A Experiência é no Boneco
A Experiência é no Boneco
A diferença entre a teoria e a prática
Em primeiro lugar, existe uma frase que ficou guardada para sempre em minha memória.
Há quase três décadas atrás, estávamos eu, Carlos Hollanda e Paulo Duboc jantando num restaurante em Botafogo.
O tema? Sem dúvida, Astrologia.
O Duboc citava o mimimi de uma cliente pelo que ele considerava uma tolice. Eu e Carlos discordávamos e dizíamos que a pessoa sentia aquilo como sendo algo importante embora não fosse para ele. E arrematei: para nós pode até não ser, porém, para ela, decerto é importante.
Ele ficou quieto, olhou para nós e inesperadamente, falou: Vocês estão certos. A EXPERIÊNCIA É NO BONECO.
Essa frase ficou gravada em mim de tal maneira, que fosse qual fosse o tema que o cliente me trouxesse, mesmo que eu considerasse tolo, sua lembrança me colocava em meu devido lugar. A experiência é no boneco.
Com efeito, meu olhar mudava sobre a questão, assim como a minha escuta.
Não podemos avaliar a experiência do outro baseado em livros.
Existe a experiência emocional do outro, que só a ele pertence
Ainda existe um agravante: somos leitores de símbolos e eles, por outro lado, não possuem significados idênticos para todos. Ou não seriam símbolos.
Analogamente, um médico não pode afirmar a um paciente que ele não pode estar sentindo dor porque fez uma cirurgia simples.
Por mais simples que o médico possa considerar a cirurgia ¨simples¨, nem todos têm a mesma resistência à dor.
Em segundo lugar, em outras circunstâncias, mesmo não sendo dita a mesma frase, o tema desembocava no mesmo ponto
Essa experiência também deixou marcas em mim.
A Dra Nise da Silveira costumava, eventualmente, levar alguns internos do Pedro II para darem aula sobre esquizofrenia.
Isso nas célebres reuniões das quarta-feiras em seu apartamento na Marquês de Abrantes.
Numa dessas reuniões em que ela levou um interno para dar aula e discorrer sobre os sintomas da esquizofrenia, começa uma discussão entre um psiquiatra frequentador do grupo com o interno, discordando do que fora dito.
A certa altura da discussão, ela vira-se para o psiquiatra em pauta e diz: Dr X, não sabia que o senhor era psicótico.
Ele prontamente responde que decerto não era.
Ela então lança a pergunta: sua experiência então é baseada nos livros?
Ele concorda e ela contra-argumenta.
Diante da sua resposta, portanto, só lhe resta ficar calado. Hoje, com toda a certeza, o senhor não é professor.
Sabedora que sou da sua inteligência, seguramente não vai desperdiçar a aula com um Mestre no assunto.
Todos se calaram. Com certeza, aqui também poderíamos escutá-la dizendo: A experiência é no boneco. Não seria fora de contexto.
De fato ela é!
Não temos jamais como saber a intensidade, a dimensão da vivência subjetiva do outro.
Experiências com as quais temos facilidade em lidar, podem ser demolidoras para o outro. O BONECO. E só aquele que está buscando ajuda seja através de qualquer tipo de consulta, é o verdadeiro conhecedor de sua própria experiência subjetiva.
Através, por exemplo, de um mapa astrológico, podemos medir se a pessoa é mais ou se é menos sensível do que outra. Ainda assim, só ela sabe a dor de sua alma e, portanto, a nós só cabe darmos acolhimento e respeitarmos o seu relato.
Com carinho e com amor.
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