SOBRE A TEDIOSA NORMALIDADE

SOBRE A TEDIOSA NORMALIDADE

Existe algo mais tedioso do que a chamada pessoa normal?

Eu já tive a oportunidade de encontrar diversas pessoas assim denominadas.

Na minha juventude eu as invejava tal era a turbulência sob a qual vivia.

Por que eu não era alguém assim, perguntava-me entristecido.

Tanto Sensatez quanto equilíbrio, escolhas perfeitas, ausência de dúvidas em relação a direção a ser tomada. Um conjunto de virtudes que decerto me fazia sentir que realmente alguma coisa muito errada havia acontecido comigo.

Quando alguém se afeiçoava a mim e dizia até mesmo me amar, eu me assombrava com a declaração de amor e mal podia acreditar que fosse verdade.

Como assim, me amar?

Eu sobretudo, não era outra coisa a não ser pensamentos, conflitos, assim como tensões.

Não havia em mim, naquela ocasião, qualquer possibilidade de tempo para cantar os envolvimentos românticos. Igualmente ansiar pelo dia seguinte, quando reencontraria a pessoa amada e de mãos dadas me alegraria com o amor.

Aliás, o que é mesmo o amor?

Entretanto, já no mundo adulto essa “loucura” tornou-se interessante para mim mesmo.

Descobri um grupo de pessoas (vivas e mortas) que me pareciam “loucas”. O o mundo delas contudo, me seduzia de forma tal que nunca mais me senti sozinho.

A loucura por exemplo, do filósofo brasileiro Carlos Henrique Escobar (não tenho a menor ideia do que foi feito dele) foi interessante para mim.

Lembro que por ocasião do lançamento do livro A SEXUALIDADE DA MULHER BRASILEIRA, da minha saudosa amiga Rose Marie Muraro.

Foi no teatro da Faculdade Notredame, em Ipanema.

Estavam ali reunidos tanto a autora, assim como Marta Suplicy e outros intelectuais da época.

Escobar pulou da plateia e “descaralhou” o livro de ROSE MARIE MURARO. Identificando “dispositivos opressivos de controle” à moda Foucault e Althusser, os autores da moda da época.

O primeiro livro que li de Carl Jung foi FUNDAMENTOS de PSICOLOGIA ANALÍTICA mas logo depois, remexendo as prateleiras empoeiradas de um sebo no centro da cidade do Rio de Janeiro, encontrei um livro chamado JUNG O PROFETA ATORMENTADO.

Comprei. Ao iniciar a leitura fiquei impressionado com o “outro lado da vida” de JUNG.

Levei o livro pra minha análise e ao mostrar pra CARLOS BYIGNTON ele deu uma gargalhada, pois já conhecia o livro, e me perguntou o que eu estava achando. Eu disse que estava maravilhado pois percebi claramente que eu não estava louco sozinho neste mundo de Deus.

Nós dois rimos freneticamente e eu comecei a perceber naquele momento qual era a minha verdadeira vida e qual seria o meu destino.

A fragmentação da personalidade em pedaços diminutos, típica do processo psicótico, gera um tipo de sofrimento brutal e até onde eu consigo enxergar nenhum charme pode ser encontrado nesse grave estado de dissociação psíquica.

A loucura a qual nos referimos aqui nesse texto e, creio, ser a mesma loucura do filósofo francês Gilles Deleuse, é de um estado de ebulição psíquica constante que gera sofrimento, é verdade, mas ao contrário da loucura psicótica, produz integração dos conteúdos psíquicos inconscientes à consciência, alargando o espaço do auto conhecimento e da experiência da felicidade.

No entanto, uma mesma verdade pode ser encontrada na experiência psicótica e na experiência de INDIVIDUAÇÃO.

Por detrás desses dois processos uma única realidade: a dor humana e nossas chances maiores ou menores de compreendê-la.


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José Raimundo Gomes

J. R.GOMES é psicólogo clínico no Rio de Janeiro. Tem consultório na Tijuca e na Barra. Contato: jrgomespsi@yahoo.com.br / WhatsApp: 21.98753.0356

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