Ser ou Não Ser, Mãe?

Ser ou Não Ser, Mãe>>

“Não fui uma grávida bonita, eu engordei horrores e senti dores a gestação toda, foi um caos. Eu fazia um esforço sobre-humano para dormir pois todas as posições me incomodavam e a única parte boa foi parir. Aquelas gestantes de revistas? Devem existir, mas não fui uma!” ( H.Z., 35 anos, médica, cirurgiã geral)

A gestação é período de grandes paralelos.

A mulher gestante se vê como em uma gangorra, cada momento indo de encontro a um polo: nascimento e morte, ordem e caos, dentro e fora, criatividade e destruição, mãe e filha, mulher e criança, um e dois, fusão e separação, e em muitos momentos desenvolverá sentimentos com valores antagônicos.

Ser ou Não Ser, Mãe – a ambivalência

A ambivalência afetiva nada mais é do que o desejo de se ter duas “coisas” contraditórias. Para realizar um desejo implica renunciar a outro.

Para se ter um filho, deve-se renunciar ao status de “filhinha” de sua mãe.

Talvez o sentimento de maior ambivalência seja a futura mãe manter em seu ventre um bebê, já tendo sido mantida no ventre de sua mãe.

Nesse paralelo emergem antigas ansiedades e problemas não resolvidos de amor e ódio entre a futura mãe e a imagem irreal (por ser idealizada) de sua mãe.

A unidade da mulher dá lugar à díade mãe/bebê intra útero; dará a vida a ele e, também, a morte de um lugar, devendo a mulher gestante elaborar o luto do seu eu e, também, de não ser mais apenas a filha de sua mãe.

A ambivalência, constitutiva do desejo, está inscrita na nossa estrutura inconsciente e muitas mulheres sentem-se culpadas pelos desejos simultâneos e incompatíveis.

Ser capaz de desejar denota a capacidade, também, de não desejar

Esse fenômeno é natural e caracteriza todos os relacionamentos interpessoais significativos. Desejo e contradesejo mostrando a tendência maternal versus a rejeição.

A mulher gestante nos primeiros meses de gestação reage ao feto com ambivalência oral, querendo expulsá-lo
através de vômitos e, reincorporá-lo pelos desejos.

Ser ou Não Ser, Mãe – primeiro, segundo e terceiro trimestres

No primeiro trimestre da gestação as díades mais freqüentes são as de querer e não querer o filho, estar ou não estar gestante e poder ou não poder ser capaz de levar a gestação em um curso normal.

No segundo trimestre gestacional, as ambivalências que permeiam os pensamentos da “futura mamãe”, estão relacionadas com os movimentos fetais, percebendo concretamente que está dividindo o seu corpo.

O pensamento oscila entre sentir alívio com os movimentos fetais e a ansiedade quando não consegue percebê-los, temendo que algo não vai bem, até não querer senti-los porficar dolorida com os ‘chutes’ e ‘pontapés’.

No último trimestre, a ambivalência fica entre a vontade de prolongar a gestação para adiar a necessidade de adaptações que o filho vai exigir e a vontade de ver o filho e segurá-lo nos braços.

A ansiedade aumenta e com ela, a expectativa do nascimento, das dores do parto, se vai ter ou não ‘passagem’, do medo do filho não ser perfeito, se terá ou não capacidade de cuidar dele.

Em algumas mulheres permanecerá durante toda a gestação a ambivalência do desejo sexual em querer ter relações sexuais e o medo de ‘machucar’ o bebê intra útero, e o conflito mulherxmãe.

E é ao final, quando dormir já não encontra posição e a parturição de si e do bebê se faz tão desejável quanto inexorável que numa dessas insônias rotineiras de dúvidas, a coragem sai da gangorra e ao balanço se lança.

A gestação de um sonho alcança o inédito possível na estréia de novas vida – a da mãe e de seu filho

A dúvida, finalmente adormece nos braços que a realidade aconchega e acalanta.

É quando o valor em amor se agiganta e se abre o peito e oferece o coração, seiva e leite ao seio.

Denise Espiúca Monteiro, mãe de três, mulher e médica, homeopata, de muitos. Autora de Primeiros Laços – Maternidade, Maternagem e Homeopatia e “O que você vai ser quando Crescer? Abordagem Homeopática da Infância, ambos pela H.P. Comunicação Editora.




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Denise Espiuca

Denise Espiúca Monteiro Médica Homeopata, Mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social/UERJ. Diretora do Ambulatório Escola do IHB, A Casa da Homeopatia Brasileira. Escritora, ocupa a cadeira 25 da ABRAMES, Academia Brasileira de Médicos Escritores. Email: despiuca@dh.com.br

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