A Lenda da Cobra Grande
A Lenda da Cobra Grande
Essa é uma das mais conhecidas lendas do folclore amazônico.
Sem dúvida, há várias lendas sobre cobras:
Tanto a da Cobra Grande propriamente dita (boiaçu, boiçu, boiguaçu, boioçu, boiuçu, palavras de origem tupi, a significar “cobra grande”.
Essas, na verdade, não são outras que não a sucuri.
No arquipélago de Marajó, existem espécies desse réptil com mais de 10 metros de comprimento.
Existem ainda tanto a Boiúna, quanto a Boitatá e outras.
A Cobra Grande apresenta-se como enorme réptil que é capaz de virar e fazer naufragar até mesmo embarcações de considerável porte.
Ora elas comem a embarcação, ora levam os passageiros para o fundo dos rios.
A região amazônica é tão pródiga em águas quanto em lendas.
Uma delas afirma que uma gigantesca serpente habita aqueles rios, surgindo de vez em quando para virar uma embarcação. Em seguida, persegue seus ocupantes para devorá-los.
Conhecida pelos indígenas como Mãe D´água ou Mãe do Rio, a Cobra Grande sempre foi muito temida.
Suas dimensões foram aumentando na mesma proporção das estórias de terror e medo dos habitantes da região.
Portanto, algumas versões mostram a serpente arrastando crianças e adultos, após abocanhá-los enquanto banhavam-se nas margens dos rios.
Contudo, outras, apontam-na atraindo os mais curiosos para um destino cruel, que invariavelmente significa a morte por devoração.
É temida pelos ribeirinhos, sobretudo os dos grandes rios regionais.
Analogamente, a Cobra Grande apresenta uma grande variação quanto à sua origem.
Ora é um ser representativo do mal, ora é um ser encantado.
Esse ser tem a forma de um ofídio como sina, até haver quem o desencante.
Muitos relatam ainda, que pode transformar-se em imenso veleiro.
Esse veleiro aparece todo luminoso, sempre à noite, e que, ao aproximar-se dos trapiches ou de outras embarcações, contudo, desaparece misteriosamente.
Conta uma lenda que em uma certa tribo indígena da Amazônia, uma índia, grávida da Boiúna (Cobra-grande, Sucuri), deu à luz a duas crianças gêmeas.
O menino, recebeu o nome de Honorato ou Nonato, enquanto que a menina, chamada foi chamada de Maria.
Para se livrar dos filhos, a mãe jogou as duas crianças no rio.
Lá no rio ambos se criaram.
Honorato não fazia nenhum mal, entretanto, sua irmã tinha uma personalidade muito perversa.
Ela causava sérios prejuízos aos outros animais e também às pessoas.
Eram tantas sobretudo as maldades praticadas por ela que Honorato acabou por matá-la para pôr fim às suas perversidades.
Honorato, em algumas noites de luar, eventualmente, perdia o seu encanto e adquiria a forma humana transformando-se em um belo e elegante rapaz.
Concomitantemente, deixava as águas para levar uma vida normal na terra.
Para que se quebrasse o encanto de Honorato era preciso que alguém tivesse muita coragem para derramar leite na boca da enorme cobra, fazendo um ferimento na cabeça até sair sangue.
Contudo, ninguém tinha coragem de enfrentar o enorme monstro.
Todavia, um dia, um soldado de Cametá (município do Pará) conseguiu libertar Honorato do terrível encanto. A saber, deixou de ser cobra d’água para viver na terra com sua família.
Similarmente,há uma versão do Acre em que a Cobra Grande surge como a linda moça que aparece deslumbrando a todos numa festa de São João. Em seguida, transforma-se em uma gigantesca serpente que foge para o rio.
Essa versão nos remete à lenda do boto.
Em outros registros, a Cobra Grande transformava-se em barcos e veleiros.
Em várias cidades, vilas e povoados amazônicos, existe a crença de que as mesmas estão situadas sobre a morada de uma Cobra Grande! Acredita-se e que Belém foi fundada sobre a casa de enorme Cobra Grande, e daí corre a crença que, se a Cobra Grande se mexe, Belém estremece! Se a Cobra Grande resolver sair de seu lugar, Belém irá afundar! E com Belém, todos os seus habitantes…!
Segundo essa lenda, a Cobra Grande que está sob Belém tem sua cabeça sob o altar da Catedral da Sé e a cauda sob o altar da Basílica de Nazaré. Como os missionários, aqui, como em outras partes, tiveram que adaptar a religião cristã à cultura local, a fim de poderem conquistar novos crentes, podem ter personificado a “boiaçu” dos indígenas, no símbolos do mal, no demônio, e a tenham resolvido esmagar, colocando-lhe a cabeça justamente sob o altar da Catedral da Sé onde fica a imagem de Santa Maria de Belém. Por sinal muito parecido à Virgem esmagando a serpente, que era a encarnação do demônio.
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