Conto sufi – As cidades parte II
Conto sufi – As cidades parte II
Mas sabendo do controle e poder do rei sobre todos, pedi-lhe permissão para partir:
“Oh! Meu soberano absoluto!”, falei.
“O Senhor tem feito tanto por esse humilde servidor, e me tem dado tudo o que possuo.
Que alegre vida tenho levado sob o seu comando.
O Senhor me vestiu com ricas peles, me deu companhia para me divertir e jogos.
Não me tem proibido as bebedeiras e as apostas.
Eu saboreei todos os prazeres, e sinto que tenho recebido a minha porção.
Sabia o Senhor que eu cheguei a essa cidade como viajante?
Permita-me agora ir a esse Castelo, que vejo no meio de sua cidade. ”
O rei me respondeu, dizendo:
“Meu poder se estende também sobre esse Castelo.
Esse distrito se chama Lawwama, Auto-reprovação, mas seu povo não é o mesmo que nós vemos aqui.
E nesta arrogante cidade, nosso ídolo é o diabo.
Nem ele nem eu culpamos à ninguém pelo que faça.
Portanto, nenhum deles lamenta o que tem feito, já que vivemos em imaginação. Na cidade da Auto-reprovação, a imaginação não tem poder total.
Eles também fazem aquilo que é chamado de pecado, cometem adultério, satisfazem sua luxúria com homens e mulheres igualmente, bebem, jogam, roubam e assassinam, fazem com que circulem rumores, e difamam, como fazemos nós, mas a amiúde, vêem o que têm feito, lamentam-se e arrependem-se.”
Assim que acabei de falar com meu amo, a Habilidade, me apressei até os portais da cidade da Auto-reprovação.
Sobre os portões estava escrito:
At-Ta ibu min adh-dhanbi ka-man la adhnaba.
– “Aquele que se tenha arrependido, é como aquele que nunca cometeu pecado”.
Eu recitei a senha, mediante o arrependimento de meus pecados, e entrei na cidade.
Deu para ver que essa cidade estava consideravelmente menos apinhada pelas multidões do que a cidade da obscuridade da qual eu havia chegado.
Diria que a sua população era metade do que a da cidade que eu havia deixado.
Depois de permanecer ali por um tempo, descobri que havia um homem de conhecimento, que sabia o sagrado Corão, e expunha sobre ele.
Fui até ele, e lhe cumprimentei.
Ele me devolveu o cumprimento, me desejou a paz e as bênçãos de Alá sobre mim.
Apesar do soberano da cidade da escuridão ter-me dito que ele também reinava aqui, verifiquei isso com meu mestre, perguntando o nome de seu governante.
Me confirmou que estava sob a jurisdição de Sua Alteza, a Habilidade, embora tivesse seus próprios administradores, seus nomes eram:
Arrogância, Hipocrisia, Intolerância, Fanatismo.
Entre a população haviam muitos homens de conhecimentos, muitos deles, que aparentemente eram virtuoso, devotos, pios, retos.
Fiz amizade com esses homens, e descobri que estavam aflitos com a Arrogância, Egoísmo, Inveja, Ambição, Intolerância, e nas suas amizades, havia falsidade.
Eram hostis entre si, criando armadilhas uns aos outros.
O que posso dizer de melhor deles, é que oravam e tentavam seguir os mandamentos de Alá, isto porque temiam o castigo de Alá e o inferno, e tinham esperança de uma vida eterna e prazerosa no paraíso.
Perguntei a um deles sobre a cidade da escuridão além dos muros, e me queixei das pessoas que a habitavam.
Concordou comigo e disse, que a população dessa cidade consistia de infiéis corruptos, ávidos e assassinos.
Não tinham fé, e jamais oravam.
Disse que eram bêbados, adúlteros e pederastas.
Eram totalmente inconscientes e descuidados.
Mas que de tempos em tempos, mediante algum misterioso guia, eram conduzidos à cidade da Auto-reprovação.
Só aí então, percebiam o que tinham feito, lamentavam-se, arrependiam-se e pediam perdão.
Mas no entanto, permaneciam em sua obscura cidade.
Me disse: eles não sabiam o que estavam fazendo, de forma que, jamais lhes ocorria se lamentarem ou pedirem perdão.
Portanto, não se ajudavam entre si, e ninguém intercedia por eles.
Quando recém tinha chegado à cidade da Auto-reprovação, tinha visto que em seu centro havia mais um castelo.
Interroguei ao letrado habitante sobre o mesmo, me disse que o chamavam de Mulhima, a cidade do amor e da inspiração.
Perguntei-lhe sobre o seu governante, me disse que era chamado Agli Ma’ Ab, sua alteza a Sabedoria, conhecedor de Alá. Este rei, disse meu informante, tinha um Primeiro Ministro cujo nome era Amor.
continua
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