Os Panteras Negras e o movimento racial nos EUA

Os Panteras Negras e o movimento racial nos EUA

Membro dos Panteras Negras em frente ao Memorial Lincoln em convenção do partido
Um dos grupos mais radicais na luta contra o preconceito racial nos EUA durante o século XX foi o Partido dos Panteras Negras (Black Panthers Party). Formado na década de 1960 por Huey Newton e Bobby Seale, na cidade de Oakland, na Califórnia, os Panteras Negras diferenciavam-se das ações pacifistas pregadas por Martin Luther King e do caráter religioso islâmico dado à luta dos negros por Malcom X.

Denominados inicialmente de Partido dos Panteras Negras para a Autodefesa, o grupo passou a adotar o marxismo como orientação política, buscando interligar a perspectiva da luta de classes entre burguesia e trabalhadores articulada com o contexto da luta racial nos EUA. Isso levou inclusive à reivindicação de uma indenização por parte dos capitalistas e do Estado dos EUA pelos séculos de escravidão a que os africanos estiveram submetidos.

Dessa forma, os Panteras Negras entendiam a mão de obra escrava como formadora da riqueza do principal país capitalista do século XX. Por isso, também divulgavam a necessidade de realizar a expropriação dos meios de produção dos capitalistas brancos. O contato com as posições políticas defendidas por Mao Tsé-tung em seu Livro Vermelho serviu ainda para o grupo se ver como uma vanguarda na luta do movimento negro estadunidense.

O Partido Pantera Negra para Autodefesa era o nome original do movimento revolucionário criado em Oakland, na Califórnia. O partido tinha como objetivo patrulhar os guetos negros para proteger os residentes contra a violência da polícia. O grupo assumiu uma filiação ideológica com o marxismo e propunha também que todos os negros deveriam possuir armas e de que todos eles deveriam ser isentos dos pagamentos de impostos para um país “branco”. Por conta da exploração sofrida por séculos pelos negros, desde tempos da escravidão, o partido pregava pelo pagamento de uma indenização e pela libertação de todos os negros nas cadeias. No extremo dos casos, eram ainda a favor da luta armada. O partido se tornou muito popular, passou a contar com mais de dois mil membros e exercer atividades nas principais cidades dos Estados Unidos. Ganhou fama simplesmente como Panteras Negras.

Uma das formas de ação dos Panteras Negras era o armamento das comunidades negras. Tal posicionamento era decorrente dos constantes atos de violência e brutalidade policial a que estavam submetidos cotidianamente. Por isso, a ação inicial do grupo era contra uma das principais instituições repressivas do Estado: a polícia. Inúmeros foram os casos de confrontos armados entre os Panteras Negras e as forças policiais, resultando em mortes tanto entre os militantes quanto de policiais.

Um exemplo foi o de Huey Newton que foi preso em 1967 pelo assassinato de um policial em Oakland. A prisão resultou em um movimento para sua libertação chamado por seu camarada Eldridge Cleaver. Essas medidas objetivavam também apontar o que os Panteras Negras consideravam como injustiça, pois quando eram julgados, a maioria dos jurados era formada por pessoas brancas. Frente a isso, reivindicavam que os processos contra membros da comunidade negra fossem julgados por pessoas da mesma cor de pele.

Huey Newton, um dos fundadores do Partido dos Panteras Negras
Com o passar dos anos, o grupo conseguiu projeção nacional. Ações assistenciais eram realizadas, como a criação de escolas comunitárias, distribuição gratuita de alimentação, bem como a criação de centros médicos destinados a atender a comunidade negra.

Se liga: – O objetivo do partido era também organizar as comunidades negras dos EUA para a defesa de seus próprios interesses, além de construir uma consciência própria desse setor da sociedade, o que passava ainda por uma educação de seus membros, com o objetivo de contar a história da população negra nos EUA de acordo com suas próprias perspectivas.

A radicalização das ações, o fortalecimento dos Panteras Negras, inclusive com a compra de armas, e a unidade de ação conseguida com outros grupos levaram o FBI a intensificar a perseguição ao partido. J. Edgar Hoover, chefe do FBI à época, chegou a apontar os Panteras Negras como a principal ameaça à segurança interna dos EUA.
Mas a repressão teve resultado. Ao longo das décadas de 1970 e 1980 várias prisões de membros dos Panteras Negras foram realizadas, encarcerando-os durante vários anos. Problemas internos, como disputas políticas e o uso de drogas, também contribuíram para o enfraquecimento do partido. Após a década de 1990, os Panteras Negras perderam expressão política e organizacional.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.
Pesquisadora-Historiadora-Comissão estadual da verdade da escravidão negra – CTSPN/UNEGRO/Coordenadora do grupo de pesquisa do Instituto Perola Negra

fonte: SANTOS, Ângela Maria dos & SILVA, João Bosco da(orgs.). História e Cultura Negra: Quilombos em Mato Grosso. Cuiabá: Gráfica Print Indústria e Editora ltda/SEDUC, 2009. pp. 32




Outros artigos interessantes deste mesmo autor:

Deixe seu like e siga nossa Rede Social:
0

Claudia vitalino

UNEGRO-União de Negras e Negros Pela Igualdade -Pesquisadora-historiadora CEVENB RJ- Comissão estadual da Verdade da Escravidão Negra do Estado do Rio de Janeiro Comissão Estadual Pequena Africa. Email: claudiamzvittalino@hotmail.com / vitalinoclaudia59@gmail.com

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *