DA LOUCURA [ou: Aspectos sombrios do Louco]

DA LOUCURA ou: Aspectos sombrios do Louco>> PARTICULARMENTE, eu acho muito estranho gostar do Arcano Sem Número.

E isso parte principalmente do seu título: afinal de contas, a loucura não é um estado do ser a ser desejado.
Da loucura partem uma série de afluentes, tão indesejados quanto: a marginalidade, a pobreza, a carência, a ausência de credibilidade, a doença, a morte… mesmo enquanto vivo.

Esse aspecto sombrio da carta é pouco explorado, e isso é plenamente compreensível: evitamos tudo aquilo que execramos.

Mas a totalidade do Arcano também parte dessa questão, que podemos explorar melhor.

Foucault explorou a questão da loucura em seu História da Loucura, e, em um diálogo direto com a iconografia, analisou no primeiro capítulo a Nau dos Loucos de Bosch (1450 — 1516), um óleo sobre madeira de datação pouco precisa (posterior a 1490), atualmente no Museu do Louvre.

De maneira alegórica, o pintor critica o aspecto profano e devasso dos costumes da sociedade da época. Em primeiro plano, monges tentam abocanhar a comida presa por um fio, sem atentar para o fato de que estão sendo roubados. Curiosamente, entre as árvores, alguém observa – seria o Diabo?

E à direita, um Bobo está com o seu cetro, nem observando e nem alheio. Presente. Marginal à narrativa, mas ainda ali.

DA LOUCURA [ou: Aspectos sombrios do Louco]

O que nos cabe entender é que a representação desse Arcano, por sua natureza Maior, irá permear tanto o alto como o baixo, tanto o rico quanto o pobre, tanto o enfermo quanto o são.

A loucura não escolhe vítimas. Ela se espalha, como um elemento em estado gasoso, por onde o espaço lhe permite.

Um de seus diagnósticos é o ridículo, o vexame: se o convencional é negar e temer o ridículo, expor-se deliberadamente (ou não) a uma situação dessas faz o grupo questionar o estado de sanidade do indivíduo que a ele pertence.

Você consegue se lembrar de alguma situação ridícula na sua vida?
Como está o seu coração agora? Acelerou?
E suas mãos? Estão suando?

Assim sendo, é importante pensarmos que, quando o Louco sai em uma jogada e não está em seu aspecto luminar – seja pela posição em relação às outras cartas, seja devido à posição que ocupa na configuração do jogo em si – o problema que ele representa é algo a ser visto com cautela e uma deliberação é imprescindível da parte do consulente: aonde, em qual área, ele está se sentindo marginalizado, perdendo o controle dos seus passos?

O quão perto ele está do abismo, do vexame, da humilhação? Ou o quão rápido ele está indo em direção a isso?

Não à toa (o que seria “à toa” num sistema lógico?), a loucura está associada à casa XII da Mandala Astrológica.

No que tange à Astrologia, com a qual tem diálogo direto, a Casa XII é domicílio natural de Peixes, que por sua vez dá morada a Júpiter, deleite a Vênus e duplo degredo a Mercúrio; casa onde Saturno encontra seu júbilo.

Embora muitos vejam nessa casa a mensagem do Tarô para o consulente, eu procuro nessa casa as motivações que norteiam o mau uso dos instintos.

Mas isso é assunto para outra conversa.

PARA SABER MAIS

Foucault, Michel. História da loucura na idade clássica. São Paulo: Perspectiva, 1978. Disponível em . Acesso em 03 set 2018.

Fonte da imagem: . Acesso em 03 set 2018.



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Emanuel Santos

Oraculista que caminha pela senda dos baralhos, dedica-se ao estudo da Cartomancia com os mais diversos sistemas. Licenciado e Bacharel em Historia, Mestre em Letras (Estudos Bakhtinianos) e autor de livros e cursos sobre a prática da cartomancia. emanueljsantos7@hotmail.com

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