A ÉTICA DO MATERIALISMO: OS (R)EVOLUCIONÁRIOS DE AQUÁRIO

A ÉTICA DO MATERIALISMO>> Em memória de Luiz Carlos Prestes e Mário Schenberg

A ÉTICA DO MATERIALISMO e A NOVA ERA

Desde o advento do movimento hippie no final dos anos 1960 a expressão “Era de Aquário” começou a ser popularizada.

Portanto, sua origem está relacionada à Astrologia e à chegada de um novo ciclo cósmico cujas características básicas estariam imbuídas de um comportamento identificado com o signo de Aquário.

A ÉTICA DO MATERIALISMO e A NEW AGE MUSIC

Porém, mais recentemente, para rotular um movimento musical emergente, a mídia e as grandes gravadoras multinacionais cunharam a expressão New Age Music.

Termo cujo significado, por razões óbvias, transcendeu a música e passou a ser utilizado para classificar todas as manifestações culturais que possuam elementos identificáveis com esta nova consciência.

Contudo, para não ficarmos no terreno dos conceitos vagos, devemos tentar enxergar um denominador comum a estes termos:
Como exemplo, tivemos as visitas ao Brasil do Rabino “Reb” Zalmann, que é chamado de “o rabino da Nova Era”.

Observando a sua atuação e a sua biografia, percebemos que o que o caracteriza como uma pessoa “new age” é o seu pluralismo e a sua ausência de preconceitos, além de uma atitude corajosa, assim como pioneira em relação a muitos tabus culturais e morais de nosso tempo.

Apenas para citar um outro exemplo, temos os livros do físico austríaco Fritjof Capra.

Decerto, representando o pensamento científico que também se identifica com o ecumenismo aquariano emergente em todas as áreas do saber contemporâneo.

A ÉTICA DO MATERIALISMO e NEW AGE como abordagem pluralista do mundo

Portanto, a síntese dessa corrente new age parece repousar sobre uma abordagem desassombrada e pluralista do mundo. Somando-se a isso, um humanismo renovado e a uma visão planetária da civilização atual.

A ABORDAGEM ASTROLÓGICA

Um dos ramos do conhecimento humano que vem sofrendo grande expansão e redescoberta desde os citados anos 1960 é a astrologia.
Embora ainda existam enormes resistências a ela dentro de alguns segmentos da sociedade, o astrólogo deixou de ser visto como um adivinho ou um bruxo, passando a ser considerado um profissional das ciências humanas.
Já existem numerosos psicoterapeutas utilizando a linguagem astrológica como ferramenta auxiliar ao seu ofício.
Para fazer justiça a um grande pioneiro nessa área, é bom lembrar que Jung incluiu a cadeira de Astrologia como matéria eletiva em seu curso de Psicologia Analítica no Instituto Zurich.
Também pertence a Jung a afirmação de que todo bom psicólogo deveria conhecer astrologia, já que nela se encontra todo o saber psicológico da antiguidade.

A ÉTICA DO MATERIALISMO e A PLURALIDADE DA EXISTÊNCIA

A pluralidade da existência manifestada através da simbologia dos doze signos astrológicos se constitui numa chave fundamental para a compreensão dos diferentes “modos de funcionamento” da natureza humana.

Estes doze signos são, na verdade, seis eixos compostos de pares que se opõem e se complementam, estando a natureza dual da vida também presente na simbologia astrológica.
Esta abordagem, dualista e pluralista, nos dá margem a refletir sobre a importância da contribuição de dois grupos humanos – os materialistas e os cientistas – para esta crise inédita e planetária que estamos vivendo, e que deverá desaguar na tão falada Era de Aquário.
Já que a proposta aqui é de um enfoque voltado para a ética, seria interessante avaliar dialeticamente a importância do papel de pensadores que se ocupam do lado materialista da vida.

A ÉTICA DO MATERIALISMO – OS MATERIALISTAS

Uma característica essencial destes tempos é o convite a esta visão pluralista que talvez pudesse ser sintetizada na palavra “universalismo”.

Para o universalismo, não faz diferença se um ser humano abraça ou não a espiritualidade (enquanto crença na sobrevivência da alma, na pluralidade dos mundos e das existências) para que ele possa ser um instrumento deste processo evolucionário aquariano que os espiritualistas investigam e interpretam continuadamente.

O maior exemplo disto está no decisivo papel dos materialistas nesse movimento que já foi chamado de “A Conspiração Aquariana”, livro escrito pela jornalista Marilyn Ferguson.

Depois do momento histórico em que uma profunda transformação política aconteceu na União Soviética e no Leste Europeu e muitos apressados correram a decretar a “morte” do comunismo e do socialismo, fica interessante se fazer uma reflexão sobre a contribuição dos materialistas e comunistas na direção de uma sociedade fraterna e justa, elementos essenciais à implantação de uma era verdadeiramente aquariana.

Não é costume, por exemplo, dos agnósticos, fazer propaganda de seu materialismo.

Nosso legendário Luiz Carlos Prestes uma vez afirmou, quando indagado a respeito de Deus, que “prescindia desta necessidade que o ser humano possui de crer em Deus” – uma forma sem dúvida elegante de se reafirmar ateu.

Outro aspecto característico dos materialistas que os aproxima ainda mais dos universalistas, dos “aquarianos”, é o de que transformam suas vidas em causas dedicadas à humanidade, e não mais apenas a seus próprios umbigos.

A ÉTICA DO MATERIALISMO – Prestes, Niemeyer e Guevara

Não há dúvida de que este parece ter sido o lema de vários famosos materialistas que todos conhecemos: podemos citar Prestes e Oscar Niemeyer como exemplos próximos, além de Ernesto “Che” Guevara.

Ao contrário de muitas figuras públicas que conhecemos, os verdadeiros humanistas procuram diminuir a importância de seu trabalho.
Não devido a uma falsa modéstia, mas como consequência de uma visão lúcida e não-egocêntrica da dimensão de seu papel na luta por uma sociedade mais justa para todos os seres humanos.

A ÉTICA DO MATERIALISMO – Jorge Amado

É importante citar uma outra figura: Jorge Amado. O escritor, por sua origem baiana e por sua profunda identificação com a causa popular, não só exaltou como abraçou a cultura afro-brasileira através de sua raiz mais densa, o candomblé.

A despeito de sua origem supostamente “primitiva”, o candomblé se enquadra no grupo das crenças espiritualistas, isto é, daquelas que acreditam na imortalidade do espírito, na pluralidade dos mundos e na reencarnação.

A casa do Axé Opô Afonjá, um dos terreiros mais tradicionais da Bahia, tem há muitos anos o escritor como um de seus Ogans (uma espécie de ministro ou guardião), indiferente ao fato de Amado ser um materialista declarado.

Quando questionado a respeito, ele disse que não possuía capacidade para julgar o mérito de uma honraria que a sabedoria popular lhe outorgara, e, portanto, humildemente aceitara o cargo e se esforçava sempre para continuar merecedor desta distinção.

A ÉTICA DO MATERIALISMO – o sentido da palavra

Uma questão pertinente dentro deste tema é o próprio sentido da palavra “materialista” a partir da ótica da física quântica: já faz algum tempo que nós fomos informados pelos especialistas no assunto que aquilo que chamamos matéria é, na verdade, energia vibrando numa faixa de frequência que nos dá a ilusão da materialidade, mas que é em essência, energia em movimento.

Não seria por mero acaso que a antiga União Soviética, um país “materialista”, ocupa uma posição de vanguarda nas pesquisas parapsicológicas.

Tampouco, que o inventor da máquina que possibilitou a detecção do campo biomagnético do corpo humano – a aura dos espiritualistas – seja justamente o russo Kirlian.

É irônico se constatar que, enquanto alguns grupos religiosos se empenham em debates estéreis e facciosos em torno de seus dogmas, e outros chegam ao absurdo das guerras fratricidas, os materialistas metem mãos à obra na luta pela dignidade e emancipação da condição humana, sem perder tempo especulando sobre as sutilezas da existência do espírito, e colaborando de forma definitiva e fundamental para que os ideais aquarianos de liberdade, igualdade e fraternidade se tornem uma realidade concreta – não mais a Utopia – em nossa esfera planetária.

A ÉTICA DO MATERIALISMO OPOSTA À LITERALIDADE

Como contrapartida, ainda convivemos com intérpretes literais de escrituras sagradas, brandindo seus livros contra aqueles que eles acham que estão aliados ao demônio, a Satã ou qualquer outra denominação com que possam caracterizar tudo aquilo que entra em choque com suas crenças.

Se formos pesquisar a postura destas figuras em questões ligadas à ética, vamos constatar que na maior parte das vezes esta palavra não faz parte dos seus dicionários, e sua fúria arrecadadora de doações e benefícios para suas instituições desconhece qualquer regra de bom senso, civilidade e honestidade.

A ÉTICA DO MATERIALISMO – OS CIENTISTAS

Desde o início do século, com a propagação dos princípios da Física Quântica e da Teoria da Relatividade, a comunidade leiga tem conseguido acompanhar de perto as revolucionárias teorias dos nossos maiores físicos, matemáticos e filósofos.

Nos últimos anos, diversos livros têm sido publicados visando o público em geral, e é interessante perceber que duas correntes básicas existem atualmente na comunidade científica mundial.

A primeira, que é chamada depreciativamente a dos “místicos”, e uma outra que talvez se pudesse designar como a dos “científicos”.

No primeiro grupo temos logo de saída dois livros daquele que talvez tenha sido o pioneiro da popularização do tema: o já citado Fritjof Capra, com “O Tao da Física”, “O Ponto de Mutação” e o recém lançado “Sabedoria Incomum”.

Além disso, vale a pena citar o divertido “Espaço, Tempo e Além”, de Bob Towen e Fred Alan Wolf, assim como, a obra do engenheiro, físico e parapsicólogo brasileiro Hernani Guimarães Andrade, fundador do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas, onde se destacam “A Teoria Corpuscular do Espírito” (esgotado), “Morte, Renascimento, Evolução”, “Espírito, Perispírito e Alma” e “Psi Quântico”.

No segundo grupo se destacam principalmente “Cosmos” do cientista Carl Sagan e o recente “Uma breve história do Tempo” do físico inglês Stephen Hawking.

Pelo que se pode perceber, este grupo tem procurado repetidamente hostilizar a outra corrente: o melhor exemplo disto foi a reportagem sobre Hawking e seu trabalho publicada numa revista semanal brasileira.

Apesar da boa qualidade da matéria, o texto transpirava uma antipatia explícita em relação ao trabalho de Capra e de outros cientistas contemporâneos que bebem nas fontes do Tao e dos Vedas

Como Aquário é o signo da Ciência, e no eixo astrológico o signo de Leão a ele se contrapõe como seu complemento, podemos extrair da simbologia arquetípica do Zodíaco o “antídoto” para o risco do cientificismo.

Enquanto Aquário rege a circulação, a ciência e a tecnologia, Leão rege o coração, a arte e a criatividade.

Como disse o brujo Don Juan a Carlos Castañeda: “para que um caminho seja verdadeiro, é preciso que ele tenha coração”.

Para que a extremidade aquariana se desenvolva de forma equilibrada, é necessário que a extremidade leonina também se faça presente no processo.

A ÉTICA DO MATERIALISMO E O TAO DA FÍSICA

Fritjof Capra realizou de maneira cristalina esta síntese no “Tao da Física”, onde ele conseguiu evidenciar que todas estas “novas” descobertas da física contemporânea já estavam enunciadas nas escrituras sagradas das Tradições do Oriente, principalmente no Tao chinês e nos Vedas hindus.

Aliás, a frase de Don Juan é usada como epígrafe do primeiro capítulo do livro de Capra

Seria ingênuo supor que este trabalho não provocaria a reação da ala cientificista e suscitaria a emissão de pérolas como a que proferiu uma vez o respeitado Stephen Hawking, que afirmou não ter razões para acreditar na existência da alma, devido ao fato de sermos nós, humanos, verdadeiros computadores biológicos, e ele, até hoje ainda não havia conhecido nenhum computador com alma…

Este texto não pretende de forma nenhuma desmerecer a importância do gênio e do trabalho de Hawking nos nossos dias ou da contribuição de Sagan para a popularização da ciência, mas é vital que nós saibamos que um grupo significativo (em quantidade e qualidade) de cientistas adota uma política desassombrada de intercâmbio e respeito à sabedoria da Antiguidade, e desta forma enriquece a sua própria experimentação científica através de uma troca fecunda de idéias com os textos e guardiães contemporâneos deste Saber Antigo, enquanto um outro grupo se fecha em copas numa autossuficiência preconceituosa e estéril.

Neste último grupo está uma pequena, mas barulhenta turma de cientistas que tem se empenhado numa verdadeira guerra de palavras contra todas as religiões organizadas, revivendo de forma mais furiosa e fundamentalista a frase de Marx que afirmava que “a religião é o ópio do povo”.
Não são poucas as campanhas e as declarações destes senhores estimulando uma atitude de intolerância e agressividade contra as religiões, mostrando que, muitas vezes,

o fundamentalismo não está no lado oposto ao da erudição…

Sintomaticamente, o livro de Hawking foi prefaciado por Sagan, e a edição brasileira do “Tao da Física” teve o privilégio de ser introduzido pelo texto do saudoso físico, crítico de arte e pensador Mário Schenberg, um dos espíritos mais brilhantes e progressistas do nosso país e do nosso tempo.

Aliás, não poderia haver melhor fecho para este texto do que a autodefinição bonachona e bem-humorada de Schenberg ao ser desafiado a explicar a convivência pacífica entre o seu engajamento no Partido Comunista e o seu enorme interesse pelas filosofias orientais e pelas pesquisas paranormais:

“Sou um materialista místico…”.

crédito de imagem pinterest




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Waldemar Falcão

Musician, astrologer, writer. Amateur photographer. waldemarfalcao@gmail.com

2 comentários em “A ÉTICA DO MATERIALISMO: OS (R)EVOLUCIONÁRIOS DE AQUÁRIO

  • setembro 16, 2019 em 1:12 am
    Permalink

    Baita aula, obrigado, padrinho. Bençãos.

    Resposta
    • setembro 16, 2019 em 3:37 am
      Permalink

      Obrigado a você, Chayan! 🙏🏼✨

      Resposta

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