Os Distúrbios Alimentares III
Os Distúrbios Alimentares III
A jornada do herói é um empreendimento que permite ao indivíduo se afastar da imaturidade psicológica.
Estágio que se caracteriza pela submissão e dependência de recompensas e castigos, encaminhando-se para uma condição de maturidade.
O herói não precisa, necessariamente, redimir a sociedade mas, a si mesmo.
Tem-se, portanto, o triunfo do ego frente às tendências regressivas.
Pearson (1994) descreve a jornada do herói passando por seis estágios, dominados, cada um, por determinado arquétipo, a saber: o Inocente, o Órfão, o Mártir, o Nômade, o Guerreiro e o Mago.
Entretanto, esta não é uma estrutura linear e nem tão pouco segue a seqüência descrita.
Há variações de acordo com os sexos ou momentos culturais, além das diferenças individuais.
“O Inocente e o Órfão dão início à ação: o Inocente vive no estado de graça anterior à queda; o Órfão enfrenta a realidade da Queda.
Os próximos estágios constituem estratégias para viver no mundo depois do pecado original:
O Nômade inicia a tarefa de se perceber separado dos outros.
O Guerreiro aprende a lutar para se defender e mudar o mundo segundo sua própria imagem.
E o Mártir aprende a dar, a confiar e a sacrificar-se pelos outros.
Assim, a progressão vai do sofrimento para a autodefinição, para a luta, para o amor.” (Pearson, 1994, p. 29).
O Inocente não é um arquétipo de herói.
Isto é, está indiscriminado – o mundo o serve e o satisfaz em todos os seus desejos.
É o estar no Éden.
E, como estar no paraíso é apenas uma fase, não podendo ser perpetuada, segue-se a queda, que resulta de uma desilusão.
E, dessa maneira, caracteriza o estágio do Órfão, que denota o desejo de retornar ao estado primordial de pureza e inocência, no qual não há dor e sofrimento, e, todas as necessidades são satisfeitas.
O Órfão se vê como vítima do mundo.
Depois se tem o arquétipo do Mártir, aquele que se sacrifica acreditando que, assim, virá a redenção.
Ele não se vê como vítima do mundo, opta por ser a vítima, na crença de que seu sofrimento trará benefícios ou recompensas a si ou aos demais.
O Nômade é o arquétipo daquele que parte sozinho para explorar o mundo.
Vai à busca de aventuras ou de um tesouro perdido.
Na verdade, esse é o momento que define o início da jornada rumo a si mesmo pois, aliado à aventura, tem-se o recolhimento interior.
Ao desbravar o mundo, o Nômade identifica seus “dragões” e “vilões”, e, então, precisa passar para o estágio de Guerreiro para lutar contra eles.
É o arquétipo do Guerreiro, que melhor é identificado com o herói ou com o heroísmo.
Quando se fala em herói, equaciona-se o Guerreiro.
Enfim, encontra-se o arquétipo do Mago.
Aquele que aprendeu, com os outros arquétipos, a responsabilizar-se por si, por seus atos e por suas escolhas, em razão de estar mais consciente de si mesmo, de seus propósitos, de seus anseios, de seus medos.
Assim, aceita a realidade como é, com suas diferenças, e luta suas próprias lutas.
Seu lema poderia ser: “viva e deixe viver”.
Não precisa provar-se a ninguém.
Usando estas fases no caso da obesidade masculina, pode-se dizer que: o Inocente é a fase em que, ainda menino, o homem é superprotegido pela mãe.
Mãe que o alimenta para tornar-se “forte”, que na verdade é uma palavra para definir obesidade.
Quem não ouviu: “Meu filho não é gordo, é forte!”
O Órfão é a fase em que, bem provavelmente, há uma intervenção paterna ou do meio para quebrar o vínculo mãe-filho, e o menino sente que perdeu seu paraíso.
Inicia-se a adolescência.
O Mártir é a fase em que o jovem se “entope” de comida, sacrificando seu próprio corpo e sua vida psíquica para tornar-se “mais forte”, “impenetrável”, mas mantendo presos seus monstros interiores.
O Nômade é quando o rapaz volta-se para seu mundo interno e busca por seus próprios valores; aqui ele deve identificar seus monstros e vilões.
O detonador dessa fase é a busca por relacionamentos, a sexualidade e a escolha vocacional e profissional.
O Guerreiro vai lutar com os monstros e vilões; a velha e árdua batalha por desvincular-se do mundo dos pais.
E por fim, o Mago, estágio em que o jovem torna-se único.
Já lutou com seus monstros e vilões e ganhou sua identidade adulta, sua auto-estima foi otimizada, já possui autoconfiança.
Descobriu que o excesso de peso, além de não torná-lo mais forte ainda o fazia sentir-se mais frágil e inadequado, tanto física como psicologicamente.
Este é um pequeno trabalho, uma semente e portanto não esgota o assunto e pode, quem sabe, incitar novas associações a outros mitos.
Referencias Bibliográficas:
BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Vol. I e II. Petrópolis, Vozes, 1997.
PEARSON, Carol S. O Herói Interior. São Paulo: Cultrix, 1994
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