A ciência encontrou Ọ̀sányìn

A ciência encontrou Ọ̀sányìn

Conforme a cosmo visão ioruba, temos que o elemento vegetal significa muito mais do que um ser inanimado, capaz apenas de produzir sombra e de servir ao Homem.

Para os iorubas, os vegetais são co-habitantes deste planeta (àiyé), tão importantes quanto a própria espécie humana.

A relação entre Homem e vegetal, de acordo com a cultura jêje-nagô, é de troca constante. De sacrifícios de uns pelos outros, em um sistema de retro alimentação e equilíbrio.

A planta cede ao Homem alimento, cura, harmonia espiritual.

Na ritualística ioruba, base do Candomblé jêje-nagô, todas as liturgias direcionadas a estabelecer o contato entre Homens e deuses, ou para alterar positivamente a condição humana, é realizado através do uso ritual do elemento vegetal.

O elemento vegetal, portanto, neste contexto, é divinizado e personificado em Ọ̀sányìn:

o deus que tem por regência as plantas e o poder da cura.

Contudo, Ọ̀sányìn é descrito como sendo a própria planta. Ọ̀sányìn é a folha e a folha é Ọ̀sányìn. Nesta equação filosófica, o ioruba vê a divindade no vegetal e o eleva a status de deus.

Neste diapasão, Ọ̀sányìn (a planta) é cultuado, reverenciado, agradado, louvado, rezado para que dele se obtenha a cura e o bem estar espiritual.

A planta (Ọ̀sányìn), então, é viva, divina, poderosa, inteligente, autônoma.

Em reflexão a esta constatação feita pelos iorubas há milhares de anos, interessante observar as recentes pesquisas do engenheiro florestal alemão Peter Wohlleben sobre o comportamento das plantas.

Em sua obra “A Vida Secreta das Árvores” (2017), Wohlleben atesta, através de suas pesquisas, que as árvores vivem em sociedades, se protegem de temperaturas e agressores, compartilham nutrientes.

Segundo Wohlleben, entre as árvores há um comportamento inteligente capaz de dar tratamento especial às espécies mais idosas e também aos brotos.

Em suas investigações, o pesquisador alemão também notou rivalidades entre espécies, invasões de territórios em busca de luminosidade e alimentos, bem como a capacidade de comunicação entre as árvores. Wohlleben afirma que foi capaz de comprovar que espécies vegetais podem emitir sinais com o objetivo de atrair predadores para as “inimigas” por uma rede de comunicação formada por fungos, que se amplia por quilômetros.

Em seus relatos, Wohlleben cita um caso em que comprovou a solidariedade entre vegetais.

Em sua pesquisa de campo, na floresta da cidade de Bonn, na Alemanha, encontrou restos de um tronco com mais de 400 anos de idade que permanecia vivo, graças aos nutrientes que recebia das árvores vizinhas e do musgo que o encobria.

As pesquisas do citado autor revelam ainda as adaptações de espécies a novos climas e a ataques de insetos, bem como a proteção das árvores mães aos seus brotos, como em um período de “amamentação”.

O ajuntamento de árvores é capaz de determinar o micro clima da região em que elas vivem, chegando a regular a temperatura, e a umidade que impeçam, por exemplo, que todos os “indivíduos” sofram com a seca, ou com ataques predatórios biológicos.

Além da solidariedade, também foi possível comprovar comportamentos e sentimentos como hostilidade e medo.

As pesquisas verificaram casos de espécies que competiam por espaço em bosques e se infiltravam dentro do tronco alheio para puxar água, nutrientes e para ultrapassar a altura das rivais, a fim de alcançar a luz solar.

Neste processo, as árvores atacadas produziam “ramos de medo”.

Estes com características bastante singulares:

são nascidos nas partes inferiores do tronco, produzindo folhas adaptadas que sobrevivem com menos luminosidade, fugindo ao padrão.

Na formação do ecossistema das florestas, Wohlleben afirma que árvores da mesma espécie se apoiam através de uma rede conectada pelas raízes. Esta rede realiza constante troca de nutrientes entre os indivíduos, priorizando o fortalecimento dos membros mais fracos da comunidade.

A comunicação entre as árvores, segundo as pesquisas citadas (WOHLLEBEN, 2017), é viabilizada de várias formas.

Primeiramente, pelos aromas. Quando feridas por mamíferos, ou predadores, as árvores enviariam substâncias no ar, para que as outras vizinhas da mesma espécie começassem a se preparar para o ataque.

Outra possibilidade de comunicação é feita pelo envio de substâncias químicas e sinais elétricos.

Tal fato ocorreria próximo às raízes, com o apoio dos fungos. Estes transmitem rapidamente mensagens entre as árvores, como “cabos de fibra óptica da internet”.

Nas palavras de Wohlleben:

“Por ali passam notícias sobre ataques de insetos, de modo que as árvores possam se preparar contra os agressores.”

As pesquisas do Prof. Wohlleben concluíram que as árvores são também capazes de comunicação com outras espécies de vida.

Segundo o pesquisador, pinheiros conseguem identificar a saliva de cada tipo de inseto e, assim, atrair predadores específicos.

Por exemplo, apelam para as vespas, que costumam depositar seus ovos no corpo de lagartas, as quais comem suas folhas.

Assim, a larva da vespa se desenvolve no interior da praga, que é devorada pouco a pouco.

Logo a ciência moderna constatou que existe autonomia, capacidade de comunicação, sociabilidade e sensibilidade nos vegetais. Pode-se, por assim dizer, que a ciência descobriu vida inteligente nos vegetais.

Teria a ciência encontrado Ọ̀sányìn?
(Trecho do livro “Ewé – a Chave do Portal”, de Márcio de Jagun)




Outros artigos interessantes deste mesmo autor:

Deixe seu like e siga nossa Rede Social:
0

Marcio Righetti

Márcio de Jagun, Babalorixá, professor de cultura e idioma ioruba na Uerj e na Uff, escritor e advogado. tel.: 99851-6304 (cel/wz) e-mail: ori@ori.net.br Facebook: Márcio de Jagun blog.ori.net.br

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *