Freud e a Infelicidade

FREUD E A INFELICIDADE>> O DESEJO POR FELICIDADE é algo profundamente enraizado na alma de homens e mulheres.

Nada o substitui. Nem dinheiro, nem poder. Tampouco fama, ou mesmo sucesso.

Mesmo que num passe de mágica, o mundo inteiro caísse aos nossos pés e todas as maravilhas da terra se submetessem aos nossos caprichos…

Sem FELICIDADE, nada tenho. Meu coração não se alegra. Não sorrio.

Também não me envaideço de minhas conquistas e sequer amo os meus feitos.

Nem divido, nem partilho.

Não celebro. Não fraternizo. Portanto, tenho tudo, e nada tenho.

FREUD E A INFELICIDADE

Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, analisou o profundo anseio enraizado no ser humano de encontrar a felicidade e dela se apoderar.

Seu pensamento a respeito do tema é complexo e polêmico.

Para tanto, desenvolveu suas reflexões a respeito da felicidade em dois fascinantes livros, a saber:
“O Mal estar na Civilização” e

“O Futuro de uma Ilusão”.

Ambos, leituras obrigatórias para os “curadores de alma”.

FREUD E A INFELICIDADE

Para Freud, nós somos estruturalmente infelizes. Porquanto, já nascemos assim.

Sobretudo, porque nossos corpos adoecem e decaem.

A natureza exterior nos ameaça tanto com destruições, quanto com guerras e pandemias.

Finalmente, nossas relações com os outros são constantemente fonte de infelicidade.

No intuito de nos livramos destes infortúnios procuramos o que ele chama de “as diversões poderosas”.

Elas minimizam as nossas misérias

Semelhantemente, as substâncias tóxicas, como o álcool, procuram nos tornar insensíveis ao nosso malogrado destino.

Mesmo a religião é apenas um desses expedientes de fuga, sem maior eficiência, “e sob muitos aspectos como menor eficiência do que os outros”.

FREUD E A INFELICIDADE – A Fé

As razões da fé expostas pelos crentes não o afetava.

Nem mesmo uma certa posição radical de sua época que tomava a religião como uma espécie de conspiração para manter as classes trabalhadoras submissas e conformadas, atemorizando-as com visões do inferno e danação eterna, tinha sobre ele qualquer efeito.

Sobretudo, fiel às suas intuições sobre a verdadeira natureza humana, não agradava a ninguém.

Nem cristãos, e nem mesmo judeus.

E mesmo entre seus discípulos mais próximos, ele não era unanimidade.

FREUD E A INFELICIDADE e o trabalho como saída

Ademais, pensava que o mais bem sucedido esforço que o homem fez em busca da felicidade, ou melhor, o menos malogrado, é o trabalho.

Especialmente aquele tipo de ocupação derivado de uma escolha livre.

Ele diz que “nenhuma outra técnica para a condução da vida adapta o indivíduo à realidade com tanta solidez”.

Em O Futuro de uma Ilusão, extraordinário livro que escreveu sobre a função da religião nas sociedades, reitera sua posição pessimista:

“os homens não valorizam o trabalho como caminho para felicidade. Geralmente só trabalham sob coerção”.

FREUD E A INFELICIDADE – uma visão da vida

Solidário com a incerteza do destino humano, ele acreditava que a vida tal qual nos foi imposta é dura demais, além de cheia de decepções.

Seu pensamento chega ao paroxismo do pessimismo quando afirma que “a intensão de que o homem devesse ser feliz, não estava contida no plano da criação”

É o golpe final.

Freud vaticina sobre as crenças da humanidade a mais cruel de suas revelações.

Ele está convencido de que a criação não é boa

Ademais, a crença num pecado original, apontado como o responsável pela inauguração da infelicidade no mundo, era uma farsa.

Havia, isto sim, um pecado nos originais.

Os piedosos homens de fé sonharam com um mundo de ilusão.

Projetados em imagens falsas, perderam tempo.

O Deus que acreditavam e que pregavam era apenas um desejo infantil facilmente redutível à sua criação maior: a psicanálise!

Eles precisavam acordar de seus sonhos e tocar a verdadeira e única realidade.

Àquela que fere o homem de morte.

Porque ele descobre que está só e é só.
Sim, o seu método de investigação psicológica poderia promover a radical tomada de consciência, e salvaria o homem definitivamente de um mundo cheio de ilusões, oferecido pelos supermercados da fé.

O homem e seu destino. Frente a frente. Sem máscaras.

FREUD E A INFELICIDADE – A impossibilidade da felicidade humana

O dilema final, presente em seu sistema sobre a felicidade, é que os homens não podem viver sem civilização, mas também não podem viver felizes nela.

Sua constituição é tal que a serenidade está sempre longe de seu alcance.

Na melhor das hipóteses, os seres humanos sensatos conseguiriam uma trégua entre desejo e repressão.

Porque os seres humanos acham tão difícil viverem felizes em sociedade?

Sem medo de errar. O sacrifício é imenso.

Não só a sexualidade, genitora de todas as coisas, como a agressividade devem ser rigorosamente controladas por aquilo que ele chamará em breve de “o superego cultural” (Kultur-über-ich).

Esse superego é o resultado da internalização do impulso agressivo, imposto pela cultura.

Ela força os sentimentos agressivos de volta para a mente, de onde se originaram.

FREUD E A INFELICIDADE – O dualismo instintivo de Freud

No dualismo instintivo de Freud, Amor e Ódio se degladeiam para ter o controle da vida individual e social do homem.

A agressividade visível é apenas a manisfestação exterior da invisível pulsão de morte, que ele tanto amava.

É fato que se avançou mais nas técnicas de destruição e morte do que na compaixão pela vida e sua preservação.

Decerto, mais dinheiro é gasto no mundo em sofisticados equipamentos de extermínio do que em pesquisas que tragam à humanidade mais vida e “vida em abundância” como sonhou Jesus.

Países ricos impõem sua de lei de morte sobre os mais fracos. E o que dizer da esmagadora maioria da população mundial?

Vive dias de desespero e dor.

Os continentes africano, asiático e sul-americano assistem, imobilizados pela miséria, pela fome e por doenças, seus filhos definharem até a extinção.

E o que dizer da mãe Terra?

Saqueada em imensos latifúndios, explorada e martirizada pela ambição de seus filhos suporta, agonizante, bombas, vazamentos tóxicos, explosões atômicas, desmatamentos.

FREUD E A INFELICIDADE – A falta de predicados no homem

Não, Freud se recusou a acreditar que o homem fosse uma criatura meiga, amável e amorosa, “mas, pelo contrário, (o homem) pode contar entre seus dotes instintivos com uma parcela poderosa de tendências agressivas” e destrutivas.

Ninguém que contemple a natureza humana em atividade pode negá-lo.

E então, para provar-se, ele lembrou das atrocidades dos mongóis, dos hunos, dos (im) piedosos cruzados que lutavam por amor a Cristo e os horrores da Segunda Guerra Mundial.

FREUD E A INFELICIDADE – CONVENCEU

No seu Mal Estar na Civilização”, que ele chegou a pensar em chamar de “A Infelicidade na Cultura”, uma pergunta absolutamente moderna desfia os otimistas: diante de uma história feita de sangue e dor, feita de conquistas onde populações inteiras são liquidadas, a civilização será capaz de conter a pulsão humana para a agressão e a destruição?

E por que a agressividade desempenha uma função tão importante na economia psíquica da humanidade?

FREUD E A INFELICIDADE – Freud explica!

A agressividade é uma poderosa “fonte de prazer” que os seres humanos não renunciam facilmente após experimentá-la.

Na verdade, diz ele, “o homem não se sente bem sem ela”.

Ele precisa dela, inclusive como complemento ao amor.

Cruel, ele arranca a venda final de nossos olhos e afirma que os laços libidinais que unem os membros de um grupo no afeto e na cooperação serão fortalecidos, se o grupo tiver pessoas de fora a quem odiar.
A esse ódio ele dá um nome conveniente.
Chama de “narcisismo de pequenas diferenças”.

Como exemplos indiscutíveis de sua tese, ele cita desde a ridicularização dos vizinhos mais próximos, passando pelas perseguições dos espanhóis aos portugueses até chegar aos judeus da diáspora.

A estes últimos, ele guarda uma ironia particular.

Segundo Freud, a diáspora serviu como alvo privilegiado para este tipo de narcisismo e, durante séculos, os cristãos não fizeram cerimônia e extravasaram sua agressividade sobre eles.

Obviamente, uma fórmula menos drástica de resolver a pulsão de morte precisava ser encontrada, afinal, mal ou bem, a civilização está aí.

Ninguém pode negar seu extraordinário avanço.

A própria Psicánalise figura entre estes extraordinários feitos humano, e não menos importante do que a pólvora!

Debatendo-se com a radicalidade da infelicidade humana Freud precisava encontrar uma fórmula que nos salvasse do “defeito de fábrica” da criação ou que, pelo menos, “nos livrasse do mal”, em parte.

A saída é imperfeita.

Para conter a agressão deve-se escolher uma única vítima e concentrar-se nela!

FREUD E A INFELICIDADE – Dos males o menor

Não se pode dizer que é um bom conselho ou que se encontre beleza e altruísmo nesta sugestão.
Freud era assim mesmo, avesso ao “otimismo do mundo.”

No fundo ele concordava com a máxima popular que nos ensina: dos males o menor!




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José Raimundo Gomes

J. R.GOMES é psicólogo clínico no Rio de Janeiro. Tem consultório na Tijuca e na Barra. Contato: jrgomespsi@yahoo.com.br / WhatsApp: 21.98753.0356

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