro.

Depois de recuperar os tendões e vencer Tífon, Zeus colocou os delfins no céu formando a Constelação de Peixes.

Astronomia

Por vários séculos esta regência se manifestou, até que em 1821, um acontecimento na Astronomia começou a mudar os fatos.

Neste ano, Alexis Bouvard publicou tabelas astronómicas da órbita de Urano, que tinham desvios substanciais.

Bouvard levantou a hipótese da existência de um corpo desconhecido que perturbava a órbita por meio de interação gravitacional.

Em 1843, John Couch Adams calculou a órbita de um oitavo planeta que pudesse explicar o movimento de Urano.

Ele enviou os seus cálculos a Sir George Airy, o Astrônomo Real Britânico, que os rejeitou com alguma frieza.

Entre 1845 e 1846, Urbain Le Verrier, independentemente de Adams, rapidamente desenvolveu os seus próprios cálculos.

Então Airy, ao ver a publicação dos cálculos de Le Verrier, solicitou que o Observatório de Cambridge procurasse o planeta.

Enquanto isso, Le Verrier, escreveu ao astrônomo Johann Gottfried Galle, do Observatório de Berlim, para que procurasse o planeta.

Na mesma noite do recebimento da carta de Le Verrier, em 23 de Setembro de 1846, Netuno foi descoberto.

Le Verrier rapidamente propôs o nome Netuno para o seu novo planeta e, em poucos anos, Netuno tornou-se o nome internacionalmente aceito.

Urban Le Verrier

História

Verificando a História, grandes acontecimentos estavam ocorrendo, como a Revolução Industrial, em curso desde a descoberta de Urano.

Houve o desenvolvimento da teoria da evolução das espécies por Charles Darwin, contestando a versão de Adão e Eva.

Na filosofia, surgiram correntes como o Positivismo de Auguste Comte e o Manifesto Comunista de Karl Marx e Friedrich Engels.

Nas Artes, temos o Romantismo que valorizava a vida na natureza e a exaltação de sentimentos amorosos, e criticava a modernização da indústria.

Allan Kardec estabelece a doutrina do Espiritismo, para investigar  a existência e as manifestações dos espíritos dos mortos.

Helena Blavatsky foi uma escritora russa, responsável pela sistematização da moderna Teosofia e cofundadora da Sociedade Teosófica.

Como se vê, são acontecimentos sutis, mas que procuram valorizar o ser humano perante a engrenagem massificadora da exploração do homem pelo homem.

Os astrólogos fizeram observações sobre os efeitos dos trânsitos deste planeta e chegaram à conclusão de que sua regência deveria ser o signo de Peixes.

Afinal, nada mais coerente do que colocar o Senhor dos Mares regendo um signo aquático como o dos Peixes.

Netuno fotografado pela Voyager 2 em 1989

Regências

Porém, Júpiter continuou a ser o co-regente ou regente noturno, dividindo com Netuno a regência de Peixes.

Na Astrologia Tradicional, ele continua a ser o regente único do signo.

As características de Júpiter em Peixes são ligeiramente diferentes das de Netuno, como iremos verificar em seguida.

Nesta posição Júpiter traz profundidade, compaixão, e faz com que aprendamos a ajudar e sermos responsáveis pelos outros.

Júpiter nos capacita a entender nossa missão evolutiva, fazendo com que a Humanidade acredite na força existente no Amor.

Ele faz com que percebamos nossa intuição para compreender as realidades que estão além da manifestação física.

Também nos possibilita a obter maturidade espiritual para alcançar e evoluir na aliança com o poder espiritual universal.

Faz com que possamos captar a realidade última do infinito, a existência do todo no nada.

As pessoas têm grandeza de alma, são humanitários, sacerdotais, voltadas para a caridade, filantropismo e a arte superior, sobretudo a música.

Elas são emotivas e tem satisfação em ajudar os outros, com vasta compreensão das coisas e atividades humanas.

Podem também ter tendencia a fugir para as memorias da infância que lhe trazem prazer e a fugir da realidade.

Netuno neste signo nos convoca a união intuitiva com o inconsciente e com o passado e entendimento das recordações de vidas passadas.

Pode também nos fazer acessar memórias e imagens do momento pré-natal.

Traz poderes místicos para uma busca espiritual interior, com a sensibilização funcional do centro psíquico pineal.

Produz habilidade para clarividência, clariaudiência, terapia, conforto psicológico, poesia, música e dotes artísticos.

Netuno faz com que tenhamos compaixão por aqueles menos afortunados, que podem trazer experiências que nos conectam ao divino.

Nos proporciona um espírito piedoso e humanitário, filantrópico, com sublimação e inspiração espirituais, um verdadeiro sacerdócio.

Lembremos que a palavra sacrifício contém dentro de si os termos sacro-ofício, um ritual sagrado, algo que vem a agradar as divindades.

Por fim, podemos dizer que enquanto Júpiter cuida da Lei dos homens, Netuno trata das Leis divinas.

Trata-se de uma força que se faz sentir de forma dócil, porém persistente, perseverante, produzindo transformações progressistas.

Mitologia

Na Mitologia Zeus / Júpiter e Poseidon / Netuno eram irmãos, filhos de Cronos / Saturno e Rhea.

Eles lutaram juntos contra Cronos / Saturno na Titanomaquia, que terminou com a vitória dos filhos destituindo o pai do poder.

Os Ciclopes lhes presentearam armas para a batalha, deram a Zeus o raio e a Poseidon um tridente que provocava maremotos e terremotos.

Battle between Gods and Titans, Joachim Wtewael, 1608

Após a vitória, eles dividiram o controle do mundo, ficando Zeus / Júpiter com os Céus e Poseidon / Netuno com os Mares.

Creta

Ambos tiveram muitas aventuras no mundo dos mortais, mas o ponto que os une é a ilha de Creta.

Tudo começou quando Zeus avistou a princesa Europa se divertindo nas praias da Fenícia e se apaixonou por sua beleza.

Ele se transformou em um maravilhoso touro branco que se aproximou docilmente da Princesa, convidando-a a subir em seu dorso.

Ela aceitou o convite e então o touro correu em direção ao mar, transportando-a até a ilha de Creta.

Lá entregaram-se ao amor e tiveram três filhos: Minos, Radamanto e Sarpedon.

Rapimento di Europa, Tiziano Vecellio, 1532

Passado algum tempo, instalou-se uma disputa entre os irmãos para saber quem seria o Rei de Creta.

Minos pediu ajuda a Poseidon que lhe mandou um magnífico touro branco com a condição de ser sacrificado após atingir seu objetivo.

O touro fez com que Minos se tornasse o Rei de Creta, mas ele gostou tanto do animal que resolveu sacrificar um outro touro de seu rebanho.

Poseidon ficou enfurecido com a ousadia de Minos e pediu a Afrodite que o ajudasse a vingar-se.

Ela mandou seu filho Eros lançar uma flecha no coração de Pasífae, a esposa de Minos, que imediatamente se apaixonou pelo touro branco.

Pasifae então pede a Dédalo, o arquiteto da corte, que construísse um simulacro de uma vaca em madeira recoberta de couro de vaca.

Então ela entra dentro do simulacro e mantem relações sexuais com o touro branco.

Pasifae enamorada pelo Touro, Osvna, ilustração contemporânea

Desta união nasceu o Minotauro, um ser com corpo de homem e cabeça de touro.

Horrorizado, Minos ordena a Dédalo que construa um labirinto em seu palácio e trancafia o Minotauro neste local.

O Rei Egeu

Aqui mudamos o cenário e vamos examinar o que acontecia com o Rei Egeu de Atenas.

Ele casou-se com duas mulheres, Meta, filha de Hoples e Calcíope, filha de Rexenor, mas não teve filhos com nenhuma delas.

Temendo perder o reino para seus irmãos Palas, Niso e Lico, Egeu foi até o Oráculo de Delfos.

Ali ele consultou a Pítia, que lhe disse para não desatar o odre até chegar a Atenas.

Na volta para Atenas, Egeu se hospedou em Trezena e contou o que o Oráculo lhe tinha dito ao rei Piteu, filho de Pélope.

Este, compreendendo a mensagem do oráculo, fez Egeu se embebedar e depois deitar-se com sua filha Etra.

Esta, por sua vez, teve um sonho em que aparecia a deusa Palas Atena e dizia para ela ir até a praia lhe fazer uma oferenda.

Chegando na praia, surge o deus Poseidon e a toma como mulher, engravidando-a.

Ao acordar de manhã, sem lembrar do que houvera acontecido, Egeu ouviu de Etra que os dois haviam feito amor.

Egeu então pediu a Etra que caso engravidasse, não revelasse ao filho quem era seu pai.

Depois ele escondeu uma espada e sandálias sob uma enorme pedra, que o rapaz deveria levar até Atenas.

Egeu voltou para Atenas, onde celebrou o festival Panateniense.

Neste festival, Androgeu, filho de Minos, derrotou todos os competidores, mas foi morto por eles.

Como punição a este fato, todo ano Atenas deveria mandar sete rapazes e sete moças para alimentar o Minotauro.

Trezena

Em Trezena nasceu um menino que recebeu o nome de Teseu, o qual cresceu vigoroso e forte.

Aos dezesseis anos seu vigor físico era tão impressionante que Etra decidiu contar-lhe quem era seu pai e o que se esperava dele.

Teseu ergueu então a enorme pedra antes movida por Egeu, recuperou a espada e as sandálias do pai e dirigiu-se a Atenas.

Theseus finds his father’s sword, Laurent de La Hyre, 1634

Atenas

Quando Teseu chegou em Atenas, o rei Egeu não sabia que ele era seu filho.

Medeia estava instalada no palácio real depois de fugir de Corinto após o assassinato de quatro pessoas, incluindo seus dois filhos.

Com seus poderes mágicos, ela sabe da identidade do herói, mas não contou a Egeu e sim insinuou que o forasteiro poderia ser uma ameaça.

Durante o jantar Medeia colocou veneno no vinho e ofereceu ao visitante ilustre.

Teseu tirou a espada para estar mais confortável à mesa e Egeu a reconheceu.

Imediatamente ele derrubou a taça de vinho e assim evitou que Teseu ingerisse o líquido.

Medeia mais uma vez foi expulsa de um reino, só que desta vez voltou para a Cólquida, terra de seu pai Eetes.

Teseu, quando soube do tributo devido a Minos, fez questão de ser um dos jovens enviados a Creta, a fim de vencer o monstro e libertar Atenas.

O rei Egeu concordou, embora estivesse preocupado com o retorno do filho, então eles combinaram um sinal.

Caso tudo corresse bem, o navio deveria voltar com velas brancas, senão as velas voltariam negras.

Teseu e o Minotauro

Quando chegou em Creta, Teseu conhece Ariadne, filha de Minos e Pasifae, que se apaixona pelo jovem.

Temendo a sua morte, Ariadne dá a ele um novelo de fio para amarrar na porta e desenrolar para saber o caminho de saída do labirinto.

E assim, após uma luta ferrenha, Teseu mata o monstro e sai do labirinto são e salvo.

Após a morte do monstro há um violento terremoto que destrói o palácio real, provavelmente uma manifestação de Poseidon.

Teseu convida Ariadne para ir com ele para o continente, convite que ela aceita.

Porém, quando contempla toda aquela destruição, sente-se culpada por ter ajudado os gregos.

Cansado de suas lamúrias, Teseu deixa-a na ilha de Naxos, onde ele encontra Dioniso e torna-se sua esposa.

Ariadne abandonada por Teseo, Angelica Kaufmann, 1774

Contudo, o sinal pedido pelo rei Egeu foi esquecido, e o herói volta a Atenas com as velas do navio negras.

Ao avistar de longe o navio regressando, Egeu fica desesperado e se lança ao mar do alto de um promontório.

Devido a esta queda o Rei Egeu vem a falecer.

Em função disso, o mar que circunda Atenas recebe o nome de mar Egeu, em homenagem ao rei.

Desta forma, encerra-se um ciclo que começou com um filho de Zeus como Rei de Creta e termina com um filho de Poseidon como Rei de Atenas.

Astrologia

Voltando a Astrologia, o planeta Júpiter é chamado de o “amplificador”, ao passo que o planeta Netuno é o “re-velador”.

Aqui cabe um esclarecimento, pois Netuno por vezes vela, oculta um fato, mas depois o revela.

Júpiter traz consigo o otimismo, novas possibilidades, a esperança de dias melhores, ultrapassar limites.

Ele também é chamado de “o grande benéfico”, produzindo efeitos positivos por onde passa nos mapas de cada um de nós.

Já Netuno nos traz o desejo ir além do sentimento de ser um eu separado e fundir-se com algo maior.

Diferente do oráculo de Delfos que dizia “conhece-te a ti mesmo”, Netuno provoca o impulso de nos perdermos, de dissolver as fronteiras do ego.

Ele é um solvente de fronteiras e vem a apagar ou diluir o limite existente entre nós e os outros ou entre nosso ego e o inconsciente.

Ele pode aumentar nossa empatia e o sentimento de estar ligado a tudo o que existe, como no conceito budista “Tudo em um e um em Tudo”.

Grande Conjunção

Neste ano de 2022, Júpiter e Netuno se encontrarão em uma grande conjunção no dia 12 de abril aos 23º do signo de Peixes.

Grande Conjunção Júpiter – Netuno

Esta grande conjunção põe fim aos efeitos da que ocorreu em 21/12/2020 entre os planetas Júpiter e Saturno em Aquário.

Por outro lado, seus efeitos durarão até quando ocorrer a próxima grande conjunção entre Júpiter e Urano em Touro no dia 21/04/2024.

Examinando o mapa, vemos que a conjunção não tem aspectos ptolomaicos maiores com os outros planetas, estando, portanto, isolada.

A única questão relevante é o fato de a conjunção acontecer no ponto médio entre Saturno em Aquário e o Sol em Aries.

É necessário vermos em qual área de nossos mapas esta grande conjunção ocorrerá e quais pontos serão ativados.

Importante verificar se ela fará aspectos com os luminares, Ascendente e Meio do Céu.

Examinar também os eventuais aspectos da grande conjunção com os planetas Júpiter e Netuno do mapa natal.

Por fim, mas não menos importante, são os seus aspectos  com os outros planetas.

Ela acontece na casa IX do mapa para a cidade de São Paulo, colocando ênfase nos assuntos jurídicos, religiosos e filosóficos.

Júpiter ainda rege a casa VI do mapa, trazendo à tona questões higiênico- sanitárias que necessitam de uma solução.

Conclusão

A energia deste encontro dos planetas pode nos fazer eventualmente apreciar momentos de isolamento, ficando mais introspectivos.

Como sugestão, poderíamos dizer que é um momento dedicado a buscar no silencio interior as verdades que vem do nosso inconsciente.

Por conta desta maior busca por elevação, tendemos a desenvolver melhor nossa intuição e nos renovar espiritualmente.

Buscar lugares calmos, tranquilos e que contenham uma energia positiva pode nos ajudar bastante neste processo.

 

27/01/2022

Douglas Marnei

 

Pisces, art work by Yuhon, 2010



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