Sala de Aula, Palco da Vida II

Sala de Aula, Palco da Vida II – UM CASO

Quando estive para matricular meus filhos em escolas, visitei algumas delas.

Entretanto, não fiquei feliz com o que vi.

Parecia estar de volta ao meu velho colégio Marista, de onde guardo duas ou três boas lembranças relacionadas à sala de aula.

Uma delas decisiva.

Prestei o primeiro vestibular para medicina, tremendamente influenciado por um professor de biologia.

Suas aulas eram encantadoras.

Enquanto aluno medíocre e sem qualquer expressão significativa passei completamente apagado na vida de meus instrutores.

Gostava de arqueologia, assim como anatomia comparada, também de religiões. Isso somado à outras excentricidades jamais comentadas entre meus professores.

A chegada da Biologia tornou minha vida na escola mais suportável.

O invisível mundo celular foi como um bálsamo em meio às intoleráveis lições de português com seus substantivos, adjetivos e orações subordinadas e coordenadas, que nada me diziam.

Eu mesmo, assim como minha família, e meus amigos mal puderam acreditar no meu súbito interesse pelo colégio.

Mais isso é outra história…

Sala de Aula, Palco da Vida e a escola para meus filhos

… O fato é que assisti uma ou outra aula nesses colégios infantis.

Os professores pareciam realmente muito aplicados, mas uma alegria artificial na transmissão do conhecimento pairava no ar.

Fiquei em dúvida se queriam agradar a mim ou as crianças.

De qualquer forma, até onde fui capaz de perceber, qualquer que fosse o objetivo secreto, não tive a impressão de ter sido alcançado.

Portanto, uma escola simples mas com boa energia no ar, foi a melhor escolha.

Na verdade, não acho justo, principalmente com as crianças, que o professor faça apenas um mergulho intelectual na matéria a ser apresentada.

Sala de Aula, Palco da Vida II – Espera-se mais de um professor

Quer-se uma imersão existencial no conteúdo de seu texto, de seu script.

Porquanto, deverá recitá-lo sob inspiração, como o ator.

Não acho que seja pedir muito.

Você se entregaria a uma cirurgia nas mãos de um médico aborrecido com o seu trabalho diário?

Sala de Aula, Palco da Vida e A PAIXÃO DO PROFESSOR-ATOR

Enfim, um ator que não conhece intimamente o seu personagem não se sairá bem no espetáculo.

Ademais, não convencerá a platéia que, entediada, vai embora sem nada guardar.

Pode-se ouvir ecos distantes: “ Finalmente acabou!” Frase dura.

Dói até mesmo escrevê-la.

Deve ser tudo que um ator jamais sonhou ouvir

A história pode até ser ruim. O texto também. A direção, idem.

Porém, o ator de coração salva a todos através de sua dramaturgia.

Seremos gratos a ele por isso.

Deveria ser assim com os professores.

Eles deveriam ter pavor, ao terminar seu espetáculo, de ouvir coisas como: “hummm, que professor chato!” ou “essa aula – leia-se, esse espetáculo – é um saco!”

Primeiramente, também deveria evitar a fama de durão e trocá-la pela de amoroso, disponível, amistoso.

Sua autoridade reside menos na cara feia que impõe medo e mais na explícita e descontraída locução que faz do que pretende passar.

Espetáculos ruins deveriam impor à consciência dos professores-atores a necessidade de se desculpar diante de seus alunos-platéia, que torce o nariz a cada sílaba juntada ou a cada equação resolvida.

A matéria não é apenas algo que precisa ser aprendida, assim como, o espetáculo teatral é muito mais do que um roteiro bem feito.

Sala de Aula, Palco da Vida II – O sucesso da peça teatro-pedagógica está em muitos outros lugares

Portanto, está na sonoridade da voz, na movimentação corporal, assim como na linguagem oculta dos olhos. Além das mãos, do riso, das entonações emocionais íntimas a cada nova informação.

Finalmente, no convite à platéia para participar, como numa grande oficina, do enredo ativo no drama do espetáculo.

Aprender assim, tornaria trigonometria fácil…

Mas como se tornar um entusiasmado professor-ator?

Nada de se matricular no Tablado da saudosa Maria Clara Machado.

Nem mesmo é necessário fazer a escolinha da Globo.

Até porque, isso não garante nada.

Naquele mundo, talento pode ser secundário quando se é casado com diretores de núcleos.

Sala de Aula, Palco da Vida II – Mas isso é outra história…

Na verdade, a única exigência para ser um grande mestre é amar a matéria!

Conhecer seus segredos.

Além de, deixar-se contagiar por ela, como se ela fosse um vírus letal.

Isso mesmo, mortal. Porque a matéria amada é como a paixão.

Antes de tudo, na paixão nunca se sabe ao certo se vivemos mais ou se morremos mais rapidamente.

Definitivamente, o que sabemos é que ela nos consome por inteiro e que longe dela não há oxigênio.

Alguém aí consegue ser indiferente diante do ser da paixão?

Ou ainda, do calor que sobe pela coluna e que nos denuncia com um incômodo rubor?

Estar apaixonado é antes de tudo querer estar junto, grudado ao objeto amado.

Penso que esse deveria ser o estado constante a ser encontrado nos professores.




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José Raimundo Gomes

J. R.GOMES é psicólogo clínico no Rio de Janeiro. Tem consultório na Tijuca e na Barra. Contato: jrgomespsi@yahoo.com.br / WhatsApp: 21.98753.0356

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