Grandeza e Pequenez III

Grandeza e Pequenez III

Quando em um relacionamento amoroso verdadeiro os Espíritos se encontram e a grandeza de um sintoniza com a grandeza do outro, parecemos estar ouvindo e sentindo a música do universo.

Nos percebemos portanto, imersos na Luz, deixamos de querer ter razão.

Parece que nesse momento, ninguém precisa ter razão.

Tudo está certo e se encaixa como o movimento das coisas. Tanto cada som, quanto cada tom e semitom encontra seu lugar por si e compõe uma sinfonia de encanto.

Quando a grandeza de um encontra a grandeza de outro, conhecemos a “conformação”.

A conformação que é ser um com todas as formas.

Analogamente entrar em sintonia com a forma essencial das coisas.

Ter a consciência de sermos feitos de Luz, da mesma Luz que cria todas as formas e é decerto, a própria Realidade.

Na grandeza de nosso ser não temos necessidade de ser aceitos.

Tampouco, não temos necessidade quer de ser amados, pois o amor é um fato e só acontece quando nos aceitamos a nós mesmos.

Entretanto, quando, pelas demandas da realidade, ou mesmo, pela necessidade social de ser aceito ou sentir-se amado, a pequenez começa a aflorar.

Ela começa a tomar conta.

Asim sendo, a conformação adquire o significado de se conformar. De aceitar passivamente as exigências que nem sempre são o caminho quer de nossa evolução quer de nosso Espírito.

Quantas vezes, acontece de estarmos vivendo em um estado amoroso imenso. Assim sendo, plenamente conectados com a nossa grandeza, contudo, por pressão do ambiente, por um refinado mecanismo de indução, proveniente de forças culturais que não aceitam a diferenciação daquele está sintonizado com sua grandeza, somos quase que forçados a reconsiderar nossa posição.

Aí, decerto, a razão começa a se impor sobre nós.

Nos sentimos cobrados. Surge por conseguinte, a necessidade de justificar e ter razão por nos encontrarmos nesse estado de plenitude e graça.

Surge a necessidade de nos sentirmos aceitos por pessoas que amamos. Entretanto, talvez, naquele momento estejam conectadas com sua própria pequenez.

Da mesma maneira, cada um de nós tão frequentemente está, e nesse momento, precisamos mostrar que existe uma razão para estarmos assim, para nos sentirmos assim…

No instante que queremos ter razão, queremos mostrar que de alguma maneira estamos certos.

Sobretudo, entramos em sintonia com o mundo do “tonal”, o mundo das formas e da realidade aparente.

Estabelecemos contato com nossa pequenez, pois ela se alimenta da necessidade de termos razão.

Rompemos com o fluxo amoroso do universo. Ele só pode acontecer através de nossa grandeza espiritual e nos comprometemos com a necessidade da pequenez em volta de nós. Nos tornamos pequenos novamente.

Nesse momento, o sofrimento aparece.

Quer cobrança, quer ciúme, insegurança, competição, substâncias que se identificam com precisão com o que tem de mais pequeno em nós.

Necessidade de controlar a realidade, de viver a ilusão de que controlamos a realidade.

Contudo, o que podemos controlar é apenas a ilusão da realidade, pois esse controle é exercido pela razão.

Seja a razão da força, seja a do dinheiro, seja qual for.

São apenas subterfúgios para nos manter atrelados à pequenez que nos afasta da consciência e da plenitude.

Os relacionamentos amorosos se tornam tanto frágeis quanto superficiais, se sustentam pela obrigação e pelo compromisso assumido.

Vão se distanciando cada vez mais do amor que só a grandeza pode conceber e alimentar.

Perdemos o amor, o contacto com o amor que maravilhosamente fluía.

Inegavelmente nos tornamos iguais entre iguais, unidos pela mediocridade da pequenez.

Semelhantemente, passamos a desconhecer a realidade de sermos Espíritos, emanações da Luz Divina e nos tornamos matéria desalmada.

Matérias disponíveis para o sofrimento e para pequenas e levianas alegrias, por exemplo:

a de achar que estamos certos, de que temos razão, de que possuímos alguma coisa, de que construímos nossa própria verdade e que ela é a única verdade aceitável.

Deixamos de lado o “intento”, a capacidade de agir com o Espírito em direção ao poder superior.

Nos tornamos serviçais de uma força que apenas nos apequena e, principalmente, paramos de evoluir e aprender.

Interrompemos o aprendizado do que é maior.

Aceitamos passivamente a ilusão de que o certo é ser assim, pois pelo menos assim nos sentimos aceitos. Nos sentimos iguais aqueles que não permitem ou não aceitam que sejamos diferentes.

José Ingenieros, um filósofo uruguaio (se não me engano), em sua obra “El Hombre Mediocre” fez uma citação que está em minha memória desde a adolescência. Isso faz tempo… Mas marcou profundamente minha vida:

“Os idealistas soem ser esquivos ou rebeldes aos dogmatismos sociais que os oprimem; resistem à tirania da engrenagem niveladora; aborrecem toda coação; sentem o peso das honrarias com que se tenta domestica-los e torna-los cúmplices dos interesses criados, dóceis, maleáveis, solidários, uniformes na comum mediocridade”.

Meus olhos passeiam pela moldura da janela.

O vento, divino, continua soprando levemente e despertando para a dança as folhas de grama, as pétalas das flores. Penso se é possível manter esse estado dentro de mim, manter-me conectado com essa grandeza absoluta, identificar a grandeza dentro de mim.

Bem, só me resta admirar e respeitar essa música da natureza e me colocar humildemente ao seu dispor para, quem sabe, merecer ingressar nesse estado de grandeza que se traduz em liberdade e amor verdadeiros. Quem sabe, quem sabe…



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Um comentário em “Grandeza e Pequenez III

  • dezembro 5, 2019 em 3:19 pm
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    “Estabelecemos contato com nossa pequenez, pois ela se alimenta da necessidade de termos razão.”
    Dando agora uma de Valdenir, razão é algo sobre algo, divisão que gera um produto, uma mediação em duas coisas, duas pessoas, dois conceitos, portanto, razão infelizmente é usado e compreendido de maneira incorreta, já que deveria ser o produto do “pesar” duas medidas e chegar a um conceito equilibrado.

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