AS ROSAS NÃO FALAM, MAS CARTOLA SIM

AS ROSAS NÃO FALAM, MAS CARTOLA SIM>> A história de “As rosas não falam” começou numa tarde de 1975 em que o compositor Nuno Veloso apanhou Cartola e sua mulher Zica para um passeio na Barra da Tijuca, onde pretendia visitar Baden Powell.
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Não tendo encontrado a casa do violonista, Nuno resolveu aproveitar a viagem para então, passar numa floricultura e comprar para Zica umas mudas de roseira que lhe havia prometido.
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Tempos depois, flores desabrochadas dessas roseiras provocariam a indagação entusiástica de Zica (“Como é possível, Cartola, tantas rosas assim?..”)porém, a resposta desinteressada de Cartola (“Não sei. As rosas não falam…”), que ele acabaria aproveitando como mote para a canção: “Queixo-me às rosas / mas que bobagem, as rosas não falam / simplesmente as rosas exalam / o perfume que roubam de ti…”
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Composta quando o autor completava 67 anos, “As rosas não falam” foi lançada em 1976, decerto, num elepê notável, produzido por Juarez Barroso, o segundo de Cartola na gravadora ‘Marcus Pereira’.
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Contudo, neste álbum ele apresentava outras inéditas como a também obra-prima “O mundo é um moinho”.
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As Rosas não falam

contudo,
Além da delicadeza e ainda,  do requinte, o que espanta nessas duas músicas é o fato de terem sido criadas pelo compositor numa idade em que a maioria das pessoas já se encontra aposentada, sem muita coisa a oferecer.
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Cartola é um caso especial em nossa música popular.
porém,
Homem tanto de origem, quanto de vida modestíssima, era ao mesmo tempo, o poeta/compositor sofisticado.
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Pena que somente nos últimos anos de vida tenha conseguido gravar a maior parte de sua obra (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).
ntretanto,

As Rosas não falam

Cartola, nascido Angenor de Oliveira, foi tanto cantor quanto compositor carioca. De fato, o responsável por grandes sucessos do samba.
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Porém, sua vida nem sempre foi fácil.
ntretanto,
Terceiro filho de Sebastião Joaquim de Oliveira e de Aída Gomes de Oliveira, viveu até os onze anos uma vida confortável — entre os bairros do Catete, onde nasceu em 11 de outubro de 1908, e de Laranjeiras —, quando se mudou com a família para o Buraco Quente, no Morro da Mangueira, que começava a ser ocupado.

Essa mudança marcaria para sempre sua história e a da música popular brasileira.

No morro chamado de Manga mangueira

As Rosas não falam e a Mangueira

ntretanto,
Chegando na Mangueira, de onde não mais se afastaria.
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Desde menino participou das festas de rua, tocando cavaquinho – que aprendera com o pai – no rancho Arrepiados (de Laranjeiras) e nos desfiles do Dia de Reis, em que suas irmãs saíam em grupos de “pastorinhas”.

Passando por diversas escolas, conseguiu terminar o curso primário, mas aos 15 anos, depois da morte da mãe, deixou a família e a escola, iniciando sua vida de boêmio.

Com a morte da mãe, aos dezessete anos, Cartola foi expulso de casa pelo pai e passou a viver perambulando pela Mangueira.

Solto no mundo, malcuidado, aos dezoito anos foi “adotado” por Deolinda, sete anos mais velha, que viria a ser sua esposa por duas décadas.

Muito jovem, “casou” e “ganhou” uma família, pois Deolinda já tinha uma filha, Ruth.

Nessa época, Cartola era pedreiro, um dos melhores do morro.

Inclusive o apelido, Cartola, foi dado pelos amigos da construção civil, aos quinze anos, pois, como era muito vaidoso, usava um chapéu, ao qual chamava de cartola, para não sujar a roupa de cimento.
Apesar de ser bom na profissão, Cartola preferia tocar violão, fazer samba e “tomar uma”.

As Rosas não falam – O Bloco dos Arengueiros

Junto com outros amigos, fundaram o Bloco dos Arengueiros, que desfilava nas imediações do Morro da Mangueira e arrumava confusão nos bairros vizinhos.

Porém, além de gostarem de brigar, eram excelentes no samba.

Assim, em 28 de abril de 1928, em reunião na casa de Seu Euclides, fundaram a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira.

O nome e as cores foram escolhidos por Cartola.

Estação Primeira da Mangueira porque era a primeira estação de trem, a partir da Central do Brasil, onde havia samba.

As cores, as mesmas do Rancho que frequentava quando criança: verde e rosa.

Vale mencionar que o seu amor pelo Carnaval vem desde a infância, quando acompanhava os pais e o avô no Rancho dos Arrepiados — espécie de agremiação carnavalesca —, cujas cores eram verde e rosa.

As Rosas não falam – sua verve musical

A música também fez parte de sua criação, pois seu pai, além de carpinteiro, tocava cavaquinho e violão nas festas e desfiles do Rancho.

Cartola aprendeu a tocar cavaquinho ainda criança, pegando escondido o instrumento do pai.

Na década de 1940, Cartola foi propagando seu samba.

Participou, juntamente com Paulo da Portela, de um programa na Rádio Cruzeiro, chamado A Voz do Morro.

Desfilou em carro alegórico, após ter sido escolhido cidadão-samba.

Formou, com Paulo da Portela e Heitor dos Prazeres, o Conjunto Carioca, divulgando o samba carioca em São Paulo.

Aos trinta e oito anos, foi acometido por uma meningite que o fragilizou por cerca de um ano.

Recuperou-se com remédios e com os cuidados de Deolinda.

Infelizmente, após sua melhora, Deolinda faleceu devido a problemas cardíacos.

Um de seus grandes sucessos, cantados também por outros artistas, sim, foi escrito após a morte da companheira.

Como os desfiles das escolas de sambas estavam se tornando cada vez mais comerciais, em 1948, Cartola desfilou puxando um samba de sua autoria, na Estação Primeira de Mangueira, pela última vez.

Por um tempo, parou de tocar e compor e foi morar com sua nova mulher, Donária, na favela da Manilha, em Nilópolis.

Para sobreviver, trabalhou como biscateiro.

O curso da vida o tinha deixado maltratado, sem dentes e magro.

Seu nariz começava a apresentar sinais da doença que o fez passar por uma cirurgia plástica anos depois.

As Rosas não falam e Dona Zica

Em 1952, conheceu Zica, por quem se apaixonou e com quem passou o resto da vida.

Ela o impulsionou a voltar ao meio musical e a arrumar um trabalho.

Quando trabalhava como lavador de carros em Ipanema, foi redescoberto por Sérgio Porto, que o trouxe de volta ao mundo da música.

Porém o samba não estava na moda.

Os amigos foram conseguindo empregos para ele, que trabalhou como contínuo e também em diversos ministérios.

A mudança para Rua dos Andradas, 81, Centro, no segundo andar, em cima da Associação das Escolas de Samba, foi marcante para a vida de Cartola e Zica. Lá, Zica vendia comida e ele era o zelador.

Às sextas-feiras, a casa ficava repleta de amigos para beber e tocar samba.

As Rosas não falam e o Zicartola

O desdobramento desses encontros foi a inauguração do Zicartola (1963-1965), um restaurante que se tornou uma casa de samba frequentada por importantes personagens da música carioca.

Depois de passar pelos bairros de Santo Cristo e Bento Ribeiro, com ajuda e articulação de amigos, Cartola e Zica conseguiram um terreno na Rua Visconde de Niterói, na Mangueira, onde o próprio Cartola construiu sua casa.

O terreno foi doado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro a Cartola pela sua contribuição à música e à cultura brasileiras.

Mesmo sendo reconhecido como um mito vivo da música brasileira, tido suas composições gravadas por intérpretes famosos, apenas em 1974, com mais de sessenta anos, Cartola gravou seu primeiro LP individual, com o qual recebeu vários prêmios e passou a fazer shows em todo o país.

O segundo disco veio em 1976 e com ele o grande sucesso da música As rosas não falam:

Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão enfim

Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar para mim

Queixo-me às rosas, mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai…

Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhar os meus sonhos
por fim

Depois de quase trinta anos sem participar dos desfiles da escola de samba que fundou, o agora poeta das rosas desfilou na comissão de frente da Mangueira em 1977. Neste mesmo ano, gravou o terceiro disco.

O reconhecimento havia chegado.

Era sucesso de crítica.

Mas a Mangueira não era mais a mesma.

Ele precisava de mais tranquilidade para compor.

No ano em que completou setenta anos, comprou uma casa com o dinheiro ganho com a música e mudou-se para Jacarepaguá — apesar de anos antes ter dito que nunca sairia do morro.

Mudou-se fisicamente, seu espírito continuou na Mangueira.

Neste mesmo ano, teve seu primeiro show individual: Acontece.

Seu septuagésimo aniversário foi celebrado com serenata, missas e homenagens.

As Rosas não falam – o quarto e último LP

O quarto e último LP veio em 1979, quando sua prosperidade econômica aumentava e sua saúde piorava.

Diferente do tempo de mocidade, Cartola estava sempre preocupado com o futuro de Zica e dos seus.

Um câncer descoberto dois anos antes, já operado, mas não tratado, reincidiu.

Precisou de nova operação.

Fez o tratamento indicado pelos médicos, mas sofreu com os efeitos colaterais.

Mesmo adoentado, gravou pela última vez com Alcione, em 1980. Cartola morreu em 30 de novembro de 1980, aos setenta e dois anos.

Sua poesia e seu samba não acabaram com sua morte.

Suas composições continuaram e continuam a ser cantadas e regravadas.

Em 2001, foi criado, na Mangueira, o Centro Cultural Cartola que preserva sua memória e seu legado e que o tem como um exemplo a ser seguido devido “sua história de luta, de superação de dificuldades e de inserção ativa do indivíduo na sociedade através da produção cultural”. (CENTRO CULTURAL CARTOLA).

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
Pesquisadora-Historiadora-Comissão estadual da verdade da escravidão negra – CTSPN/UNEGRO


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Claudia vitalino

UNEGRO-União de Negras e Negros Pela Igualdade -Pesquisadora-historiadora CEVENB RJ- Comissão estadual da Verdade da Escravidão Negra do Estado do Rio de Janeiro Comissão Estadual Pequena Africa. Email: claudiamzvittalino@hotmail.com / vitalinoclaudia59@gmail.com

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