Valentino de Alexandria

Valentino de Alexandria

I – Quem foi São Valentino:

São Valentino (Valentim) foi um filósofo religioso egípcio fundador da escola Gnóstica de Roma e Alexandria, em torno do 2° século depois de Cristo. Era inegavelmente um sistema de dualismo religioso. Ou seja, que acredita em deidades rivais representando as forças evolutivas e involutivas da Natureza. E com uma doutrina de salvação pela autognose, ou conhecimento esotérico.

As comunidades Valentianas fundadas pelos seus discípulos trouxeram o maior desafio à teologia Cristã vigente do segundo e terceiro séculos.

Valentino estudou filosofia em Alexandria. Seus discípulos clamavam que ele foi educado por Theodas, um pupilo designado por São Paulo e foi batizado como cristão. Passou muitos anos (136-160 d.C.) em Roma. Onde aspirava se tornar bispo e ensinar os verdadeiros Mistérios Iniciáticos, que começavam a se perder. Com o fracasso do seu esforço, ele se tornou contra a igreja romana.

Por sua visão profundamente revolucionária, foi excomungado em Roma devido a esses ensinamentos. Ao abandonar Roma por Chipre em 160 d.C. Ou possivelmente Alexandria. Valentino continuou a desenvolver seu sistema de filosofia derivada de uma religião místico-iniciática.

II – O sistema Valentiniano:

O Sistema Valentiniano se desenvolveu em formas ocidentais e orientais de grande complexidade. Entretanto, a estrutura básica era similar a teologia mística de Paulo, com ênfase no instrumento da morte e ressurreição do Cristo Interno.

“Até que todos cheguemos a unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, o varão perfeito, à medida da estatura completa do Cristo” (Efésios 4:13)

Conquanto, a teologia de Paulo tinha suas raízes no misticismo judaico.

“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo(tradução original: de acordo com o Aeon deste Cosmo), segundo o príncipe das potestades (tradução original: segundo o Archon dos poderes) do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.” (Efésios 2:1-3)

III – Aeon – o ser espiritual:

Aeon (ou Eon) tem muitos significados em Grego. Incluindo idade, espaço. Ou mesmo um ser espiritual governando um vasto espaço ou dimensão tanto nos céus (Pleroma) ou abaixo.

De acordo com a escola Valentiniana de teologia (a qual herdou os ensinamentos de Paulo), o Aeon deste cosmos se refere às Hostes Criadoras. Eram pois os Elohim, chamados de Demiurgo (do grego: artífice ou fabricante).

Ademais, Archon (ou Arconte) é a palavra Grega para tirano. E o poder dos ares (a energia egóica na mente) identificado como o mal pelos teólogos Valentianos. No entanto, o Archon que governa o mal foi conhecido durante o primeiro e segundo século com diversos nomes. Incluindo Ialdabaoth ou Saclas. (leia: The Christian Conspiracy: The Orthodox Suppression of Original Christianity)

“Mas se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste aeon (século, significando período cósmico ou Era) cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” (2Coríntios 4:3-4)

IV – Conhecimentos secretos:

Ou seja, todo este conhecimento entregue secretamente por Jesus, Paulo e Valentino, entre outros, teve que se manter em segredo. Por isso causava escândalo e espanto aos profanos. Daí esses grandes revolucionários do espírito e do intelecto não serem aceitos em sua época. E também não serem compreendidos nos séculos seguintes.

Inegavelmente Valentino foi o mais intelectual dos líderes Gnósticos. E desenvolveu um gnosticismo atraente o suficiente para ganhar seguidores tanto no Oriente como no Ocidente. Os Valentianos (ou Valentinianos) Orientais eram Docetistas. Afirmando que Cristo tinha um corpo “pneumático” totalmente sujeito à influência do Espírito.

Contudo, os Valentinianos Ocidentais ensinavam um Docetismo modificado, atribuindo a Cristo um corpo “físico”. Não totalmente “gnóstico”, mas capaz da salvação através do conhecimento. Ou seja, a simples teorização do cristianismo esotérico.

Aliás, é justamente a degeneração desse Valentianismo ocidental que se transformou no tão conhecido Catolicismo. Hippolytus de Roma, Irenaeus (ou Irineu) e Tertuliano refutaram esse aspecto involutivo do Gnosticismo Valentiano.

V – O que é o gnosticismo?

Gnosticismo é um termo derivado da palavra grega (gnosis) e significa conhecimento. Sua aplicação está na representação de um movimento religioso que influenciou o mundo Mediterrâneo. Desde o primeiro século antes de Cristo até o terceiro século depois de Cristo. O Gnosticismo se expressou como uma variedade de formas pagãs, judias e Cristãs. Mas era na verdade muito mais que isso.

Seu nome é derivado do fato que esta prometia a auto-salvação através de um conhecimento secreto. Ou entendimento da realidade. Que era possuída pelos seus devotos.

Conhecida previamente pelos escritos de seus oponentes pseudo-cristãos. O gnosticismo pode ser estudado agora através de uma coleção de documentos originais. Encontrados perto da cidade egípcia de Nag-Hammadi, em 1945.

A despeito da complexa diversidade dos grupos gnósticos e seus ensinos. As doutrinas básicas do gnosticismo formaram um mosaico identificável de credos, dogmas, doutrinas e ritos. Um dualismo está sempre presente no pensamento gnóstico.

VI – A dualidade no gnosticismo:

Bem e mal, luz e escuridão, verdade e falsidade, espírito e matéria. Estão em oposição na experiência humana como ser e não-ser. Ou seja, essa relatividade dualística, conhecida no Oriente como Yin e Yang. E que deve ser transcendida, para se atingir a Unidade do Tao.

Como diz o VM Samael Aun Weor, sobre essa ilusão: “A pior heresia é a heresia da separatividade”. O universo criado e a experiência humana foram caracterizados por uma separação entre o espiritual e o físico. Esta ilusória separação é resultado de uma tragédia cósmica.

Aliás descrita como uma variedade de maneiras pela mitologia gnóstica. O homem e a natureza podem ser libertos somente pelo conhecimento. Que foi revelado para uma elite espiritual por mensageiros transcendentais de um mundo espiritual.

Sendo identificados geralmente como Sete (os famosos sete Ameshaspent da tradição gnóstico-zoroastriana, ou os sete Logói planetários). Dos quais Jesus, ou algum outro personagem-herói solar, seria seu representante supremo.

A renúncia de desejos físicos e o asceticismo estrito. Combinados com rituais místicos da iniciação e purificação. Foram concebidos para libertar as almas imortais dos crentes de uma prisão de existência física. Reunião com uma realidade divina era alcançada após uma jornada da alma. Através  de sistemas intrigados de poderes externos e psicológicos (internos) hostis.

VII – Origens do gnosticismo:

Associados erroneamente em legenda com Simão, um mago samaritano mencionado em Atos 8:9-24. O gnosticismo provavelmente se originou no Oriente Médio. Como uma síntese de ideias Orientais e Gregas antes do advento do Cristianismo. Esta alcançou o ápice de sua influência como uma visão esotérica cristã na metade do século segundo depois de Cristo.

Quando foi então representada pelos professores egípcios Basilides e Valentino. Como a ortodoxia cristã foi se definindo no período que se seguiu. O gnosticismo entrou em um estado de profundo hermetismo. E gradualmente foi colocado na periferia do mundo cristão. Ou levado à obscuridade com a perseguição de líderes religiosos.

Algumas tendências se degeneraram, sobrevivendo mais tarde sob a forma de monasticismo cristão. Enquanto outros sobreviveram entre os Mandaeanos e os adeptos do Maniqueísmo.

Acadêmicos modernos continuam estudando os documentos de Nag-Hammadi para entenderem o gnosticismo. Alguns enfatizam a espiritualidade carismática e o radicalismo transcendental. Enquanto outros a vêem como um amálgama caótico de mitos escapistas e especulação histórica.

VIII – A influência no Cristianismo primitivo:

Poucos entretanto poderiam negar sua influência direta na formação da vida do Cristianismo primitivo. E o seu impacto, tanto no Judaismo como no Cristianismo, como parte da formação de uma identidade cultural. Posto que influenciou estas religiões. E o mundo medieval e contemporâneo.

Rotas para a Salvação

“Alguns professores acreditavam que um estado de êxtase provocava iluminação divina, enquanto outros defendiam o jejum e a meditação.” (Ancient Wisdow and Secret Sects)

Vivendo-se num mundo no qual é sentido subjetivamente e experimentado como um ‘lugar podre’ (um termo Gnóstico), clama-se por salvação.

A maneira como esta Salvação começa está no corpo material. Ela nos chama para lugares mais altos (refere-se a um plano emocional e intelectual). Até que o homem alcance seu lugar divino no Pleroma.

Isto é, transbordar-se completamente. Este Pleroma, esteja no homem ou em qualquer lugar do espaço cósmico. É a contrapartida Gnóstica para o lugar terreno “podre”.

Dois caminhos podem ser trilhados para deixar este lugar “podre”. Para evitá-lo ou suprimi-lo (o conceito ascético). Ou para o dissolver completamente, o vivenciando (à maneira sensual).

Isso é melhor entendido nos termos budistas. Mahayana e Hinayana, respectivamente Grande e Pequeno Veículos. Ou seja, duas visões distintas da mesma Realidade. Que em síntese querem dizer: fugir deste mundo vivendo-o profundamente ou estar neste mundo sem pertencer a ele.

 

Texto cedido pelo Instituto Arcanjo Michael para o site Meio do Céu – Claudia Araujo em 1998.




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