O Império do mal artigo de jan 2002
O Império do mal>> Qual a origem do mal? primeiramente, seria essa a pergunta que deveríamos nos fazer.
Essa simples pergunta tem atravessado o tempo sem que se consiga respondê-la de forma clara e definitiva
Tanto filósofos, quanto teólogos, além das tradições esotéricas, e mais recentemente, a psicanálise, têm procurado, em vão a etiologia do mal no mundo.
O conjunto das proposições encontradas não formaram um todo.
Outra questão, ainda mais grave do que a primeira, eclode da tragédia americana: por que o mal é sempre o outro?
É uma dura pergunta. Requer humildade para respondê-la.
E ainda requer um pouco mais: qual a natureza dos mecanismos psicológicos defensivos que desviam a atenção do alvo interior?
Numa manobra bélica impiedosa, de uma só vez, aponta o canhão nuclear da fúria insana na direção do outro, a quem acusamos de ser o mal?
Mitos de destruição e morte e o Império do Mal
Mitos de destruição e morte não são criações do mundo moderno.
Tabuinhas de argilas encontradas na mesopotâmia (o Iraque) já registravam, milênios antes da ameaça nuclear, a impressionante imaginação da humanidade para o geo-apocalípse.
Do dilúvio babilônico, seguiu-se a inundação judaica.
Nos dois casos tenebrosos, somente o homem bom e sua família são poupados.
Era uma desesperada tentativa de erradicar o mal no mundo.
Recomeçar a partir deles. Um aion novo, com suas boas sementes.
Porém, o plano fracassou
Se tecnologicamente estamos anos luz distante de nosso passado remoto, miticamente não avançamos nem mesmo um passo.
Vejo a América determinada a caçar cada um dos terroristas.
O Império do mal na versão ocidental da Guerra Santa fundamentalista
Que alguns seguidores fanáticos do islamismo vejam os Estados Unidos como o grande Satã e, tomados por este arquétipo aterrador, empreendam uma alucinante jornada de assassínios intoleráveis, é clinicamente esperado.
Conhecemos os efeitos destas ideias messiânicas e os estragos que não cansam de produzir sistematicamente.
Tais indivíduos, não são psiquiatricamente loucos. Mas, inegavelmente, se encontram sob o efeito hipnótico de uma poderosa força mítica.
Uma visão interior do paraíso, que os aguarda logo após sua missão suicida-homicida.
Nesta bizarra equação arquetípica, destruir o inimigo de Alá é o mesmo que destruir o inimigo do bem e por extensão, erradicar o mal.
A desvantagem do mundo atual é que no passado remoto Deus se manifestava através das catástrofes naturais.
Hoje, infelizmente, a situação é outra e com essa finalidade, a mão de deus pode ser vista pilotando um Boeing 767.
Até mesmo arremessando a bomba atômica sobre o país do mal
Os mitos de destruição saltaram da acervo imaginal dos povos e se materializaram nas ações de terror secular ou messiânico.
Onde o inimigo se esconde? Nas montanhas? Num pequeno apartamento em subúrbios alemães? Em cursos aeronáuticos?
Que língua fala? Tem estranhos sobrenomes? E que religião professa? De saída, uma primeira descoberta.
O inimigo não se parece com os assustadores personagens dos filmes de ficção. Não é um extra-terrestre
A compreensível paranóia americana chegou a um grau tremendamente perigoso.
Indícios de um fundamentalismo americano começa a pulular em toda mídia.
Enquanto que, chargistas de diversos jornais tem retratado George W. Bush vestido com indumentária islâmica.
Ou ainda, fazem sair de sua boca saudações religiosas do Islã.
A atmosfera mística da declaração de guerra dos americanos do norte ao Afeganistão, além de, a seus supostos aliados, tem chamado a atenção dos especialistas.
O último pronunciamento do secretário de defesa Donald Rumsfeld dá o tom do ambiente interno na casa Branca.
Ele batizou o conflito com o impressionante nome de Justiça Infinita.
Talvez intuindo que o mal tenha a mesma propriedade emprestada à justiça
O mal existe. Por isso mesmo deve ser tratado com respeito.
A justiça está no mundo exatamente para corrigir o mal, cujo conduto mais expressivo é a ofensiva diferença econômica entre os povos.
O mal não é a privação do bem como pensavam os piedosos cristãos do passado.
Ele é uma entidade em si. Tem vida própria. Pode ser vencido, jamais destruído.
As armas para detê-lo, não são bélicas, porém de ordem espiritual.
Somente o homem que conhece o mal dentro de si mesmo e renuncia a ele, pode enfrentá-lo com as armas adequadas; ademais, derrotá-lo.
Livrai-nos do mal é um mantra de extrema sabedoria
Conquanto, isso nem sempre seja possível, porque o inimigo pode tomar a iniciativa e buscar o tenebroso encontro.
O inimigo não tem rosto e assim, restou a pergunta: a quem devemos atacar?
O mal como sombra se movimenta, engolindo vidas.
Seguramente, ele não tem pátria e tampouco território fixo.
Tanto destrói quanto dissolve-se na fumaça das tragédias que promove.
A vingança, atravessada na garganta é adiada, o que piora tudo
Invasões, e ainda, bombas ¨do bem¨ serão jogadas sobre a cabeça de populações culpadas ou inocentes. Não importa. A luta é contra o mal.
Analogamente, crianças serão mortas, mutiladas, se transforando em órfãos… uma verdadeira carnificina.
Enquanto isso, o mundo vai se tornando um lugar cada vez pior para se viver.
Olharemos uns aos outros com desconfiança.
Se o inimigo não tem feição, ele é todos os rostos de uma só vez e todas as línguas diferentes da ¨língua bem¨.
O Império do mal – A era da intolerância chega mais perto
O que é importante saber é que a luta entre o bem e o mal constitui o enigma da criação.
Não pode ser resolvido com Guerras, porquanto, morte e destruição são os alimentos do mal no mundo.
Da mesma maneira, o rancor, o ódio, a indiferença, assim como também, a arrogância, são seus nutrientes.
Ademais, mesmo quando se mata para promover o bem, se constrói o mal.
Resistir ao mal aliando-se à justiça: eis aí o simples segredo do bem.
Artigo escrito em 03 de Janeiro de 2002
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