Reforma tributária ou ajuda direta: entenda porque os ricos possuem o dever de ajudar aos mais pobres.

Reforma tributária ou ajuda direta

Foi uma das cenas mais comoventes que presenciei em minha vida. Uma pena não ter filmado: netos de ex escravos, remanescentes de Quilombos  em Alcântara, no Maranhão, carregando pedras… felizes… com a esperança estampada em seus rostos, motivada pela promessa de trabalho, como garis na Prefeitura. Eram jovens, quase crianças…alguns já tinham sido presos.
O bairro que moravam, chamado Buraco Fundo – justamente por ser um vale enorme no meio da cidade – abriga até hoje, centenas de famílias que foram retiradas de seus lugares, há mais de 30 anos. Foram 62 mil dos 85 mil hectares identificados como pertencentes ao território tradicional, desapropriadas pelo Governo do Estado do Maranhão para a construção do Centro de Lançamento de Alcântara, da Força Aérea Brasileira (FAB), onde o governo federal desenvolve o programa aeroespacial com foguetes.
Mesmo sendo deslocados para agrovilas, as populações, acostumadas com o sistema de coletas e pesca, não se adaptou em ficar longe do mar. Viviam como os indígenas em suas aldeias, de maneira tranquila e saudável, até ter esta mudança imprevista. Nem mesmo foram consultados.
Muitas famílias então, se deslocaram para a cidadezinha de Alcântara para procurarem emprego. Porém, não sendo possível atender a demanda, os jovens ficaram sem trabalho e muitos sem estudos, pois abalados com as mudanças e já com filhos para criar, foram forçados a arrumar outras opções. Uma delas, a venda de drogas.
Porém, quando um candidato a prefeito encostou o caminhão naquele bairro humilde, com casinhas de pau a pique, oferecendo diária para quem carregasse as pedras, o  alvoroço foi  geral. Tanto, que ao passar,  me surpreendi. Todos se desentocaram de suas casas e animados, tiveram a promessa de trabalho. Talvez, já se imaginassem com o uniforme laranja de gari e o salário no final do mês.
Doce ilusão…depois das eleições, nada aconteceu. E eles voltaram para o submundo das drogas e da desesperança. Outros, foram para cadeia. Cheguei a conhecer um, que saindo, tentou mudar de vida. Era traficante.  Uma amiga lhe deu trabalho – foram três dias roçando o pasto de sua propriedade. Ganhou dinheiro…comeu por cinco dias. No sexto, não foi jogar futebol. Perguntei ao seu irmão, o por que ele não estava entre os que jogavam…e ele me respondeu que estava deitado na rede, com fome. Não queria voltar para o crime. Depois da amiga, ninguém mais lhe deu trabalho.
O irmão, com pena, entrou mar adentro e ficou no sol por quase todo o dia…conseguiu alguns camarões. Coletou dois cocos e dividiu com o irmão. A mãe, tinha duas filhas com problemas mentais e outra, autista. Ficou viúva e tomaram tudo o que ela tinha…menos os oito filhos. Este é um dos casos entre milhares que existem Brasil afora, de abandono, de exploração, de descaso.
Sempre gostei de comparar uma nação com uma família, pois todo conglomerado humano sempre começou com uma, não importa o modelo. Vamos considerar que pela maldade do homem, estas mesmas famílias escravizaram outras para se enriquecerem e para que fossem servidas por elas.
No Brasil, brancos escravizaram negros e índios, não porque fossem superiores, mas, por que tinham armas mais sofisticadas e alimentos estocados.
Com o sistema agrícola, poderiam aumentar territórios e guardarem alimentos para tempos de guerras, bem diferente do sistema de coleta dos indígenas e africanos, os quais por morarem em lugares quentes, tinham frutas, peixes e caças diariamente. Mas, tinham que sair por um ou mais dia para conseguirem.
Pegos de surpresa, com fome e sem terra, poucos conseguiam sobreviver.
Mesmo com esta realidade histórica de exploração entre os povos, muitas pessoas hoje, ainda podem alegar, que toda riqueza e poder do ser humano, é proveniente da meritocracia. Mas, se vivenciarem a realidade, verão que não é bem assim. Não mesmo.
Coloque um homem jovem, mulato, com uma ou duas mudas de roupas e o despeça com cem reais no bolso e o mande para rua. No primeiro e no segundo dia, ele procurará emprego. Se tiver sorte conseguirá alguma coisa. Mas, se não tiver, já terá comido metade do que ganhou. Ao final de três dias, estará um pouco desarrumado, com roupas sujas e se não tiver abrigo ou onde tomar banho já estará assustando algumas pessoas.
Ao final de uma semana será um homem acabado, com fome, se tornando um pedinte. Talvez depois de negarem o que comer por uns três dias, ele se torne um ladrão.

Assim sendo, muitos negros aos serem despedidos das fazendas onde trabalhavam, no tempo da abolição da escravatura, morreram de fome. Alguns mais espertos que outros, os que sabiam caçar e pescar, se escondiam em quilombos, ou seja, terras distantes onde os escravos fugiam e o branco não poderia alcançar.
Sobreviviam com água pura dos rios e animais silvestres para comer.
Do mesmo modo, podemos dizer sobre os indígenas que moram nas florestas…estes, ainda possuem em seus habitats, a caça, o peixe, as frutas silvestres.
Porém, se forem para as cidades com pouca instrução e sem costume de viverem sob ordens, será muito difícil a adaptação.
Fato é, que se esquecermos desta tendência da família humana em escravizar uns aos outros, poderemos ser até condizentes com o que diz o artigo 5º da Constituição:
“ Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”.
Porém, quando algum governo conseguiu cumprir esta parte da Constituição? O governo civil conseguiu? O governo militar conseguiu?
Claro que não. Então vamos pensar sob a ótica religiosa, já que hoje está sendo levada como bandeira, de quem disputa o voto evangélico. A retórica é simples e populista: a maioria, se diz cristão de direita contra o resto do país. Mas, em se tratando de um Criador, não sabemos que Deus é esse, que divide o mundo entre capitalistas e comunistas, só aceitando a primeira metade.
Desta forma, quem for capitalista é de Deus e quem for comunista é do demônio? Quem concorda com o atual presidente está sob as graças dos céus e quem não concorda é esquerdalha da pior espécie?
Quem é que pode julgar se Deus é ou  não, de todos?
Porém, se um presidente que se diz cristão, semeia ódio entre os povos, tratando aqueles que não pensam igual a ele como seus inimigos, então ele desrespeita o livre arbítrio de cada um. Isto porque, mesmo entre capitalistas, o egoísmo, a luxúria existe, e entre comunistas, a avidez do lucro, para sustentar a população faminta, que espalha medo e terror também existe.
O mal existe de ambos os lados. Como o bem também.
Imagine por exemplo, se Trump fosse responder ao presidente da Coréia do Norte, com a mesma agressividade por todo o tempo, como ficaria o mundo? Mas, ao contrário, ele foi estratégico e conseguiu através da persuasão, dar as mãos aquele que antes era tido como um inimigo e comunista.
O mesmo Trump fez com a Rússia, e seria muito bom se pudesse ser amável também com o presidente do Irã. Não se combate a agressividade dos homens de forma direta se quiser evitar uma guerra.
Portanto, melhor ainda, se,  o presidente dos EUA ao invés de gastar bilhões de dólares com muros, para impedir o fluxo de imigrantes,  usasse o dinheiro para fazer   acordos com os países vizinhos,  para que estes,  recebam  os refugiados e os ajudem  a reiniciarem uma nova vida. Com o dinheiro do muro, através de suas embaixadas  ou mesmo do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), poderia ajudar a construir abrigos, moradias, escolas, creches, enfim, estendendo os braços da solidariedade e amizade mundo afora.
Por meio de parcerias com centenas de organizações não governamentais, o ACNUR presta assistência e proteção a mais de 67 milhões de homens, mulheres e crianças. E muitos ricos estão empenhados nisso. A agencia se mantém por meio de contribuições voluntárias de países, além de doações arrecadadas junto ao setor privado e a doadores individuais. O orçamento anual ultrapassa os US$ 7,5 bilhões.

Assim sendo, poderíamos no Brasil, ter algo semelhante para ajudar todos aqueles que hoje moram em lugares de risco e se encontram em situação de miséria. Poderia haver a criação de novas cidades ou acampamentos que pudessem tirar as pessoas das favelas e grandes centros, com organização e um recomeço de vida.
Mais do que segurança publica e presídios, o país precisa dar condições as pessoas para que possam não só sobreviver, mas viver.
Então existem casos em que a melhor segurança publica e aceno de paz, é a solução amigável. Com ajudas, talvez se possa conter a violência das populações.

Se os ricos do mundo, ajudassem a construir hospitais, casas, escolas, políticas publicas de controle de natalidade, agricultura familiar, reflorestamentos na Terra, o dinheiro que eles possuem em bunkers ou em paraísos fiscais, não ficariam estagnados.
Porém, com a indústria da guerra funcionando a todo o vapor, com a exploração das minas de uranio e nióbio, com a queima de carvão, logo a Terra não suportará o super aquecimento global e entrará em colapso climático nunca visto. É hora de pisar no freio no mundo econômico e distribuir riquezas excessivas para ajudar as populações carentes, inclusive para controlar a natalidade e replantar florestas.
Absurdo? Tudo bem, o rico pode dizer que “batalhou a vida inteira para estar onde está… ralou sozinho, ninguém ajudou. Trabalhou duro, sempre pagou suas contas, passou aperto…. e , agora vem alguém dizendo em dar uma porcentagem, tipo 40 % de impostos, para fazer obras sociais para vagabundos? Para pagar Bolsa família para mulher ficar “parindo” em casa sem fazer nada?”
Sim, o rico, por muito trabalho que teve, pelo foco e disciplina, por noites mal dormidas, por mãos calejadas, hoje tem muitas terras, muitos bens, muitas fazendas. Tem empresas, tem Bancos, tem casas, tem condomínios inteiros. Não tem tempo pra pensar em pobre vagabundo que nunca quis estudar.
Porém, longe de julgar este e aquele,  é importante dizer que muitas vezes, aquele pobre que trabalhou no sertão a vida toda, nunca teve nada por causa da grande seca que por anos assolou seu Estado. Ou a Dona Maria, que ficou viúva cedo, com duas filhas paraplégicas para criar, uma delas autista, como contei. Enfim… cada ser humano tem uma estória de vida, que nem sempre pode se equiparar a daqueles que por trabalho ou inteligência, ficaram ricos.
Mas, aqueles que conseguiram uma posição melhor na vida, devem ajudar os mais os mais necessitados, justamente porque ele tem a abundancia em relação aos demais. E por mais que o outro seja um drogado, um vagabundo, um irresponsável, há alguma coisa que pode lhe devolver a saúde e o desejo de fazer algo.

As vezes fico pensando, se o Exército ou a Marinha por exemplo, abrissem uma oportunidade a todos estes jovens de favelas a partir dos 12 anos, para dar um supletivo a eles, dar trabalho, ensino profissionalizante, fazendo com que trabalhem para o país, fazendo estradas, portos, etc.. em troca de cama, comida e ensino e um salário simbólico, não seria maravilhoso?
Seria como um “golpe” contra o crime, ou seja, tirar a própria ferramenta das mãos do crime, para lutarem contra ele. Tirariam das ruas, jovens até os 22 anos por exemplo, e dariam  fardas,  escolas, alimentação, música, enfim… ensinando princípios. Depois de formados, escolheriam o caminho a seguir.  Sairiam com algum curso técnico. Seria o maior investimento que o Brasil faria em toda a sua estória: tirar os jovens das mãos do tráfico e os encaminhar, ano a ano para uma vida melhor. Paralelo a isso, um programa de planejamento familiar, acabaria por sufocar a miséria.
Se os ricos investissem na própria sociedade, principalmente resgatando os netos e bisnetos de ex-escravos que sem terras e sem condições nunca conseguiram se levantar, este mesmo rico, terá como recompensa a gratidão demonstrada pelo resultado das suas ações por onde andar.
Se os Bancos, por exemplo, ajudassem com empréstimos a fundo perdido ou a juros baixos, com R$ 20.000,00 a R$ 30.000,00 reais, a população mais pobre, e esta recebesse orientações  para abrirem seus pequenos negócios, logo a sociedade  multiplicaria sua abundancia, salvando até os próprios Bancos de falirem  De outro modo, poderão afundar.
Que bom seria, não se sentir tão  mal em seu carro de luxo, enquanto mulheres pedem nas esquinas, esmolas para alimentar os filhos!
E, tudo por que, não há fluxo. Há dinheiro retido. Se não houver fluxo, a sociedade gangrena como já vem acontecendo. Ela apodrece. Haverá grande escuridão moral, pois não se pode matar a própria população fazendo uma guerra dentro do próprio território, como está acontecendo e como vem acontecendo em vários países do hemisfério sul.
Se os ricos tiveram o merecimento, a inteligência e o esforço para fazer fortunas, que possam ser como Zaqueu, ou como aquele irmão maior e bondoso que ampara e compreende a necessidade do outro.
Se tenho vinte filhos, mas, somente quatro possuem metade da fortuna de todos juntos – e os outros dezesseis estivessem em situação ruim, quase de miséria, eu, como mãe aconselharia que cada um, desse ao menos 10% de suas fortunas para construírem lugares decentes para seus irmãos morarem: casas simples, abrigos, lugares para hortas comunitárias, para um “viver” decente.
Daria terras, sementes, ferramentas para que se ocupassem na agricultura, creches, educação para seus filhos. Faria programa de laqueaduras para as mulheres e vasectomia para os homens, até que todos se recuperassem. Tentariam manter as famílias ocupadas, com esperança, fazendo arte e aprendendo música, com saúde preventiva e espiritualidade. Enfim, princípios.
Aí sim, teríamos a lei do retorno, da ação e reação. Não veríamos ninguém sofrer . Todos estariam bem. Aos infratores, ao menos poderia se dar uma oportunidade de viver na legalidade, dando chances para obterem uma nova vida, com dignidade.

Os ricos, aqueles que possuem mais de três milhões de reais, poderiam se unir para protegerem a Amazônia, poderiam investir em ciência, em tecnologias e principalmente em seres humanos. Por que não empreendem em pesquisas farmacêuticas, em patentes de remédios fitoterápicos para o mundo, em turismo ecológico?
Conforme todas as religiões existentes no planeta, a quem muito foi dado, muito será exigido. Se alguém por merecimento ou por sorte conseguiu atingir o arcano da abundancia, é porque tem também uma responsabilidade social a nível universal.
Temos que ter um corredor de possibilidades que alimente todos os níveis sociais. Não deveriam reter o fluxo da abundancia. Mas, não se trata de forçar ou obrigar que se façam estas ajudas, mas de criar uma nova consciência. Pois se não houver  responsabilidade social, todos irão sucumbir: a fome é um mal, a revolta popular é um mal, os assaltos, sequestros, roubos são consequências desta falta de fluxo econômico.
Então, o que estão esperando para ajudar?

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Eliane Rocha

Venho de uma família humilde e bem brasileira. Sou uma mistura de raças. Meu avô por parte de minha mãe, era filho de indígenas da etnia  tupi guarani do Vale do Paraíba e me ensinou valores como dignidade, amor à natureza e às pessoas humildes. Alto, moreno, era militar e foi o homem mais incrível que conheci. Fui muito apegada a ele e, ele a mim. Se casou com uma italiana sorridente que gostava de contar estórias. Segundo ela, descendíamos de uma família proveniente da Áustria e assegurava que tinha certa realeza no meio. Ficava toda boba por ela me dizer...mas,não sabia se era verdade ou apenas imaginação. Meu pai, era filho de espanhóis. Meu avô com sobrenome judeu e minha avó, um sobrenome bonito: Jordão. Vieram da Europa ainda jovens, eram aventureiros. Vieram sem nada, talvez fugindo da primeira guerra mundial. Começaram  a vida no Brasil costurando colchões de palha e fabricando móveis artesanais. Lembro quando eu passeava com eles, entre sombras e sóis, ao entardecer, por caminhos cobertos de folhas e cidreiras. Comecei a desenhar e escrever bem cedo, aos oito anos, mas, foi aos quinze, que tive minha primeira coluna em um jornal de minha cidade. Sempre no meio da comunicação, continuei a escrever em jornais de outros Estados. Também fiz teatro  e  alguns trabalhos em emissoras de TV. Na televisão, me marcou muito, ter trabalhado com o jornalista Ferreira Netto, o qual me ensinou muitas lições. Me formei na UNISUL, em cinema e produção multimidia. Fiz parte da Antologia Mulheres da Floresta, da Rede de Escritoras Brasileiras, de onde surgiu dois documentários, feitos apenas como uma hand cam: um com os povos kaxinawás - huni kuins - e outro com os povos nukinis, na Serra do Divisor. Vivi na Amazônia nos meus últimos vinte e cinco anos, fazendo entre outras coisas, trabalhos voluntários como socorrista e técnica de enfermagem entre os povos ribeirinhos. ​

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