O que a abolição não aboliu?

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Em 2018 o Brasil comemora os 130 anos do fim da escravização: O que a abolição não aboliu?

“O Brasil era o último país da América a acabar com a escravidão. Ao longo de mais de três séculos, foi o maior destino de tráfico de africanos no mundo, quase cinco milhões de pessoas. Grande parte dos descendentes daqueles que chegaram também fora escravizada”.
A escravidão (denominada também de escravismo, escravagismo ou escravatura) é a prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro designado por escravo, imposta por meio da força.
Em algumas sociedades, desde os tempos mais remotos, os escravos eram legalmente definidos como uma mercadoria ou como despojos de guerra.
Os preços variavam conforme as condições físicas, habilidades profissionais, idade, procedência e destino.

História no mundo

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Há diversas ocorrências de escravatura sob diferentes formas ao longo da história, praticada por civilizações distintas.
No geral, a forma mais primária de escravatura se deu na medida em que povos com interesses divergentes guerreavam, resultando no acúmulo de prisioneiros de guerra.
Apesar de, na Idade Antiga, ter havido comércio de escravos, não era necessariamente esse o fim reservado a esse tipo de espólio de guerra.
Vale destacar que algumas culturas com um forte senso patriarcal reservavam, à mulher, uma hierarquia social semelhante à do escravo, negando-lhe direitos básicos que constituiriam a noção de cidadão.
A escravidão foi praticada por muitos povos, em diferentes regiões, desde as épocas mais antigas.
Eram feitos escravos em geral, os prisioneiros de guerra e pessoas com dívidas, mas posteriormente destacou-se a escravidão de negros.
Na idade Moderna, sobretudo a partir da descoberta da América, houve um florescimento da escravidão.
Desenvolvendo-se então um cruel e lucrativo comércio de homens, mulheres e crianças entre a África e as Américas.
A escravidão passou a ser justificada por razões morais e religiosas e baseada na crença da suposta superioridade racial e cultural dos europeus.

O que a abolição não aboliu?- África

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Chama-se de tráfico negreiro o transporte forçado de africanos para as Américas como escravos, durante o período colonialista. o comércio de escravos que se estabeleceu no Atlântico entre 1450 e 1900 contabilizou a venda de mais de 11 313 000 indivíduos .

O que a abolição não aboliu? – Brasil

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A mais antiga forma de escravidão no Brasil foi dos “gentios da terra” ou “negros da terra”, os índios.
A escravização de índios foi proibida pelo Marquês de Pombal. Eram considerados pouco aptos ao trabalho.[carece de fontes] Os primeiros escravos negros chegaram ao Brasil entre 1539 e 1542, na Capitania de Pernambuco, primeira parte da colônia onde a cultura canavieira desenvolveu-se efetivamente. Foi uma tentativa de solução à “falta de braços para a lavoura”, como se dizia então.[27] Os principais portos de desembarque de cativos africanos foram, entre os séculos XVI e XVII, os do Recife e de Salvador, e entre os séculos XVIII e XIX, os do Rio de Janeiro e de Salvador — de onde uma parte seguiu para as Minas Gerais e para as plantações de café do Vale do Paraíba.
A distância entre os portos de embarque (na África) e desembarque (no Brasil) era um fator determinante.
Se liga : Não existem registros precisos dos primeiros escravos negros que chegaram ao Brasil. A tese mais aceita é a de que em 1538, Jorge Lopes Bixorda, arrendatário de pau-brasil, teria traficado para a Bahia os primeiros escravos africanos
Bem agora depois deste resumo vamos ao dialogo

A longa permanência do negro no Brasil acabou por abrasileirá-lo

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De um lado, o africano se tornou ladino e tornou seus filhos crioulos e mestiços de várias espécies: mulato, pardo, cabra, caboclo. A crioulização e a mestiçagem são temas inevitáveis da história do negro no Brasil.
De outro lado, raros são os aspectos de nossa cultura que não trazem a marca da cultura africana. O assunto já foi muito tratado por historiadores e antropólogos, que estudaram dos negros, a família, a língua, a religião, a música, a dança, a culinária e a arte popular em geral.
Os agora negros brasileiros, eterificaram as revoltas e rebeliões, como tacar fogo no canavial, fuga para quilombos, suicídio, infanticídio, envenenamento dos senhores de engenho, causaram prejuízo para os senhores do engenho. Existiram várias formas de enfrentar o poder do senhor”.

A crise na Europa e a migração

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O Império sofria pressões internacionais fortes para tirar da legalidade a possibilidade de se escravizar pessoas. Além disso, aumento das ideias abolicionistas e as constantes fugas e insurreições dos escravizados tornavam a escravização um negócio cada vez menos rentável

E num acordo internacional o Brasil recebeu muitos imigrantes europeus e a forma de substituição da mão de obra alijou aquela população que até então vinha trabalhando. Então o negro que era um bom escravo passou a ser um mau cidadão, alguém

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Paralela a este fato a

elite brasileira começou a se preocupar com vários aspectos, por causa da densidade demográfica brasileira majoritariamente negra. Havia um grande medo do que seria um país como o Brasil livre. Havia a experiência da revolução no Haiti, onde os negros não só se libertaram da escravidão como tomaram o poder no país e expulsaram os brancos.

Cada um no seu quadrado

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Nas esquinas, forros e escravos de mesmas etnias ou ofícios se reuniam à espera de clientes. Eram os “cantos”, agrupamentos estimulados pela administração pública, que instigava hostilidades entre os negros para evitar a associação em massa contra a elite branca.

A grande pergunta era: o que fazer? -Ninguém queria abolir ninguém. Queriam acabar com o regime escravocrata porque ele atrapalhava as pretensões capitalistas. Então, o que fazer com esses negros, praticamente 90% da população?

A elite brasileira opta por vários processos para diminuir tanto quantitativamente como também assegurar que o poder depois da abolição se mantivesse em suas mãos.
O fim da escravidão era uma possibilidade de recomeço.
Na manhã de 14 de maio de 1888: o país amanheceu “livre” da escravidão. Na tarde do dia anterior, 13 de maio, a Princesa Isabel sancionou a lei que “pôs fim” aos mais de 300 anos desse que era um processo político e econômico vigente no Brasil – o último país do ocidente que aboliu a escravidão.
A sociedade branca não queria perder seus privilégios. E tratou de reforçar todos os comportamentos que distanciassem os negros na hierarquia social e na divisão do trabalho.
Um ano depois da abolição, teorias racistas baseadas em métodos pseudocientíficos, que buscava apontar o negro como biologicamente inferior, começaram a ganhar corpo e voz como ideologias do branqueamento racial amplamente aceita no Brasil entre 1889 e 1914. Nesse sentido, embranquecer física e culturalmente o país se tornou um grande objetivo de um lugar que precisava apagar a presença negra, o que levou ao incentivo à imigração europeia para trabalhar nas lavouras, excluindo os trabalhadores negros.
Na história, ficou cristalizado que esse processo abolicionista foi uma vitória para o povo preto escravizado por tanto tempo. No entanto, segundo alguns historiadores, pesquisadores e professores negros, a realidade não foi bem assim. Por isso, o dia 13 de maio não é festejado como um dia de glória – “é um dia de luta para que os nossos direitos sejam garantidos e de combate ao racismo que ainda existe no Brasil”

“Todos saímos à rua. Todos respiravam felicidade, tudo era delírio. Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto”

, recordou cinco anos depois o escritor Machado de Assis, que participou das comemorações do fim da escravidão, no Rio.

O Negro de hoje é Fruto da Abolição não concluída
A Lei Áurea é apresentada como grandeza da nação, mas a realidade social dos negros depois dessa lei fica desconhecida. O racismo está presente em nossa sociedade.

O discurso abolicionista tem um conteúdo paternalista: os negros eram considerados como grandes crianças, ainda incapazes de discernir seus direitos e deveres na sociedade, por isso os abolicionistas os libertaram. Então a educação fica dominada pelo eurocentrismo. E esse processo tem como resultado a marginalização de um povo, transformado em inimigo, hostilizado pela classe dominante.

Processo de miscigenação: um processo de desafricanização. A qualquer denúncia contra um negro, ele era colocado em um navio e levado de volta à África. Uma acusação já era suficiente para devolver o negro à África, com o Estado pagando a viagem.

O resultado disso é que o Brasil passa a ser um país com profundas desigualdades socioeconômicas, passa a ser um país bastante violento

A maioria da população negra permanece morando nas favelas, trabalhando nas casas como domésticos, fora das universidades, do Parlamento, do Executivo e dos primeiros escalões das áreas pública e privada, a não ser com raras exceções. É esse preconceito velado que queremos eliminar.
O silêncio do preconceito choca, dói… e muito. Aos poucos esse silêncio está sendo quebrado por um tímido debate em torno do tema.
A principal luta hoje e sobre a qual precisamos começar a compreendê-la é a desigualdade em espaços de poder e decisão. Temos consenso em muitas agendas, o movimento negro tem uma grande unidade em sua pauta política.
Talvez a sociedade que sonhamos, livre de preconceitos e de qualquer tipo de discriminação seja apenas um sonho, mas já provamos que somos persistentes, sobreviventes. Queremos continuar sonhando, pois, como dizia Raul Seixas: “Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto, é realidade.
Um afro abraço.
Claudia Vitalino
UNEGRO-União de Negras e Negros Pela Igualdade -Pesquisadora-historiadora
CEVENB RJ- Comissão estadual da Verdade da Escravidão Negra do Estado do Rio de Janeiro
Comissão Estadual Pequena Africa.
Fonte: BARROS, José D’Assunção Barros. A Construção Social da Cor. Petrópolis: Editora Vozes, 2009. ISBN /FLORENTINO, Manolo. Ensaios sobre escravidão. Minas Gerais: UFMG, 2003. ISBN /MELTZER, Milton. História ilustrada da escravidão. São Paulo: Ediouro, 2004. ISBN /A. J. Avelãs Nunes. Os Sistemas Económicos, Génese e Evolução do Capitalismo. Coimbra: 2006.
abolição,entretanto,ademais,afinal,aliás,contudo,portanto,porquanto,analogaente



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Claudia vitalino

UNEGRO-União de Negras e Negros Pela Igualdade -Pesquisadora-historiadora CEVENB RJ- Comissão estadual da Verdade da Escravidão Negra do Estado do Rio de Janeiro Comissão Estadual Pequena Africa. Email: claudiamzvittalino@hotmail.com / vitalinoclaudia59@gmail.com

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