JUNG – UM TSUNAMI CHAMADO CARL JUNG

JUNG – UM TSUNAMI CHAMADO CARL JUNG

Se Freud decepcionou profundamente a piedade religiosa de seu tempo ao afirmar que o propalado Deus das religiões não passava de uma transferência neurótica e substitutiva de um pai pessoal encarregado de punir, proteger e satisfazer as necessidades narcísicas de seus filhos caso se comportassem bem…

Desconcertantemente afirmando Que esse Deus das religiões não passava de constrangedoras formas onipotentes que persistiam em se manter atuantes na mente infantil de homens e mulheres adultos;

Se Freud produziu esse desastre de realidade que desmascarava impiedosamente os nossos medos primevos mais profundos denunciando que revestíamos nossa insegurança básica com paetês, brilhos e incontáveis adereços cuja única função seria ocultar a persistente neurose infantil de uma dependência paterna nunca resolvida

então,

eu diria que…

seu amigo mais íntimo, Carl Gustav Jung com seus estudos sobre a instabilidade da trindade produziu uma tsunami tão devastadora que nem sequer começamos a discutir a transformação da trindade em quaternidade, núcleo da reflexão de Jung.

Carl Jung não se interessou em discutir se Deus existe ou não existe. Ele entende que a própria natureza do problema, uma natureza metafísica, não pode ser objeto de uma investigação científica.

Para Jung é inútil discutir a existência ou não existência de Deus

Mas ele se interessou pelo fenômeno da crença em Deus e acredita que esse fenômeno pode sim ser objeto de investigação científica.

O ato de acreditar é real e não uma ilusão.

Estudando profundamente a tradição cristã deu-se conta da dissociação do ARQUÉTIPO DEUS.

A realidade da SOMBRA tinha sido rejeitada a uma existência autônoma e completamente independente da vontade de Deus.

Dito de outra forma: Deus não criou o mal.

Ora, essa afirmação realmente livrava Deus de embaraços pois se dizia dele que era TODO o BEM.

Sendo ele assim e não tendo ele nenhuma outra substância a não ser o bem como poderia ter criado o mal?

Mas se Deus não criou o mal um outro ser, certamente tão mal quando Deus era o bem, criou-o.

Mas essa conta não fechava porque se dizia que Deus criou TODAS AS COISAS!

Todas as coisas realmente significa todas as coisas, isto é, nada pode escapar ao ato de criação de Deus pois do contrário teríamos que reformular a conceituação de Deus e dizer: Deus criou todas as coisas boas e somente as coisas boas… mas algum insolente de língua afiada perguntaria: é o mal! Quem criou o mal?

Esse conflito interessou Jung por isso ele sugeriu que a trindade deveria se transformar numa quaternidade.

Teríamos Pai, Filho, Espírito Santo e o quarto elemento representando a Sombra dos três. Uma intolerável heresia!

Jung estava convencido de que essa atitude de cindir a SOMBRA do arquétipo de Totalidade fazia com que vivêssemos invariavelmente o mal projetado no outro e nunca como uma força constitutiva do ser humano com real potencial para destruí-lo mas também com real potencial para levá-lo a uma profundidade espiritual não só impressionante como também benigna.

“Serás julgado com a mesma severidade com que julgas o teu irmão”, é uma locução que salta da boca Santa do Rabi Yoshua para rasgar a hipocrisia dos que se achavam puros e justos.

Tal ensinamento tem uma moral da história.

E qual seria o núcleo dessa “moral”? Fácil! Tu podes ajudar o teu irmão a levantar-se mas não deves julga-lo porque não há ninguém neste mundo sem sombras.

No fim das contas é essa mesma sabedoria que Jung quer transmitir mas sugerindo um detalhe enlouquecedor para a rigidez religiosa: também Deus tem uma sombra!

Jung estava convencido de que um Deus sem sombra é a origem de toda a transformação da SOMBRA num realidade maligna.

A sombra é uma força do caos, é o caos, uma energia que tão somente segue o seu curso.

A SOMBRA é aquilo que ainda não se tornou luz portanto a sombra só adquire essa realidade maligna quando está dissociada do processo total da evolução da própria consciência.

A guerra entre religiões exibe claramente essa observação acurada de Jung.

Cada credo se acha detentor da verdade da iluminação e projeta a sombra de seu Deus sobre os adeptos de outros Deuses que, por sua vez, re-projetam as suas sombras sobre as crenças diferentes da sua criando uma cadeia do mal infinita e cada vez mais violenta!

E tudo isso é justificado em nome de um Deus bom!

http://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/2011/11/restauradores-descobrem-demonio-em-afresco-de-pintor-renascentista.html

Detalhe de afresco do pintor renascentista Giotto na Basílica de São Francisco de Assis, localizada na região central da Itália, revela, segundo restauradores, a figura de um demônio escondido entre as nuvens, declararam autoridades da Igreja Católica no último sábado (5). O perfil retratado tem um nariz curvo, um sorriso dissimulado e chifres que ficaram camuflados nas nuvens (Foto: Basilica of St Francis in Assisi/Handout/Reuters )




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José Raimundo Gomes

J. R.GOMES é psicólogo clínico no Rio de Janeiro. Tem consultório na Tijuca e na Barra. Contato: jrgomespsi@yahoo.com.br / WhatsApp: 21.98753.0356

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