Técnicas Expressivas e Arteterapia

Técnicas Expressivas>> “Quando existe um alto grau de crispação do consciente, muitas vezes somente as mãos são capazes da fantasia. Elas modelam ou desenham figuras que são muitas vezes completamente estranhas ao consciente” C. G. Jung. CW13.17

Técnicas Expressivas em Psicoterapia

Esta é uma discussão que visa apresentar, do ponto de vista prático e teórico, algumas das principais técnicas expressivas (não verbais) indicadas para uso clínico em psicoterapia.

A base teórica adotada é a da Psicologia de Jung tendo como principal referência as pesquisas e o trabalho desenvolvido pela Drª Nise da Silveira na Casa das Palmeiras e no Museu de Imagens do Inconsciente.

É um trabalho que visa abrir a discussão sobre a necessidade do momento não-verbal do processo psicoterápico e a importância do uso de técnicas terapêuticas simples e adequadas a este momento.

Técnicas Expressivas em Psicoterapia

A princípio, poder-se-ia entender que tais métodos e técnicas só deveriam ser empregados em psicoterapia infantil e em seções de terapia ocupacional em instituições psiquiátricas.

A experiência e o estudo da Psicologia de Jung tem apontado momentos e processos específicos onde a utilização de tais métodos é de extrema importância.

Conhecer o desenvolvimento simbólico da Personalidade (o desenvolvimento do eixo EGO~SELF) nos seus ciclos arquetípicos constitui-se um fator de grande importância para a compreensão deste trabalho.
Em igual importância faz-se necessário conhecer os estudos e pesquisas de Erich Neumann e Dora Kalff como referências significativas para a compreensão do dinamismo matriarcal e sua fenomenologia.

Técnicas Expressivas em Psicoterapia

O uso de técnicas em psicoterapia , Usar adequadamente qualquer tipo de técnica ou recurso além do diálogo interpessoal em psicoterapia sugere que tenhamos pleno conhecimento teórico, prático e vivencial de todos os passos do processo para que possamos realizar um trabalho ético e de boa qualidade profissional.

À princípio, qualquer técnica ou método não pode se constituir uma simples tentativa ou experiência científica que tenha possibilidade de colocar em risco qualquer aspecto psíquico do cliente e tornando-se uma conduta insegura e imprecisa.

Relembrando as palavras de Drª Dora Kalff quando se refere à criação do “espaço livre e protegido” para realização deste tipo de trabalho vemos que: “o espaço livre e protegido é o espaço necessariamente seguro.
Assim como no alpinismo não se tira o pé de um lugar, nem se dá um outro passo antes de se ter uma clara idéia para onde dar o próximo passo, e sem que se tenha amarrado com corda ou pego na mão do companheiro antes de dar o próximo passo. Neste caso, o guia ou a corda é o terapeuta”.

Podemos perceber, por esta linha de pensamento, as expectativas de ambas as partes, quanto ao vínculo e ao local onde o trabalho é realizado. O trabalho com técnicas expressivas visa a reconstrução da relação com nossa subjetividade, com o Self na condição matriarcal, a imagem materna, o feminino, a natureza, a Alma e enfim, a Vida.
Sobre a reconstrução da imagem materna encontramos em Jung uma grande referência quando diz: “O que foi danificado por um pai só pode ser reparado por um pai, assim como algo que foi estragado pela mãe só poderá ser consertado por uma mãe”.(Jung, Collected Works, vol. 14, p. 182)

Técnicas Expressivas em Psicoterapia

O uso de técnicas expressivas no que se refere especificamente ao uso das técnicas expressivas (não verbais) em psicoterapia podemos dizer que é antes de qualquer coisa um dom, uma arte.
Ainda que arte-terapia e técnicas expressivas não sejam a mesma coisa o uso de ambas requer uma grande arte, dom e uma significativa intimidade com os materiais específicos a serem utilizados, técnicas e uma série de outros preparos.

Muitas vezes, por não respeitar estes aspectos, seu uso é abandonado ou pior, mal indicado e mal aplicado.
O uso de técnicas não verbais em psicoterapia impõe-nos então algumas peculiaridades e cuidados específicos no que diz respeito à sua indicação e aplicação.

Quando entendemos que no tratamento psicoterápico será preciso lançar mão de outro meio de comunicação que não seja o meio verbal temos que ter em mente, de forma muito clara, o que isto objetivamente significa e principalmente a finalidade desta opção.

As condições do cliente e a qualidade do vínculo terapêutico a que se está submetido são também elementos importantes a serem considerados, pois são eles que vão suportar a relação.
É comum encontrarmos profissionais empregando no tratamento psicoterápico desenhos, pinturas, massagens, teatralização, vivências e outras formas não-verbais de tratamento que desconhecem algumas das mais delicadas condições de aplicação destas técnicas.

Técnicas Expressivas em Psicoterapia

É preciso estar ciente de que a vivência simbólica através das técnicas expressivas potencializa a libido em torno do símbolo fazendo com que expressivas quantidades e qualidades de energia psíquica fluam no complexo da psique gerando incômodo e instabilidade.

O exame e a avaliação psicopatológica são de extrema necessidade, pois o enfoque, a dinâmica e a conduta terapêutica com o uso de técnicas expressivas em pessoas que estejam na dimensão psicótica é bem distinta quando o fenômeno não está presente.

Da mesma forma as pessoas que apresentam a fenomenologia dos quadros de Personalidade Limítrofe (Borderline) devem ser tratadas com uma conduta bem distinta.

Com quem vamos usar técnicas expressivas? Usaremos técnicas expressivas em todos os processos terapêuticos onde houver indicação clara e precisa da condição que desejamos atingir, isto é, a dimensão onde a palavra não consegue alcançar e a reconstrução do feminino, enquanto símbolo estruturante, e conseqüentemente a imagem materna.

Sabemos que qualquer técnica, método ou abordagem que não dê seu maior enfoque ao pensamento-linguagem, ou seja, à razão, será um método que mobilizará dimensões pré-verbais da personalidade, um reino de imagens e emoções onde a palavra não alcança, o mundo das imagens.

Obviamente, com estas técnicas, estaremos forçando uma regressão da libido que, a princípio, tende a ser criativa na medida mobiliza os impulsos criativos da personalidade dando forma, conteúdo, textura, densidade, proporção, etc aos elementos cuja razão não conseguiria tratar.

Técnicas Expressivas em Psicoterapia

O processo consiste em tornar visível (mesmo que sem palavras) tudo o que é invisível e assim possibilitando à consciência do EGO uma possibilidade de articulação e um relacionamento com estas dimensões obscurecidas.

A cura da dissociação, ou seja, a finalidade do processo é a recuperação da relação do EGO com o SELF (relação que cria o automorfismo e a centroversão) através de um diálogo que não necessariamente tenha que ser efetivado pela razão.

Imagem e emoção formam desta forma o binômio necessário para este trabalho. No próximo comentário estaremos falando sobre os mais relevantes aspectos do exame psicopatológico e das técnicas que são: modelagem, colagem, desenho, teatro, imaginação ativa, poesia e muitos outros momentos criativos da psicoterapia.

Jorge Luiz de Oliveira Braga é psicólogo clínico, pós-graduado em analógica holista e psicologia junguiana, é coordenador do Grupo de estudos C.G.Jung de Juiz de Fora, e professor de Psicologia e Religião da Faculdade da Terceira Idade de sua cidade.




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