O ÀKÀRÀJẸ E SUA HISTÓRIA:
O ÀKÀRÀJẸ E SUA HISTÓRIA>> Esta iguaria de origem africana, notadamente da etnia yorùbá, era originalmente denominada “àkàrà”, cuja definição é:
“…bolinho frito feito de pasta de feijão fradinho.” (Dicionário Yorùbá (Beniste J., Bertrand, 2012, RJ).
Sua receita foi remotamente inspirada no “falafel” árabe, inventado no Oriente Médio, feito à base de favas secas e grão de bico ralado.
O mesmo teria sido levado para a África a partir do século VII.
Enquanto no Continente africano, o àkàrà era uma comida sagrada, devotada sobretudo a Ọya.
O ÀKÀRÀJẸ E SUA HISTÓRIA – sua chegada ao Brasil
O àkàrà chegou no Brasil graças aos negros escravizados.
Possivelmente já no final do primeiro ciclo do tráfico negreiro, no século XVI, através da chegada dos oriundos tanto da Nigéria, quanto Togo, Benin, Libéria, Costa do Marfim, etc.
Entretanto, a primeira descrição etnográfica do àkàrà feita no contexto brasileiro, foi feita por Manuel Querino, no ano de 1916, em seu livro “A Arte Culinária na Bahia”,
Ele assim o descreveu: “…no início, o feijão fradinho era ralado na pedra de 50 cm de comprimento por 23 de largura, tendo cerca de 10 cm de altura.
A face plana, em vez de lisa, era ligeiramente picada por canteiro, de modo a torná-la porosa ou crespa.
Um rolo de forma cilíndrica, impelido para frente e para trás, sobre a pedra, na atitude de quem mói, triturava facilmente o milho, o feijão, o arroz.”
Já no Brasil pós diáspora, o àkàrà foi rebatizado como “akarajé”, resutando possivelmente da elisão do substantivo àkàrà (bolinho a base de feijão fradinho), com o verbo jẹ (comer), ou então, da expressão pronunciada pelas vendedoras da iguaria: “àkàrà n´jẹ!” (venha comer acará!)
O ÀKÀRÀJẸ E SUA HISTÓRIA -no Brasil adquiriu alma própria
Mais do que uma simples iguaria, o acarajé (já devidamente aportuguesado), também possui história, assim como alma e personalidades próprias.
Importantes expoentes das ciências antropológica e histórica nacional, como Luiz da Câmara Cascudo, Darcy Ribeiro e Gilberto Freire, dentre outros, reconhecem o acarajé como um relevantíssimo símbolo da resistência cultural do negro no período atroz da escravidão.
As chamadas de “escravas de ganho”, a saber, mulheres negras, sob o jugo da imposição de seus “senhores”, vendiam nas ruas tanto do Rio, como de Salvador, etc. quitutes como o acarajé.
Ademais, juntando trocos e gorjetas, conseguiram comprar suas próprias alforrias, assim como a de seus familiares e amigos.
Essas matriarcas foram construindo com trabalho, fé e tradição, a história do nosso Povo.
Tradição que é mantida até hoje, pois descendentes dessas mesmas mulheres permanecem sustentando e criando seus filhos, mantendo viva a prática secular que envolve o acarajé.
Reconhecendo a importância desta iguaria, em 2004 o Iphan tombou o acarajé como Patrimônio Nacional Imaterial.
O ÀKÀRÀJẸ E SUA HISTÓRIA As “baianas do acarajé”
Portanto, tiveram seu ofício reconhecido como profissão.
Estas mulheres são hoje guardiãs de uma tradição ancestral.
São detentoras de um saber sagrado.
São mágicas capazes de unir deuses que viveram no passado, aos homens do presente, para construir um futuro melhor.
Crédito de imagem destacada http://intlrecipesyndicate.blogspot.com/2011/09/acaraje-recipe.html
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