Fu Xi e Nu Guo: a criação do universo na visão chinesa

 

Fu Xi e Nu Guo: a criação do universo na visão chinesa

Há no Daoísmo divindades híbridas, de corpo parcialmente animal, muito antigas, cultuadas primordialmente há 30.000 anos e cuja força – imensa e ancestral – carrega a memória de todos os povos que as cultuaram.

Umas das mitologias mais importantes e mais citadas no Daoísmo fala sobre a criação do universo através do simbolismo do Yin e do Yang.  Trata-se do mito de Fu Xi e Nu Guo.

Segundo a mitologia chinesa, houve um grande dilúvio em tempos imemoriais. Neste dilúvio, morreram todas as pessoas da Terra com exceção de um homem e uma mulher. O homem era Fu Xi, que concebeu os trigramas e os hexagramas do Yi Jing, e a mulher se chamava Nu Guo.

Fu Xi representa a linhagem patriarcal e Nu Guo representa a linhagem matriarcal

Algumas versões deste mito dizem que Fu Xi e Nu Guo eram irmãos. Entretanto, outras dizem que eles eram marido e mulher. Ademais, a narração prossegue, informando que Fu Xi e Nu Guo se casaram e procriaram.

A partir destas  figuras simbólicas originaram-se duas linhagens de mitologias e de conhecimentos que no Daoísmo representam a Tradição Patriarcal, vinda de Fu Xi, e a Tradição Matriarcal, originada de Nu Guo.

Das várias representações de Fu Xi e Nu Guo

Na China, encontram-se inúmeras representações de Fu Xi e Nu Guo. Os dois são representados como duas serpentes entrelaçadas na parte de baixo e como figuras humanas na parte superior de frente uma para a outra. Nesta iconografia, Fú Xī traz na mão um esquadro e Nu Guo traz um compasso, simbolizando-os assim como arquitetos do mundo.

Fu Xi transmitiu os conhecimentos do Yi Jing e da numerologia chinesa

Além dos fundamentos do Yi Jing, Fú Xī também transmitiu conhecimentos de matemática, numerologia, astronomia e metafísica. Ele era uma força patriarcal, uma força Yang.

Nu Guo e o mito de restauração da ordem na natureza

De Nu Guo nasceram muitas lendas. Uma destas diz que Nu Guo foi a responsável por reestruturar e restaurar a ordem na natureza.

Antes de acontecer o cataclismo na Terra, houve uma grande guerra entre os líderes do mundo. Depois de muitas mortes, vitórias e derrotas, finalmente um líder venceu o outro. Contudo, aquele que perdeu a guerra, irado por sua derrota, resolveu bater com sua cabeça na coluna de sustentação do Céu.  Dessa maneira, em linguagem simbólica a coluna era como a base de um cogumelo, o Céu. O Céu então desabou, tudo ficou escuro e aconteceu a grande tempestade, o grande cataclismo. Inicialmente, o mar subiu. Em seguida, a terra partiu-se e afundou em si mesma, as pessoas morreram; o vitorioso e o derrotado também morreram. Restaram apenas Fú Xī e Nu Guo que fugiram para o alto de uma montanha e assim conseguiram sobreviver.

Nu Guo e o surgimento das estrelas

Nu Guo era extremamente sábia e resolveu restaurar o Céu. Para tanto, colheu pedras de cinco cores, dos cinco elementos: vermelha, branca, amarela, azul e preta. Usou o fogo para destilar os pigmentos e processar as pedras. Quando as pedras ficaram prontas, Nu Guo colocou-as uma a uma no céu, tapando todos os buracos. Ela havia processado exatamente 100 pedras e usou 99 para restaurar a abóbada celeste. O céu ficou repleto de estrelas. As nuvens, então, desapareceram, o mar desceu e o mundo pacificou-se, criando assim uma nova civilização.

Nu Guo não somente teve filhos com seu marido Fú Xī, mas fez do barro homens, sempre usando as cinco cores, representando as cinco raças. Como vimos, sobrou uma pedra. Essa pedra que sobrou foi colocada no coração de cada ser humano que nasceu posteriormente. Assim, sentimos uma angústia, uma tristeza ao olharmos para o céu, querendo, com certeza, estar lá em cima. É que dentro de nós existe um pedacinho daquela pedra que certamente teria sido uma estrela – se tivesse sido colocada no Céu por Nu Guo.

Os homens se empenham para retornar ao Dao e se tornar uma estrela

Desde os tempos imemoriais, os homens se empenham no caminho espiritual para conseguirem se iluminar, ascensionar, retornar ao caminho do Céu e se tornar uma estrela.

Portanto, “retornar ao caminho do Céu” significa retornar ao caminho da grande natureza, da grande naturalidade. Decerto, através da observação das estrelas se percebe a ordem do tempo. O conceito do tempo foi elaborado a partir do movimento dos astros. “Retornar ao Céu” é retornar à grande ordem cósmica.

 

Telma Bonniau Gitirana foi ordenada Daoshi na Linhagem da Ordem Ortodoxa Unitária, por Wu Jyh Cherng, fundador da Sociedade Taoista do Brasil. Atualmente continua seu Caminho ensinando e seguindo os princípios do Tao.




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Telma Bonniau

Sou taoísta, consultora de I Ching, Zi Wei Dou Shu, BaZi, Feng Shui, estudo acupuntura, pratico Caligrafia Chinesa, Tai Chi, Qi Gong e Ikebana. Gosto de viver a vida, na companhia dos meus amigos e dos meus livros e curtir a energia da natureza. tbonniau@yahoo.com.br Publico meus artigos aqui e também na minha página no Facebook, Conhecendo o Zi Wei Dou Shu e as artes taoístas https://www.facebook.com/ConhecendoOZiWeiDouShu/. WhatsApp: 21-998950391

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