Daime, Ayahuasca: a bebida sagrada da Amazônia.

 

Longe de ser considerada uma representante de qualquer  Instituição ou Centro espiritualista, mas, sendo participante e me considerando filha de um mesmo Deus, vou compartilhar um estudo que fiz no decorrer de algum tempo, onde busquei respostas não em mim, mas, no espírito de sabedoria, que habita no coração de cada um de nós.

Eu mesma, pouco sei a não ser em breves insigths que me ajudam a discernir certas questões.

Há dentro das florestas amazônicas uma espécie de ”vinho das almas”, que é conhecido por vários nomes.

Dentre eles, ayahuasca ou Daime, que vem sendo procurado por pessoas de todo o mundo, pelas curas milagrosas e renascimentos espirituais reconhecidos por religiosos e médicos renomados.

Este chá, vinho ou bebida sagrada, que para mim é um potente “consolador dos aflitos” e “remédio das almas”, é um veículo de cura profunda onde o ser humano se reconecta com o divino.

Coincidência ou não, há uma estória entre algumas tribos indígenas dos Andes e Amazônia brasileira, que conta que viemos de uma estrela muito distante, onde alguns tripulantes foram deixados aqui.

Conta esta estória, que para não perdermos o contato com a origem do lugar de onde viemos, os tripulantes plantaram um cipó, onde seu sumo despertaria a lembrança de quem éramos, enfim de nossas origens.

Superstições ou verdades a parte, o Daime vem promovendo muitas curas através de séculos,  se administrado por bons guias e na dosagem certa, na hora certa, no lugar certo.

Como todo  remédio, ele tem curado almas.

Como todo remédio também possui indicações e contra indicações, um jeito certo de tomar.

Para cada pessoa, uma dosagem diferente. É preciso ser sensível, é preciso diagnosticar. Há regras.

Umas das regras são os rituais.

No caminho a prosseguir, ou seja, na viagem de cura como em um ”Dharma” a pessoa deve estar bem acompanhada e bem conduzida por guias, sejam elas pessoas físicas, sejam elas seres espirituais, aonde o caminho vai sendo apontado pelas palavras dos hinos.

Embora seja uma doutrina eclética, aberta a vários seguimentos religiosos, sua estrutura é baseada em conceitos cristãos.

Entre os povos indígenas, o caminho tortuoso da jiboia,  leva as pessoas ao caminho da luz, ao caminho do criador da natureza através dos seres espirituais divinos,  habitantes das matas, o mesmo Deus.

Na linguagem herdada pela civilização europeia mesclada com as crenças africanas e indígenas, os mesmos caminhos são protegidos por santos e seres espirituais, incluindo encantados, que compõe as simbologias cristãs em seus mais altos valores.

O mestre de todas elas no caso é Jesus Cristo, hoje reconhecido e cultuado também a alguns rituais indígenas.

São muitas as perguntas sobre este remédio das almas, e muitas delas ainda hoje merecem ser estudadas, pois suas respostas fazem parte de nossa evolução.

E uma dessas perguntas, há muito tempo, me foi feita por uma pessoa  iniciante.

Ela me perguntou sobre as palavras do mestre Irineu, mentor espiritual da doutrina do Daime, que em um de seus hinos (caminho doutrinário) ele diz assim:

“Saindo desta linha não  espere ser chamado…”.

“O que ele queria dizer com isso”, me perguntou ela, “se comparada às palavras de Jesus sobre as ovelhas, parecem ser contraditórias”?

A pergunta dela realmente era intrigante.

E, ao procurar por respostas em relação a “pastores e ovelhas” e rogando um discernimento espiritual, me deparei com a seguinte parábola, desta vez de São Zacarias (pai de São João Batista), que dizia assim:

“E o Senhor disse-me: Toma ainda para ti o instrumento de um pastor insensato.

Porque, eis que suscitarei um pastor na terra, que não cuidará das que estão perecendo, não buscará a pequena, e não curará a ferida, nem apascentará a sã…”

Depois de me deparar com esta profecia, busquei as palavras de Jesus Cristo, sobre a ovelha perdida:

“Qual de vocês que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma, não deixa as noventa e nove no campo e vai atrás da ovelha perdida, até encontrá-la?

E quando a encontra, coloca-a alegremente sobre os ombros e vai para casa.

Ao chegar, reúne seus amigos e vizinhos e diz: ‘Alegrem-se comigo, pois encontrei minha ovelha perdida”.

“Eu lhes digo que, da mesma forma, haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não precisam arrepender-se”.

Estudando  e comparando a frase no hino do mestre Raimundo  Irineu Serra,  percebi que o seu dizer “saindo desta linha não espere ser chamado” se dá na verdade, em outro contexto.

Primeiro ele alerta, que Jesus Cristo, o amigo velho, chega sem ser chamado.

Depois, amorosamente ele aconselha que

”Quem seguir na minha linha

Segue limpo e não errado”, deixando claro que quem peca, deixe de pecar…

ou seja,  que procure ficar limpo, limpo no coração, na alma, no corpo,  na consciência, desprezando tudo pelo amor de Deus. Aí, cada um interpreta como achar melhor junto a sua consciência.

Depois de alguns versos ele continua:

“Aconselho a todo mundo

Para seguir na verdade

Saindo desta linha

Não espere ser chamado “

Ou seja, no contexto em que ele apresenta a sua linha, a frase sobre a pessoa não ser chamada, parece não pretender alcançar as  pessoas que se afastam por questões de doenças ou  aquelas que se perderam no meio do caminho, mas para as pessoas que não querem seguir no caminho correto, limpo, preferindo conscientemente, por decisão própria o caminho errado ou mesmo buscar outros caminhos que o levem a Deus.

Com este dizer, mestre Irineu não anula e nem mesmo contradiz ao apelo deixado por Zacarias e por Cristo aos pastores das ovelhas.

É certo que embora todos queiram seguir limpos e não errados, todos erram, se desviam, se não em pensamentos, em palavras e obras.

Atire a primeira pedra quem nunca pecou

E também é certo, que se por setenta e sete vezes, alguém  errar, por setenta e sete vezes pode se arrepender e pedir perdão, sendo que,  por setenta e sete poderá ser perdoada como Jesus falou.

Pois é assim mesmo que todos nós vamos aprendendo, ensinando, caindo, nos levantando no decorrer do  caminho, sem portanto desistir e almejando acertar.

Porém, não se pode fazer nada para aquele que pelo  livre arbítrio quer sair buscando outros  caminhos de Deus que são vários… há vários caminhos, há várias opções, há várias igrejas, há vários retiros, há vários meios de se chegar á Deus, inclusive a reclusão e solidão, como os monges do Tibete e do deserto.

Como as freiras contemplativas.

Ou mesmo o caminho político do herói, como Gandhi que libertou seu povo.

Faz parte do livre arbítrio,  a pessoa dizer que quer continuar ou não a sua busca.

Desta maneira, com a certeza que foi uma livre escolha, ela não deve ser chamada.

Mesmo se estiver no caminho errado.

Inclui-se aí, aquelas que querem ter mais experiências, até mesmo errar mais para aprender melhor com os erros.

Existe a hora certa para cada um.

Ninguém pode forçar ninguém a nada.

O caminho do erro também leva ao acerto para o buscador. Mas, para o desistente é mais difícil.

Assim aprendi  através do espírito de Deus, que esta foi a intenção das palavras do mestre Irineu Serra quando aconselhou

Mas, ele não quis dizer com isso,  que o pastor não procure a ovelha quando esta some.

Não quis dizer que o pastor não se preocupe ou não busque e a ovelha onde ela estiver para trazê-la de volta.

Caso ela estiver doente ou ferida, esmorecida, como ele vai esperar que ela volte?

Os dizeres de mestre Irineu, dentro do meu aprendizado, foram mais para aquelas pessoas  que caindo no erro, conscientemente não querem voltar a acertar, perderam a fé, desistiram. ou mesmo para as que querem buscar outras linhas.

Há porém outras que requerem muita paciência e cuidados.

O bom pastor deve mandar alguém ouvi-la ou ele mesmo procurar ouvir, saber se está bem para depois tirar suas conclusões, trazendo-a de volta.

Deve procurar ver o que está de fato ocorrendo,  para não haver enganos.

Para evitar um mau julgamento por parte dele ou dos demais.

Como um bom médico, o bom pastor deve ser como Jesus, procurar saber por que a pessoa se afastou,  qual o motivo que a feriu e ajudar a curar seus ferimentos, como ele fez com Lazaro ou com o cego de Jericó.

Nem sempre o ferimento ou doença é disciplina ou consequência de erros.

Cristo disse isso sobre o cego de Jericó. Doenças, defeitos ou acidentes,  nem sempre  são consequências de erros.

Assim o Cristo falou sobre as torres de Siloé .

Nem sempre são castigos também. Muitas vezes, como um animal ferido, a pessoa se afasta para não se ferir e não ferir as demais.

Se afasta para se auto proteger e poupar as demais.

Afasta-se porque está emocionalmente machucada ou mesmo em perigo.

Afasta-se por vários motivos, inclusive emocionais ou psicológicos.

A depressão, por exemplo, afasta as pessoas e é uma dor emocional também

É muito importante saber o porquê do afastamento, pois às vezes ele faz parte da dor ou da doença que acomete a pessoa.

É importante este discernimento.

Mestre Raimundo Irineu Serra

Uma coisa é alguém dizer que quer sair da doutrina, do Centro, da congregação, do Templo, porque quer um tempo.

Outra coisa é o silencio… A pessoa pode estar ferida, ou estar passando por um problema  grave que diz respeito a muitas pessoas ao mesmo tempo.

Pode por isso estar precisando de um conselho ou ombro amigo, precisando de proteção e ajuda como Cristo sugeriu.

Seu procedimento pode ser  um alerta,  um pedido de socorro

Enfim, a responsabilidade  é grande… é necessário o zelo para todos os que nele confiam,  sem distinções ou preconceitos.

Não se pode cuidar somente das melhores e deixar as mais fracas ou feridas para trás, passando por cima.

Ao contrário. Não se deve fugir dos problemas, mas tentar saná-lo o quanto antes para não encontra-lo multiplicado depois.

Como Irineu Serra disse, “as flores são muito finas e não podem cair no chão”.

Então o mestre Irineu nunca iria aconselhar a deixar uma ovelha para trás se ela saísse ou se perdesse, mas somente deixar aquelas que conscientemente declararam não querer mais seguir, seja temporariamente ou para sempre.

Se fosse assim, ele não falaria sobre o dever de “trabalhar para os irmãos, aqueles que estão doentes”, inclusive os doentes emocionais, visitando, curando, impondo as mãos como Jesus Cristo fez, praticando.

Indo atrás das pequenas e feridas, como São Zacarias falou.

Para isto, é importante ser como o Mestre dos mestres,  que não deixa uma só de suas ovelhas.

Ele ia atrás do cego, do paralítico, do leproso, da menina que havia morrido e depois ressuscitou, impunha as mãos nos doentes, levava conforto, humildemente.

Finalmente então, pude compreender, não por meu próprio entendimento, mas pelos sopros espirituais que obtive a delicada questão que esta jovem colocou.

Parecia que ela estava adivinhando que uma irmã dela  iria surtar aos poucos, fazendo com que desaparecesse de vez  das reuniões de sua igreja.

Perguntando depois à família sobre ela, soube que entrou em depressão, não por que tinha pouca fé na religião que frequentava, mas por consequência de um sério distúrbio hormonal metabólico, causado por uma glândula.

Este distúrbio fazia com que ela tivesse dificuldade para pegar no sono, tinha excesso de fome, fazendo-a engordar, cansaço excessivo, ansiedade e por fim, depressão.

No meio que ela frequentava em sua cidade, algumas colegas de escola começaram a chama-la de gorda, outros  em seu trabalho, de preguiçosa, outros  em sua família, de sonsa,  outros com malícias a seu respeito, não sabendo eles os problemas pelo que ela vinha passando.

Lembrei-me então de um padrinho  que tive que um dia me disse,  que nem toda doença é curada no terreno espiritual.

Algumas doenças já estão tão  instaladas na matéria, que são difíceis de curar.

Neste ponto é necessária a  intervenção  de médicos, alguns remédios alopáticos e terapias complementares.

Até hoje fico grata por ter este entendimento, que me tirou do julgamento alheio ou do radicalismo em relação a remédios e doenças.

Até hoje fico grata, por ter ido atrás  da irmã desta minha amiga, para ajuda-la, pois vi que a depressão vem muitas vezes de doenças metabólicas.

A família ficou muito agradecida por meu interesse.

A menina estava saindo da depressão após uma tentativa de suicídio, voltou a falar bem, sem se atrapalhar, dormir bem, emagreceu saudavelmente e voltou a sorrir.

Tudo com remédios alopáticos, muito amor da família e sessões de psicanálise. Rezas e orações também foram feitas em sua casa, até ela ficar bem firmada.

Aprendi assim, duas grandes lições, aliás, três:

-a abertura que devemos ter para ouvir os questionamentos alheios,

-a atenção que devemos ter em relação ao afastamento de algumas pessoas de círculos que frequentam,

-o cuidado  para ouvir suas queixas se quisermos de fato ajuda-las,

pois, se não fosse o cuidado da família dela, esta jovem poderia ter se matado por uma depressão que não vinha do psicológico, mas das alterações hormonais em seu corpo.

Ana se recuperou. Isto é o que importa.

Espero que não exista em nenhum segmento religioso,  mais Anas, Robertos, Luizas, Silvanas, que acusadas de serem pessoas “surtadas” por conhecidos (como se fossem culpadas), ficaram piores pela rejeição por seus grupos.

Assim, engordam ou emagrecem, ficam doentes, esmorecidas, depressivas, ansiosas, sem que consideremos como doenças, problemas hormonais, emocionais ou psicológicos, tão sérios como qualquer outra doença.

Sem considerarmos a necessidade em lhes dar as mãos, ajudá-las  encaminha-los a médicos competentes,  mesmo que para isto peçamos ajudas financeiras, dando-lhes-lhes amor, socorrendo -as para o Bom pastor, o bom guia espiritual que tal como Cristo,  não as  deixam sozinhas, perdidas, sem socorro, por acharem  pesada sua cruz.

Assim, com a pergunta daquela iniciante, compreendi os ensinos do mestre Irineu em relação ao Cristo. O Daime é sim um remédio santo para quem tem fé e melhor ainda para quem possui o bom pastor.

Por isso, que nunca eu  possa, como pessoa distraída, negligenciar qualquer pessoa que esteja precisando de mim, seja de meu abraço, de meu ouvir, ou de minhas orações, até saber o certo o que lhes aconteceu. Portanto…

“Perdoai Senhor, pela Vossa misericórdia, as minhas distrações na oração. Pois confesso com verdade que nela estou de ordinário bem distraído.”

Sara Luz


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Eliane Rocha

Venho de uma família humilde e bem brasileira. Sou uma mistura de raças. Meu avô por parte de minha mãe, era filho de indígenas da etnia  tupi guarani do Vale do Paraíba e me ensinou valores como dignidade, amor à natureza e às pessoas humildes. Alto, moreno, era militar e foi o homem mais incrível que conheci. Fui muito apegada a ele e, ele a mim. Se casou com uma italiana sorridente que gostava de contar estórias. Segundo ela, descendíamos de uma família proveniente da Áustria e assegurava que tinha certa realeza no meio. Ficava toda boba por ela me dizer...mas,não sabia se era verdade ou apenas imaginação. Meu pai, era filho de espanhóis. Meu avô com sobrenome judeu e minha avó, um sobrenome bonito: Jordão. Vieram da Europa ainda jovens, eram aventureiros. Vieram sem nada, talvez fugindo da primeira guerra mundial. Começaram  a vida no Brasil costurando colchões de palha e fabricando móveis artesanais. Lembro quando eu passeava com eles, entre sombras e sóis, ao entardecer, por caminhos cobertos de folhas e cidreiras. Comecei a desenhar e escrever bem cedo, aos oito anos, mas, foi aos quinze, que tive minha primeira coluna em um jornal de minha cidade. Sempre no meio da comunicação, continuei a escrever em jornais de outros Estados. Também fiz teatro  e  alguns trabalhos em emissoras de TV. Na televisão, me marcou muito, ter trabalhado com o jornalista Ferreira Netto, o qual me ensinou muitas lições. Me formei na UNISUL, em cinema e produção multimidia. Fiz parte da Antologia Mulheres da Floresta, da Rede de Escritoras Brasileiras, de onde surgiu dois documentários, feitos apenas como uma hand cam: um com os povos kaxinawás - huni kuins - e outro com os povos nukinis, na Serra do Divisor. Vivi na Amazônia nos meus últimos vinte e cinco anos, fazendo entre outras coisas, trabalhos voluntários como socorrista e técnica de enfermagem entre os povos ribeirinhos. ​

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