O que esperar de um terreiro de umbanda?
Um dos legados deixados por Pai Pedro Miranda, baluarte da umbanda, foi o disco lançado em 2008 com 51 cantigas da religião. São “pontos” antigos, alguns famosos, outros quase esquecidos, mas todos com linguagem simples e mensagem profunda. Um deles faz uma provocação: todo mundo quer umbanda, mas ninguém sabe o que é umbanda.
A questão costuma provocar uma situação curiosa: muita gente tem vontade de ir a um terreiro, mas não sabe ao certo o que esperar dele. E é disso que vamos tratar, com o devido respeito às diversas “umbandas” e a consciência de que ninguém tem autoridade para arvorar-se porta-voz oficial da religião. Uma coisa, porém, é certa: o terreiro não é um lugar de milagres instantâneos ou de manifestações puramente caricatas. Do que é feito esse chão de umbanda, afinal?
Espiritualidade e humanidade
O terreiro é um espaço de espiritualidade pujante e, ao mesmo tempo, profundamente humana. Lá, somos convidados a nos relacionar com o Sagrado com todo amor que couber em nós, mas sem nunca negligenciar nossa condição terrena.
Quem se dispõe a pisar nele verdadeiramente, em algum momento, será desafiado a sentir desconforto, inquietações e angústias. Mas também será respaldado com todas as ferramentas para galgar passos sólidos rumo à autopercepção e à autotransformação.
Esse processo tem etapas inescapáveis: olhar para quem somos de forma nua e crua; reconhecer nossas facetas mais dolorosas e perversas; e buscar os melhores caminhos para superar essas sombras. Ignorar nossas misérias, ou apenas varrê-las para debaixo do tapete, são atalhos que não se sustentam. Viver a espiritualidade umbandista pressupõe também sentir toda nossa humanidade.
Ao visitar um terreiro, não espere nunca respostas prontas ou soluções imediatas. O ambiente que se procura cultivar na casa de umbanda é de amor e alegria: umbanda tem cheiro, cor, som, movimento!
Se você estiver de passagem, tem garantidos o acolhimento sincero, o abraço afetuoso e algumas palavras simples de orientação certeira. Se puder demorar-se um pouco mais, será convidado à desconstrução de muitas “certezas absolutas” e à construção de novos parâmetros de fé e amor a Deus, aos orixás, às entidades, ao próximo e a si mesmo.
Isso é revolucionário! E, como toda revolução, demanda tempo, dedicação e entrega.
Amei o texto! Terreiro de umbanda é solo sagrado para mim porque é portal de reforma íntima e grande apfendizado. O que seria da minha sem a umbanda ?
Escrita simples, amorosa e esclarecedora. Que mais praticantes e estudiosos como Carlos Heitor compartilhem suas visões sobre nossa religiosidade, tão deturpada e, até, desrespeitada. Beijo grande!!!