O Mito do Vampiro e seu Simbolismo II

O Mito do Vampiro e seu Simbolismo II

Nos países eslavos assim como em outras culturas onde o cristianismo é assimilado, há versões onde os vampiros assumem uma postura sedutora e de perversão.

Posturas semelhante aos aspectos demoníacos atribuídos à figura do diabo.

Embora em algumas estórias o vampiro simplesmente ataque sua vítima e aja como predador atrás de alimento, essa não é a forma mais difundida de sua atuação.

A forma sedutora é ainda a mais explorada. Principalmente na modernidade, onde o vampiro se apresenta sempre com algum atrativo para as suas vítimas.

Atualmente, as imagens do vampiro são mais elaboradas, e tal ser assume poderes como o hipnotismo.

Para tanto, ele transforma-se em animais.

Possui ainda, habilidade tanto em seduzir quanto carisma que se diferencia dos mortais> Ademais, força extraordinária e imortalidade.

Assim, o vampiro apresenta-se à vítima de duas formas:

por um lado ele a paralisa, e por outro a encanta.

Ao sugar o sangue de sua vítima, o vampiro lhe tira sua força vital.

Se imaginarmos alguém que perde sangue numa hemorragia, por exemplo, veremos que este apresentará apatia. Sobretudo, aspectos de cansaço, perda da coloração da pele, entre outros sintomas.

Numa vivência, onde uma pessoa sente-se “sugada” por seu chefe, pela empresa que trabalha, por seu marido, filhos ou em qualquer outra situação, observamos muitas vezes os mesmos sintomas.

É como se o tema do vampiro representasse uma alegoria. Ele faz referência a relações que estabelecemos com o mundo e que assumem um caráter de vampirismo.

O sangue tem seu simbolismo relacionado com a vida; portanto, sua perda significaria redução da vitalidade.

Essa relação emerge de épocas primitivas.

Acima de tudo, onde o sangue era utilizado como bebida ou esfregado no corpo das pessoas em sacrifícios religiosos.

No cristianismo, como traz a Bíblia, vemos o sangue de Jesus representando seu sacrifício.

Da mesma forma, representando o sangue através do vinho, Jesus diz: “Aquele que vos ama lavou em seu sangue nossos pecados”.

Assim, ao sugar o sangue, o vampiro abstrai a essência de vida de sua vítima, da qual ele alimenta-se para manter-se imortal.

Complexos Negativos: o vampiro interior em nós “O complexo rouba do ego a luz e a nutrição, da mesma maneira como um câncer rouba ao corpo a vitalidade”. (C.G. Jung)

O complexo, segundo James Hall:

é um grupo de imagens relacionadas entre si que tem um acento emocional comum e que se formam em torno de um núcleo arquetípico.

Assim, ao longo de nossa vida, teremos experiências que evidenciarão aspectos comuns sob um mesmo tema.

Um grande exemplo seriam as experiências com a figura paterna.

As experiências com o pai, com o primeiro professor, com o chefe, revelam um traço afetivo comum. Em síntese, formando um complexo paterno.

Tal complexo gira em torno de um arquétipo, nesse caso, o do Grande Pai.

Os arquétipos, para James Hall , são padrões ou motivos universais que vêm do inconsciente coletivo.

Portanto, formam o conteúdo básico das religiões, mitologias, lendas e contos de fadas, assim como fora introduzido por Jung.

Quando o complexo torna-se negativo, ou seja, quando seus conteúdos são negados pela consciência, os mesmos voltam para o inconsciente. Em determinadas situações, invadem o campo da consciência.

Os complexos roubam energia do ego, o centro da consciência, e se fortalecem no inconsciente.

Portanto, o complexo negativo representará o vampiro que saiu do mundo dos mortos (o inconsciente). Ele veio sugar ou roubar sangue (a energia psíquica) de sua vítima (o ego).

Melton, afirma que Jung observou que as tendências das personalidades auto-eróticas, autistas e narcísicas podem resultar numa personalidade que é, na realidade, predatória, anti-social e parasítica sobre a energia vital dos outros.

Além disso, afirmou também que Jung interpretou o vampiro como um complexo inconsciente que poderia controlar a psique, surgindo na mente consciente como um fascínio ou um encantamento.

Portanto, o vampiro interno em cada um de nós é representado por este complexo que torna-se negativo, na medida em que toma parte da energia do ego e em dado momento assume sua força.

A analista junguiana Marie-Louise von Franz , pesquisadora de mitos e contos de fadas, comenta algo sobre a correlação existente entre o vampiro e o complexo que atua negativamente em nosso psiquismo:

“É por isso que vampiros e Dráculas chupam sangue.

O sangue é a psique emocional e ativa em nós, a psique afetiva.

Depois de sugadas pelo vampiro, as pessoas ficam sem atividade alguma.

Elas simplesmente caem em sonhos passivos, nos quais buscam realizar seus desejos.

Na verdade, é isso o que caracteriza a maioria dos complexos negativos ou dissociados.

Se rejeitarmos ou dissociarmos algum complexo da nossa psique, ela começa a drenar secretamente nossa energia pelas costas.

Aos poucos, ele se transforma naquilo muito bem representado pela imagem do vampiro, algo que ataca durante a noite e chupa nosso sangue.

A pessoa simplesmente não percebe o que está acontecendo com ela”. (Franz, 1988)

Relações de dependência afetiva:

o vampiro e sua vítima “Tu podes te libertar da corrente Que te ligam às tuas chaves Que te ligam às tuas correntes. Tu podes também te livrar Das chaves e das correntes”. (Pierre Weill)

É importante perceber que, para que o vampiro mantenha absolutamente sua atitude de sugar o sangue, é necessário que haja a vítima.

É a vítima que, de alguma forma, mantém a relação, pela própria passividade do papel que assumiu.

O vampiro representa aquele indivíduo que quer tudo para si, não se importando com o prejuízo que causa aos outros.

Ele vai “sugando” o outro até a morte.

Isso pode representar psiquicamente que ele é capaz de promover uma morte psíquica no outro por vezes momentânea, ou até duradoura.

É como se a vítima perdesse sua identidade e passasse a ser um instrumento de satisfação de desejo daquele que adota o comportamento do vampiro.

Ambos, vítima e vampiro, representam indivíduos que não confiam em seus próprios recursos para realizarem-se.

Aquele indivíduo que constela o arquétipo do vampiro sobrevive às custas da vítima, e essa última pode submeter-se por medo, mantendo essa relação por não confiar em seu crescimento individual.

Para que esse tipo de relação aconteça, é necessário que complexos inconscientes (de certa forma complementares) sejam ativados em ambas as partes.

Quando um dos dois ou ambos trouxerem o complexo ativado do inconsciente à luz da consciência, integrando a ela conteúdos psíquicos, a relação será rompida.

Quando se estabelece uma conexão sobre o significado do sangue relacionado à energia psíquica, podemos concluir que o vampiro, em sua relação com a vítima, rouba sua energia, e esta permite que isso aconteça, consciente ou inconscientemente.




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material originário do antigo site Meio do Céu - Claudia Araujo, hoje denominado Grupo Meio do Céu - Claudia Araujo e composto por diversos novos colunistas. Essa é uma maneira de preservar o material do antigo site, assim como homenagear aqueles que não mais escrevem no site e/ou não mais estão entre nós nesse plano da existência. Claudia Araujo

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