OMULU, O MISTERIOSO

OMULU, O MISTERIOSO

Coberto de palha, Ọmọlu mantém-se sempre em mistério.

Tanto a beleza de seus traços, quanto a grandeza de seus gestos somente a poucos é revelada.

Ọmọlu assim como Ọbalúwáiyé são cultuados no Brasil como energias de um mesmo Òrìṣà.

O primeiro mais velho e o segundo mais novo.

Mas em ambos, a marca física da superação. Ọbalúwáiyé lutou contra a Àrùn (a doença).

Foi o primeiro a vê-la de frente. Conhece sua face. Por isso consegue derrotá-la.

Ọbalúwáiyé é o guerreiro da saúde. Assim, amadureceu como Ọmọlu se tornando sábio e conhecedor das curas.

Dono do interior da terra, acolhe os mortos em seus braços, dando ao corpo um local de descanso, quando se encerra a jornada da vida. Ọmọlu é calado, circunspecto. Prudente, entende que é possível ver, sem dizer e ouvir, sem falar. Mas quando fala, faz a terra tremer.

O ritmo litúrgico que o saúda, o ọpanijẹ, traduz a personalidade enigmática deste Òrìṣà.

Acompanhando a batida cadenciada dos atabaques, Ọmọlu vai pelo mundo, atravessando continentes de dor, distribuindo a dádiva da saúde a quem fizer por merecer.

Traz na pele a marca de todas as agruras. Mas resistente e persistente, morre e revive sobrepujando da doença à rejeição, da pobreza à solidão, da ingratidão à mágoa.

Ọmọlu (O Senhor da Bondade) nunca se cansa de fazer o bem.

Ọmọlu é assim um grande médico, que cura as doenças do corpo e cicatriza as mazelas da alma.

Originário da região de Empe, no território Tapá do antigo Daomé, Ọmọlu é saudado no Candomblé em uma grande celebração de comunhão: o Olúbájẹ (O Banquete do Rei).

Nela, todos comem juntos, louvam juntos, rezam juntos, para juntos construírem um mundo melhor, com as bênçãos do Senhor da Terra.

Pisamos com os pés descalços no chão e sentimos a força de todas as possibilidades que a terra tem: o sustento, a base, a vida, o berço da morte.

Pisamos com os pés descalços no chão e sentimos a força de Ọbalúwáiyé. Atótóo! (Silêncio em Respeito a Ele!).

Rio, 25/2/16
Márcio de Jagun
(Série “ORIXÁS” – CASA DE OXUMARÊ




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Marcio Righetti

Márcio de Jagun, Babalorixá, professor de cultura e idioma ioruba na Uerj e na Uff, escritor e advogado. tel.: 99851-6304 (cel/wz) e-mail: ori@ori.net.br Facebook: Márcio de Jagun blog.ori.net.br

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